Cena III
(Os mesmos e o Divo).
O Divo (entra cantando La Donna è Mobille, seminu, atirando seios e pênis de plástico na platéia, ouvem-se vaias). Ele para a opera e canta, com a melodia de My Way:
I did it my way
Hemingway
And so I face
The final leming
(Aparece depois de fazer um bundalelê para as Garças e para o Poeta-soldado).
O Poeta-soldado: Mas que mania que você tem de me confundir com D´Annunzio e Oscar Wilde! Não quero ver bunda, não sou decadentista! Volta pro canto! Cada um no seu quadrado!
O Divo: É tudo culpa do Arrabal, aquele anão, que desceu pela privada e entupiu!
Balduína: Sujeito cafajeste!
O Poeta-soldado: Você perdeu o senso moral no palco!
O Divo: Mas isto aqui é céu ou é as Fronteiras do Pensamento? Que tribo mais estranha!
O Poeta-Soldado: É céu, mas céu racional! A razão não é invenção do Ocidente, é preciso razão para criticar a moral, isto aqui é céu moralizado, racionalizado! Céu sem burca nem chador!
Etelvina: Sei disso! Nós estávamos ontem lendo um livro proibido pelo Sarkozy.
As três: Credo! O Alcorão?
Etelvina: Não, senhor! Era El Guionista del Díos...o del Diablo?
Balduína: quem foi que trouxe isso para cá?
O Divo: Vão dizer que fui eu!
O Poeta-soldado: Livros excomungados neste ambiente de elevação! Vou denunciar ao vice-almirante Pedro! Vou abrir um inquérito policial!
Etelvina: Faça o favor! Não fique alucinado senão nós também ficamos!
Balduína: Estamos fartas desses argentinos!
Malvina: conversas de céu são que nem conversas de blog, são inocentes, mas sempre acabam em sururu!
O Divo: conversa de blog! Ah! Ah! Ah!
Malvina: Cale a boca, bundinha seca!
O Divo: Cala a boca, ô maçaneta de porta de banheiro público!
Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
terça-feira, 30 de junho de 2009
Ainda no blog do Cicero sobre a burca
Penetralia,
Não sou eu, mas você que confunde o “projeto de poder do Ocidente” com a razão. Eu, ao contrário, diferencio a razão de qualquer projeto de poder. A razão não pode se confundir com coisa nenhuma, porque ela é, em primeiro lugar, crítica, e “crítica” quer dizer “separação”. A razão – e só a razão – é o que nos permite criticar todos os projetos de poder.
É claro que as potências imperialistas gostariam de confundir os seus projetos com a razão. Mas é impossível. Tanto que a crítica mesma a esses projetos – a crítica ao imperialismo – foi feita pela razão: e só pode ser feita por ela.
Toda tentativa de reduzir a razão a uma cultura particular acaba levando a autocontradições. Foi o que aconteceu com Foucault e alguns outros filósofos contemporâneos, como demonstrei no artigo a que alude.
“Mulheres vestidas de um lindo azul”? Isso me lembra Marx, que falava de arrancar as flores que enfeitam as cadeias dos oprimidos. “Livres pela burca de serem mulheres-objetos”? Mais objeto – embrulhado – do que essas mulheres, é impossível. Logo você estará propondo introduzir a burca no Ocidente, obrigando as mulheres, para deixarem de ser mulheres-objetos, a se cobrirem da cabeça aos pés; ou, quem sabe, obrigando-as a usar máscaras?
Racista, Penetralia, é confundir as superstições e os costumes retrógrados de uma corrente religiosa qualquer com a “raça” das pessoas que são oprimidas por esses costumes, crenças e superstições: dizer, por exemplo, “Fulana é árabe, logo é certo que ela apanhe do marido”. Ou: “Fulano é árabe, logo a razão – que é ocidental – não lhe diz respeito”. Nada é mais etnocêntrico e pró-imperialista do que pensar que a razão é ocidental.
Hirsi Ali, uma mulher somali que conseguiu se libertar das superstições e dos costumes retrógrados que imperavam em sua tribo, explica que o fez porque a razão lhe mostrou que:
É errado subordinar as mulheres aos homens;
É errado executar pessoas por serem homossexuais;
É errado matar apóstatas;
É errado chicotear e apedrejar as mulheres até a morte;
É errado amputar as mãos dos ladrões;
É errado dizer que quem morre lutando pela sua religião terá o paraíso;
etc.
Concordo com ela. A Idade Média ocidental também foi terrível. Tolice é pensar que ela era menos opressiva do que a modernidade.
Não posso pôr a minha antipatia por Sarkozy ou considerações táticas à frente dos meus princípios. Esse tipo de coisa, aliás, sempre foi o erro de grande parte da esquerda.
Pense bem.
O debate todo tá no antoniocicero.blogspot.com
Não sou eu, mas você que confunde o “projeto de poder do Ocidente” com a razão. Eu, ao contrário, diferencio a razão de qualquer projeto de poder. A razão não pode se confundir com coisa nenhuma, porque ela é, em primeiro lugar, crítica, e “crítica” quer dizer “separação”. A razão – e só a razão – é o que nos permite criticar todos os projetos de poder.
É claro que as potências imperialistas gostariam de confundir os seus projetos com a razão. Mas é impossível. Tanto que a crítica mesma a esses projetos – a crítica ao imperialismo – foi feita pela razão: e só pode ser feita por ela.
Toda tentativa de reduzir a razão a uma cultura particular acaba levando a autocontradições. Foi o que aconteceu com Foucault e alguns outros filósofos contemporâneos, como demonstrei no artigo a que alude.
“Mulheres vestidas de um lindo azul”? Isso me lembra Marx, que falava de arrancar as flores que enfeitam as cadeias dos oprimidos. “Livres pela burca de serem mulheres-objetos”? Mais objeto – embrulhado – do que essas mulheres, é impossível. Logo você estará propondo introduzir a burca no Ocidente, obrigando as mulheres, para deixarem de ser mulheres-objetos, a se cobrirem da cabeça aos pés; ou, quem sabe, obrigando-as a usar máscaras?
Racista, Penetralia, é confundir as superstições e os costumes retrógrados de uma corrente religiosa qualquer com a “raça” das pessoas que são oprimidas por esses costumes, crenças e superstições: dizer, por exemplo, “Fulana é árabe, logo é certo que ela apanhe do marido”. Ou: “Fulano é árabe, logo a razão – que é ocidental – não lhe diz respeito”. Nada é mais etnocêntrico e pró-imperialista do que pensar que a razão é ocidental.
Hirsi Ali, uma mulher somali que conseguiu se libertar das superstições e dos costumes retrógrados que imperavam em sua tribo, explica que o fez porque a razão lhe mostrou que:
É errado subordinar as mulheres aos homens;
É errado executar pessoas por serem homossexuais;
É errado matar apóstatas;
É errado chicotear e apedrejar as mulheres até a morte;
É errado amputar as mãos dos ladrões;
É errado dizer que quem morre lutando pela sua religião terá o paraíso;
etc.
Concordo com ela. A Idade Média ocidental também foi terrível. Tolice é pensar que ela era menos opressiva do que a modernidade.
Não posso pôr a minha antipatia por Sarkozy ou considerações táticas à frente dos meus princípios. Esse tipo de coisa, aliás, sempre foi o erro de grande parte da esquerda.
Pense bem.
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Bilhete aberto ao Sr. Paulo Lamac, líder do governo na Câmara Municipal de BH
Meu caro Lamac: deixe-me despir a formalidade e me dirigir diretamente a você. Esse bilhete é apenas para registrar uma certa perplexidade. Um dia desses o nosso amigo Sanyo pediu-me para votar em você. Depois disso, fiquei também sabendo que você é líder do prefeito Márcio Lacerda na Câmara dos Vereadores. Isso muito me alegra, tendo em vista que você é o único fruto político da nossa gestão de DCE/UFMG em 1995-96. Talvez julgue imprópria a dedução que faço, mas o DCE ajudou você a criar a Associação Pré-UFMG, se não me falha a memória. E ajudou com verbas e um pouco mais, pois a ideia foi trazida pelo Magno Payakan de uma experiência em Campinas. A Associação teve um papel importante em sua eleição.
Fico surpreso com sua opção política: será que você radicalizou ou o PT que ficou mais moderado? Pois você não era petista em 1995-96; você ainda não se associava com essa legenda. Você parecia moderado e nós que simpatizávamos com ela, nos sentíamos radicais diante de você, que não gostava de Karl Marx, Weber nem Durkheim, não é mesmo? A outra proposta de um cursinho (que Payakan e Gleide levaram adiante por algum tempo) era justamente uma iniciativa ligada à prefeitura e ela fracassou, enquanto a sua, apoiada pela iniciativa privada, vingou. A versão que chegou até mim é que você obteve apoio da Associação de Pais e Mestres, politicamente alinhada com o PFL. Outro fato que me afastava de você é que, lendo os textos de apresentação da Associação Pré-UFMG, você não estimulava os alunos a entrarem no movimento estudantil, pelo contrário, eu me lembro de me irritar ao ler ressalvas. Porém, foi o movimento estudantil que possibilitou o Pré-UFMG!
Realmente, estou sendo sincero: fiquei curioso em saber de seu posicionamento político atual, suas propostas, pensamento político, etc. Você é de esquerda? A qual vertente do PT se associa? O PT tem uma proposta para a nação?
Por isso publico esse bilhete aberto a você, não tendo encontrado um blog ou algo semelhante com que pudesse me comunicar com você na web.
Fico surpreso com sua opção política: será que você radicalizou ou o PT que ficou mais moderado? Pois você não era petista em 1995-96; você ainda não se associava com essa legenda. Você parecia moderado e nós que simpatizávamos com ela, nos sentíamos radicais diante de você, que não gostava de Karl Marx, Weber nem Durkheim, não é mesmo? A outra proposta de um cursinho (que Payakan e Gleide levaram adiante por algum tempo) era justamente uma iniciativa ligada à prefeitura e ela fracassou, enquanto a sua, apoiada pela iniciativa privada, vingou. A versão que chegou até mim é que você obteve apoio da Associação de Pais e Mestres, politicamente alinhada com o PFL. Outro fato que me afastava de você é que, lendo os textos de apresentação da Associação Pré-UFMG, você não estimulava os alunos a entrarem no movimento estudantil, pelo contrário, eu me lembro de me irritar ao ler ressalvas. Porém, foi o movimento estudantil que possibilitou o Pré-UFMG!
Realmente, estou sendo sincero: fiquei curioso em saber de seu posicionamento político atual, suas propostas, pensamento político, etc. Você é de esquerda? A qual vertente do PT se associa? O PT tem uma proposta para a nação?
Por isso publico esse bilhete aberto a você, não tendo encontrado um blog ou algo semelhante com que pudesse me comunicar com você na web.
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segunda-feira, 29 de junho de 2009
Cena II de O Homem e o Cavalo
Cena II
Os mesmos e o poeta-soldado-garanhão.
(Imagens ao fundo mostram a guerra do Iraque, atentados no Afeganistão, golpe em Honduras, etc.)
O Poeta-Soldado (entrando inesperadamente, com um microfone e terno de apresentador de auditório): --Meu, eu quero regenerar a humanidade! Quero restaurar a guerra e o sentido da guerra. Única higiene do mundo. (Para as 4 garças). Vocês estão apoiando Moshavi no Irã? Esperando marido aqui no céu! Quero que vocês trabalhem sob o signo sangrento dos generais da Guiné Bissau, de Myammar, de Honduras! Façam pomadas mercuriais para meus heróis e deixem dessa de ONU!
As quatro: Nós temos mais que fazer!
Malvina: Deus nos livre! Mulher não deve trabalhar!
Etelvina: só na horizontal, em horas cômodas!
O Poeta-soldado: Quero vocês na cama grande, vadias! Vivem tomando chá e lendo Proust! Desempregadas do Obama! Vão fazer trancinha na Michelle Obama, desempregadas! Venham se preparar para lutar no Iraque, no Afeganistão! No jogo perigoso das bombas nucleares! Jurar bandeira diante da Star Spangled Banner em Woodstock! Lembrai-vos de vossas tias, as Amazonas de Mattogrosso! Lembrai-vos de Philip Glass! (Toca Wagner ao fundo). Da vossa avó, Sandra D´Arc! De Pacheco, do Vampiro de Curitiba, de George Bush e suas armas químicas falsas! Amamentem os Osamas, os Saddam Husseins! Amamentem uns quinze terroristas em Guantánamo!
Os mesmos e o poeta-soldado-garanhão.
(Imagens ao fundo mostram a guerra do Iraque, atentados no Afeganistão, golpe em Honduras, etc.)
O Poeta-Soldado (entrando inesperadamente, com um microfone e terno de apresentador de auditório): --Meu, eu quero regenerar a humanidade! Quero restaurar a guerra e o sentido da guerra. Única higiene do mundo. (Para as 4 garças). Vocês estão apoiando Moshavi no Irã? Esperando marido aqui no céu! Quero que vocês trabalhem sob o signo sangrento dos generais da Guiné Bissau, de Myammar, de Honduras! Façam pomadas mercuriais para meus heróis e deixem dessa de ONU!
As quatro: Nós temos mais que fazer!
Malvina: Deus nos livre! Mulher não deve trabalhar!
Etelvina: só na horizontal, em horas cômodas!
O Poeta-soldado: Quero vocês na cama grande, vadias! Vivem tomando chá e lendo Proust! Desempregadas do Obama! Vão fazer trancinha na Michelle Obama, desempregadas! Venham se preparar para lutar no Iraque, no Afeganistão! No jogo perigoso das bombas nucleares! Jurar bandeira diante da Star Spangled Banner em Woodstock! Lembrai-vos de vossas tias, as Amazonas de Mattogrosso! Lembrai-vos de Philip Glass! (Toca Wagner ao fundo). Da vossa avó, Sandra D´Arc! De Pacheco, do Vampiro de Curitiba, de George Bush e suas armas químicas falsas! Amamentem os Osamas, os Saddam Husseins! Amamentem uns quinze terroristas em Guantánamo!
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domingo, 28 de junho de 2009
Em defesa da Burca!
O artigo do Antonio Cicero abaixo me obriga a defender a burca!
Claro que ela é um símbolo religioso. Sarkozy, o semiólogo gaullista-bushista quer dar a ela um significado de opressão, de subserviência e quer libertar as mulheres proibindo-as de usar uma roupa.
Vou fazer a semiologia do nariz do Sarkozy, se for assim. Nariz de Pinocchio.
Proibir para permitir. Libertar através do banimento. O que acontecerá com quem insistir em usar? Será preso? Expulso da França? Guilhotinado?
Sou contra a extração do clitóris, sim. Mas essa proibição do véu e da burca, ao meu ver, são parte do projeto de poder do Ocidente que é vendida como império da razão, da liberdade, da laicidade. Foucault, ao contrário do que escrevem Calligaris e Antonio Cícero, foi coerente ao ver mudanças no Irã.
Se o Estado desestimulasse, fazendo uma campanha contra a pirataria, por exemplo, ainda vai. Mas a proibição que Sarkozy impôs à troca de músicas na web, por exemplo, é a volta da postura autoritária do Estado na vida privada. É isso que representa Sarkozy. Fora o lobby Carla Bruni, claro.
Claro que ela é um símbolo religioso. Sarkozy, o semiólogo gaullista-bushista quer dar a ela um significado de opressão, de subserviência e quer libertar as mulheres proibindo-as de usar uma roupa.
Vou fazer a semiologia do nariz do Sarkozy, se for assim. Nariz de Pinocchio.
Proibir para permitir. Libertar através do banimento. O que acontecerá com quem insistir em usar? Será preso? Expulso da França? Guilhotinado?
Sou contra a extração do clitóris, sim. Mas essa proibição do véu e da burca, ao meu ver, são parte do projeto de poder do Ocidente que é vendida como império da razão, da liberdade, da laicidade. Foucault, ao contrário do que escrevem Calligaris e Antonio Cícero, foi coerente ao ver mudanças no Irã.
Se o Estado desestimulasse, fazendo uma campanha contra a pirataria, por exemplo, ainda vai. Mas a proibição que Sarkozy impôs à troca de músicas na web, por exemplo, é a volta da postura autoritária do Estado na vida privada. É isso que representa Sarkozy. Fora o lobby Carla Bruni, claro.
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Eu, Antonio Cicero e a Burca
5.6.09
Sarkozy e a burca
Antonio Cicero
Ontem alguém que assina “Penetralia” deixou um comentário sobre meu artigo “O clássico e o contemporâneo”, dizendo que estava tudo bem com as minhas posições, desde que eu não defendesse a “proibição imbecil do Sarkozy da burca em nome da laicidade e da razão”. Respondi que não via relação entre o artigo citado e a questão da burca. Hoje Marcelo Pereira, confundindo a burca com o chador, que é um lenço no cabelo, e que já havia sido proibido nas escolas francesas antes do governo Sarkozy, defendeu essa proibição.
A burca, porém, é algo muito mais grave do que o chador. Como se pode ver pela foto acima, ela cobre toda a cabeça, inclusive o rosto de quem a usa. Anteontem o Sarkozy falou em proibir a burca. Essa proibição não se basearia simplesmente na defesa da laicidade e da razão, como afirma Penetralia, mas na convicção de que se trata de algo opressivo à mulher. “Em nosso país”, disse Sarkozy, “não podemos aceitar que mulheres sejam prisioneiras atrás de uma tela, privadas de toda vida social, desprovidas de toda identidade”. Sarkozy observou também que “a burca não é um sinal religioso, é um sinal de subserviência, de rebaixamento”.
Mesmo embora eu não simpatize muito com o Sarkozy, acho que ele está certo, sim. Entre as correntes mais conservadoras do Islã, as mulheres – jamais os homens – são obrigadas a usar a burca. Haverá sem dúvida mulheres que gostam de usar a burca, pois, como diz Sartre, há quem prefira ser coisa do que ser gente, mas penso que a proibição é o único caminho para permitir que as muitas mulheres que se sintam humilhadas por essa vestimenta-prisão livrem-se dela. Sem a proibição, é certo que muitas mulheres que não gostam da burca sejam obrigadas a usá-la pelos maridos que, no Islã, têm o direito de bater nas esposas.
Postado por Antonio Cicero às 10:44
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Sarkozy e a burca
Antonio Cicero
Ontem alguém que assina “Penetralia” deixou um comentário sobre meu artigo “O clássico e o contemporâneo”, dizendo que estava tudo bem com as minhas posições, desde que eu não defendesse a “proibição imbecil do Sarkozy da burca em nome da laicidade e da razão”. Respondi que não via relação entre o artigo citado e a questão da burca. Hoje Marcelo Pereira, confundindo a burca com o chador, que é um lenço no cabelo, e que já havia sido proibido nas escolas francesas antes do governo Sarkozy, defendeu essa proibição.
A burca, porém, é algo muito mais grave do que o chador. Como se pode ver pela foto acima, ela cobre toda a cabeça, inclusive o rosto de quem a usa. Anteontem o Sarkozy falou em proibir a burca. Essa proibição não se basearia simplesmente na defesa da laicidade e da razão, como afirma Penetralia, mas na convicção de que se trata de algo opressivo à mulher. “Em nosso país”, disse Sarkozy, “não podemos aceitar que mulheres sejam prisioneiras atrás de uma tela, privadas de toda vida social, desprovidas de toda identidade”. Sarkozy observou também que “a burca não é um sinal religioso, é um sinal de subserviência, de rebaixamento”.
Mesmo embora eu não simpatize muito com o Sarkozy, acho que ele está certo, sim. Entre as correntes mais conservadoras do Islã, as mulheres – jamais os homens – são obrigadas a usar a burca. Haverá sem dúvida mulheres que gostam de usar a burca, pois, como diz Sartre, há quem prefira ser coisa do que ser gente, mas penso que a proibição é o único caminho para permitir que as muitas mulheres que se sintam humilhadas por essa vestimenta-prisão livrem-se dela. Sem a proibição, é certo que muitas mulheres que não gostam da burca sejam obrigadas a usá-la pelos maridos que, no Islã, têm o direito de bater nas esposas.
Postado por Antonio Cicero às 10:44
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sábado, 27 de junho de 2009
Um Estudo para O Homem e o Cavalo, de Oswald de Andrade
(Reescrevo alguns trechos O Homem e o Cavalo, de Oswald. Penso que essa peça, hoje desatualizada em seu aspecto político, precisa ser repensada. Sugiro algumas alterações para atualizar o texto, quando for montado. Poderia ficar assim, mas com o tempo deveria mudar, afinal é uma peça engajada):
1º quadro, O Céu de Sarkozy (Cena I)
(O cenário representa, com papel pintado, um parque de diversões interiorano e mambembe, com roda gigante, carrossel, carrinhos de bate-bate e outros brinquedos). No centro do cenário está a inscrição: Deus-Pátria-De Gaulle-igualdade-fraternidade-liberdade. Em um extremo do cenário está desenhado um elevador, no outro um pensador de Rodin pensando sentado numa privada. Toca, bem ao fundo, A Marselhesa).
Cena I
Etelvina Bruni: (entrando em cena com uma vela na mão e apagando-a, grita rispidamente): a burca não é bem-vinda na França!
Malvina: Eu é que sou a verdadeira mulher de Sarkozy, sou a ex-mulher. Eu estava tecendo uns panos de chão para os árabes vestirem, umas toalhinhas, mas o fio de nuvem acabou.
Balduína: não se esqueça de escrever que o véu é proibido em colégios públicos.
Etelvina Bruni: Ih, o céu é tão chato! Que pena o Arafat ter ido para o inferno!
Balduína: é que sou a mulher de Sarkozy, eu sou a amante! É tudo culpa dos palestinos, que não deram tempo dele se confessar.
Querubina: você queriam aquele árabe sujo aqui? Imigrantes não são bem vindos na França!
Malvina: Vamos estudar italiano para conversar com Berlusconi, o poeta-soldado-garanhão!
Malvina (entra a música ribombando): senzo una forza indômita! (Malvina ensaia uns passos de dança ao som de O Guarani, de Carlos Gomes).
Etelvina: Sarkozy já me ensinou o francês: casser ta gorge! Foudre le cul, con! Culé!
(Ouve-se uma descarga e um ator caracterizado como Berlusconi aparece falando ao celular)
Malvina (tapando as orelhas): Que fracasso!
Querubina: para quê Sarkozy, se temos De Gaulle, para quê Berlusconi, se aqui no céu tem Mussolini?
Balduína: Sarkozy nem Berlusconi não estão nem desencarnados ainda....
Etelvina: em breve teremos uma turnê animada aqui no céu.
Malvina: aqui no céu?
Etelvina: ela ia começar na Terra, mas de fato vai ser no céu.
Malvina: de quem?
Etelvina: de um grande dançarino e cantor negro.
Malvina: que fim levou ele?
Etelvina: segredo.
Balduína: ele tomou demerol? Morfina? Cocaína? Malvina? Etelvina?
Querubina: eu sei...mas não posso dizer...
Malvina e Etelvina: Querubina!
Querubina: ele me pediu segredo.
As duas: segredo no céu! Que piada!
Querubina: me fez jurar por Deus que não contava.
Malvina: empregando o nome de Deus em vão!
Etelvina: que pecado! Daqui a pouco São Pedro expulsa ele daqui.
Querubina: Ele tem um passo que tem tudo a ver com céu e lua: moonwalking.
Malvina: ele anda na lua?
Balduína: Eu achava que aqui no céu ia ser como a mansão de Berlusconi! Ceias! Cardeais!
Malvina: Mas temos Mussolini...
Querubina: prefiro o dançarino.
Balduína: o dançarino, só com inseminação artificial.
Etelvina: Eu gosto do Divo Gerald Thomas, ele pelo menos canta!
Balduína: Canta! Canta, toca guitarra e ainda encena!
Etelvina: Vocês estão ficando histéricas, precisam consultar um psicopata!
Balduína: as festas do Berlusconi na Terra são muito mais animadas. E esse dançarino que veio parar no céu, que tal? Vocês sabem cantar as músicas dele?
Malvina: Eu sei.
Balduína: então diga!
Malvina (recintando): Yes, we have no bananas...Esqueci...espera!
Tava jogando sinuca
Uma nega maluca
Me apareceu
Tava com um filho no colo
Dizendo para o povo que o filho era meu
Balduína: Que foxtrote ranzinza! Ele morreu como Carmen Miranda, de overdose? Arre que achamos um brinquedo de sociedade.
Etelvina: Eu sei outra música dele. É uma canção linda sobre a paternidade.
As duas: Ah! Que bonito! Diga! Diga!
Etelvina (recitando): Ela se chama Biliejean
She say I´m the one
But the kid is not my son
As outras (rindo): Ah! Ah! Ah! Que estupendo!
Etelvina: não sei o resto! Só sei o refrão!
As outras: ora!
Malvina: Como é que acaba?
Balduína: É! Diga o fim!
Etelvina: Ele virá fazer moonwalking aqui no céu! Ele tá ao lado de Carmen Miranda e Elvis Presley! O pai, o filho e Dona Sílvia do Espírito Santo.
Malvina: Ora essa! Todos in memorian!
1º quadro, O Céu de Sarkozy (Cena I)
(O cenário representa, com papel pintado, um parque de diversões interiorano e mambembe, com roda gigante, carrossel, carrinhos de bate-bate e outros brinquedos). No centro do cenário está a inscrição: Deus-Pátria-De Gaulle-igualdade-fraternidade-liberdade. Em um extremo do cenário está desenhado um elevador, no outro um pensador de Rodin pensando sentado numa privada. Toca, bem ao fundo, A Marselhesa).
Cena I
Etelvina Bruni: (entrando em cena com uma vela na mão e apagando-a, grita rispidamente): a burca não é bem-vinda na França!
Malvina: Eu é que sou a verdadeira mulher de Sarkozy, sou a ex-mulher. Eu estava tecendo uns panos de chão para os árabes vestirem, umas toalhinhas, mas o fio de nuvem acabou.
Balduína: não se esqueça de escrever que o véu é proibido em colégios públicos.
Etelvina Bruni: Ih, o céu é tão chato! Que pena o Arafat ter ido para o inferno!
Balduína: é que sou a mulher de Sarkozy, eu sou a amante! É tudo culpa dos palestinos, que não deram tempo dele se confessar.
Querubina: você queriam aquele árabe sujo aqui? Imigrantes não são bem vindos na França!
Malvina: Vamos estudar italiano para conversar com Berlusconi, o poeta-soldado-garanhão!
Malvina (entra a música ribombando): senzo una forza indômita! (Malvina ensaia uns passos de dança ao som de O Guarani, de Carlos Gomes).
Etelvina: Sarkozy já me ensinou o francês: casser ta gorge! Foudre le cul, con! Culé!
(Ouve-se uma descarga e um ator caracterizado como Berlusconi aparece falando ao celular)
Malvina (tapando as orelhas): Que fracasso!
Querubina: para quê Sarkozy, se temos De Gaulle, para quê Berlusconi, se aqui no céu tem Mussolini?
Balduína: Sarkozy nem Berlusconi não estão nem desencarnados ainda....
Etelvina: em breve teremos uma turnê animada aqui no céu.
Malvina: aqui no céu?
Etelvina: ela ia começar na Terra, mas de fato vai ser no céu.
Malvina: de quem?
Etelvina: de um grande dançarino e cantor negro.
Malvina: que fim levou ele?
Etelvina: segredo.
Balduína: ele tomou demerol? Morfina? Cocaína? Malvina? Etelvina?
Querubina: eu sei...mas não posso dizer...
Malvina e Etelvina: Querubina!
Querubina: ele me pediu segredo.
As duas: segredo no céu! Que piada!
Querubina: me fez jurar por Deus que não contava.
Malvina: empregando o nome de Deus em vão!
Etelvina: que pecado! Daqui a pouco São Pedro expulsa ele daqui.
Querubina: Ele tem um passo que tem tudo a ver com céu e lua: moonwalking.
Malvina: ele anda na lua?
Balduína: Eu achava que aqui no céu ia ser como a mansão de Berlusconi! Ceias! Cardeais!
Malvina: Mas temos Mussolini...
Querubina: prefiro o dançarino.
Balduína: o dançarino, só com inseminação artificial.
Etelvina: Eu gosto do Divo Gerald Thomas, ele pelo menos canta!
Balduína: Canta! Canta, toca guitarra e ainda encena!
Etelvina: Vocês estão ficando histéricas, precisam consultar um psicopata!
Balduína: as festas do Berlusconi na Terra são muito mais animadas. E esse dançarino que veio parar no céu, que tal? Vocês sabem cantar as músicas dele?
Malvina: Eu sei.
Balduína: então diga!
Malvina (recintando): Yes, we have no bananas...Esqueci...espera!
Tava jogando sinuca
Uma nega maluca
Me apareceu
Tava com um filho no colo
Dizendo para o povo que o filho era meu
Balduína: Que foxtrote ranzinza! Ele morreu como Carmen Miranda, de overdose? Arre que achamos um brinquedo de sociedade.
Etelvina: Eu sei outra música dele. É uma canção linda sobre a paternidade.
As duas: Ah! Que bonito! Diga! Diga!
Etelvina (recitando): Ela se chama Biliejean
She say I´m the one
But the kid is not my son
As outras (rindo): Ah! Ah! Ah! Que estupendo!
Etelvina: não sei o resto! Só sei o refrão!
As outras: ora!
Malvina: Como é que acaba?
Balduína: É! Diga o fim!
Etelvina: Ele virá fazer moonwalking aqui no céu! Ele tá ao lado de Carmen Miranda e Elvis Presley! O pai, o filho e Dona Sílvia do Espírito Santo.
Malvina: Ora essa! Todos in memorian!
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quarta-feira, 24 de junho de 2009
Contra Caetano
Sou contra Caetano usar recursos públicos para seu show. Ele ficou irritado ao comentar a respeito pela Monica Bergamo na Folha, segundo ele, não pela pergunta, mas pela abordagem.
Para mim, isso realmente é o fim. Caetano poderia receber recursos públicos para fazer uma oficina gratuita a um público que não é o dele, ou uma "aula-xóu" como diz o Ariano Suassuna, por exemplo. Ele próprio já disse na Cult que não pensava a Lei Roaunet para a música.
Mas já foram beneficiados por investimentos públicos artistas tais como Maria Betânia, Ivete Sangalo, etc.
Para mim, isso realmente é o fim. Caetano poderia receber recursos públicos para fazer uma oficina gratuita a um público que não é o dele, ou uma "aula-xóu" como diz o Ariano Suassuna, por exemplo. Ele próprio já disse na Cult que não pensava a Lei Roaunet para a música.
Mas já foram beneficiados por investimentos públicos artistas tais como Maria Betânia, Ivete Sangalo, etc.
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terça-feira, 23 de junho de 2009
Som e Fúria
Com ironia e bom humor, Som e Fúria mostrará o dia-a-dia de duas companhias de teatro - uma, bem sucedida, é dirigida por Oliveira (Pedro Paulo Rangel), na qual atua Elen (André Beltrão), e a outra, falida, por Dante (Felipe Camargo).
O elenco conta no elenco ainda com Dan Stulbach, Daniel Oliveira, Regina Cazé, Gero Camilo, Rodrigo Santoro, Maria Flor, Chris Couto, Débora Falabella e Paulo Betti.
A minissérie é uma co-produção da Globo em parceria com a produtora independente O2 Filmes (a mesma de filmes como Cidade dos Homens), e é uma adaptação da série canadense Slings and Arrows, que retrata os bastidores de uma companhia de teatro que interpreta obras de Shakespeare.
Som e Fúria é dirigida por Fernando Meirelles. Gisele Barroco, Toniko Mello, Fabrizia Pinto e Rodrigo Meirelles também assinam a direção dos capítulos.
Categoria: Música
O elenco conta no elenco ainda com Dan Stulbach, Daniel Oliveira, Regina Cazé, Gero Camilo, Rodrigo Santoro, Maria Flor, Chris Couto, Débora Falabella e Paulo Betti.
A minissérie é uma co-produção da Globo em parceria com a produtora independente O2 Filmes (a mesma de filmes como Cidade dos Homens), e é uma adaptação da série canadense Slings and Arrows, que retrata os bastidores de uma companhia de teatro que interpreta obras de Shakespeare.
Som e Fúria é dirigida por Fernando Meirelles. Gisele Barroco, Toniko Mello, Fabrizia Pinto e Rodrigo Meirelles também assinam a direção dos capítulos.
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segunda-feira, 22 de junho de 2009
Irã, a fraude da mídia
IRÃ - A FRAUDE DA MÍDIA
(obs: não concordo plenamente com esse tipo de artigo, posto porque acho importante um contraponto)
Laerte Braga
Quem se der ao trabalho de compulsar (típica palavrinha/palavrão) edições de jornais ou relembrar noticiários de tevês nos últimos dez dias, mais precisamente, desde que o presidente do Irã cancelou sua visita ao Brasil e for um pouco mais atrás, digamos assim, em 2002, nos dias que antecederam a tentativa fracassada de golpe contra o presidente Chávez – Venezuela – vai ver que o esquema dos donos do mundo não mudou nada, é sempre o mesmo, precisão matemática na mentira, na fraude, na tentativa de iludir a opinião pública e dar como consumado um fato que não é real.
No caso da tentativa de golpe contra Chávez é só buscar edições antigas do JORNAL NACIONAL – principal porta-voz da mentira neoliberal/sionista no Brasil –. Duas semanas antes do golpe, dentro do cronograma armado pelo governo do então presidente Bush e empresários, banqueiros e latifundiários venezuelanos, a rede enviou à Venezuela a consagrada mentirosa Míriam Leitão para uma série de reportagens sobre aquele país, o governo Chávez e exibiu o “trabalho” na semana que antecedeu ao golpe. A conclusão da senhora Miriam Leitão na série foi a seguinte –“o povo da Venezuela não agüenta mais Chávez –.
Na semana seguinte o presidente foi preso e conduzido a local ignorado, o empresário Pedro Carmona – notório sonegador e contrabandista – foi empossado presidente, a Casa Branca anunciou que uma ditadura havia sido deposta por ter cometido barbárie e violência contra o povo, isso na quinta-feira. Abril de 2002 e Bonner aqui leu o boletim do Departamento de Estado e do porta-voz de Bush distribuído às tevês/departamentos da Casa Branca e seus tentáculos.
No domingo Chávez voltou ao poder. Milhões de venezuelanos, em Caracas e em todo o país saíram às ruas e não houve força militar ou empresarial, ou banqueiros e latifundiários que segurassem a vontade popular. Cercaram o palácio de governo onde se encontrava Carmona e sua quadrilha – limparam o cofre antes de fugir –, cercaram a Câmara dos Deputados, a Suprema Corte – lá não existe nenhum Gilmar Mendes mais – e exigiram a volta de Chávez. Militares democráticos e comprometidos com o seu país, não esse tipo de general Heleno que temos aqui, empregado da VALE, garantiram o resto.
Bonner passou de liso sobre o assunto, d. Miriam Leitão fez de conta que não era com ela e assim os seus superiores, inclusive Bush. Um documentário chamado “a revolução não será traída”, de dois cineastas irlandeses, mostrou toda a farsa com cenas reais e ao vivo.
No caso da reeleição do presidente do Irã o esquema é o mesmo. Nos dias que antecederam o pleito trataram de vender a idéia de eleições difíceis para Mahmud Ahmadinejad, da insatisfação popular – jovens e mulheres principalmente – e criaram a sensação que o mundo seria melhor sem Ahmadinejad, a paz no Oriente Médio poderia vir a ser uma realidade, tudo com a vitória do candidato que rotularam de “moderado”, Mir Hosein Moussavi.
No documentário “a revolução não será televisionada”, onde se mostra o golpe urdido contra Chávez, há um momento em que se revela o verdadeiro caráter da elite venezuelana. É numa reunião num bairro nobre, gente assim tipo Lúcia Flecha de Lima e ACM, quando o “presidente da mesa” alertava as senhoras e senhores presentes para terem cuidado com os “empregados domésticos”, todos eles moradores de favelas e bairros pobres e “chavistas”.
O noticiário sobre as eleições na república popular e islâmica do Irã dizia que Moussavi era da classe média alta do Irã, tinha pontos de contato com o Ocidente e estava interessado em gestos de paz, ao contrário de seu principal adversário. E como Miriam Leitão havia dito que “o povo da Venezuela não agüenta mais Chávez – venderam a idéia que os iranianos jovens e as mulheres – jogando com o inconsciente das pessoas, o preconceito contra muçulmanos – queriam mudanças no país.
Esqueceram-se de dizer que os “empregados domésticos” do Irã e as populações das regiões mais pobres do país apoiavam o presidente Ahmadinejad por conta dos seus programas sociais e da ausência de corrupção no governo, o que não se pode dizer de Moussavi, corrupto, venal e contratado pelo Ocidente para desmontar o processo revolucionário iraniano.
Empresário. Precisa dizer mais alguma coisa?
O discurso do presidente Barak Obama no Egito desagradou a Israel (que não aceita a menor concessão, são os eleitos de Deus e não há o que discutir, podem roubar, torturar, matar, estuprar e o que for preciso para garantia de banqueiros, etc). Os israelenses, que não conhecem ainda a vaselina e seus predicados, não perceberam que Obama estava tentando evitar a vitória do Hezbollah no Líbano (e conseguiu) com aquele lero lero de paz e ao mesmo tempo, sinalizando aos iranianos que poderia ser bonzinho também com o Irã, permitindo o estado palestino. Tipo assim palestinos carregando malas de israelenses, limpando banheiros, essas coisas e estou sendo gentil.
No Irã não colou, não funcionou. A vaselina de Obama chegou lá com data vencida.
A mídia no mundo ocidental, cristão e democrata cumpre o papel que lhe cabe na parceria com o terrorismo de Israel. Fala em fraude. Moussavi buscar criar condições para uma convulsão social no Irã, tenta desconhecer a realidade. Mais de 60% dos iranianos não escolheram um representante do governo dos EUA e traidor dos ideais da revolução islâmica e popular do Irã, um empresário cooptado pelo terrorismo nazi/sionista de Israel.
A esmagadora maioria dos eleitores iranianos percebeu que Moussavi iria cair de joelhos diante de Obama, interromper o programa nuclear do país – vital para a garantia de sua independência – e que os palestinos e muçulmanos de um modo geral não ganhariam mais que um pirulito para achar que de fato os de Israel são superiores e norte-americanos completam o duo terrorista e nazista.
É preciso agora mostrar aos incautos do resto do mundo que houve “fraude”. Que a vontade popular foi desrespeitada. O problema é que a diferença entre um e outro candidato não foi de um ponto percentual, mas Ahmadinejad teve o dobro dos votos de seu adversário. Difícil falar em fraude.
O governo de Israel considera que o resultado das eleições no Irã soa como um “tapa na cara”. Falharam os planos de um governo colaboracionista. Submisso como os do Egito, da Jordânia, da Arábia Saudita, do Iraque ocupado e vai por aí adiante.
Ou seja, para o “povo superior”, os “escolhidos por deus”, o deles, o povo do Irã tinha que eleger o candidato deles. Como não foi assim o tapa na cara soa como tapa no deus deles. O dos saques, do terror, da violência da tortura e dos estupros contra mulheres palestinas, toda a sorte de atrocidades típicas e intrínsecas ao sionismo.
Não houve fraude alguma no Irã. Não há tentativa de golpe de Ahmadinejad, pois venceu as eleições com o dobro de votos de seu adversário. As manifestações de rua de partidários da ocidentalização do Irã, de transformação do país num Egito da vida, palco para os jogos de cena padrão Hollywood de Obama, são parte do processo golpista, esse sim, de Moussavi.
Tem dinheiro de sobra para tentar o golpe, é financiado pelos grandes piratas e saqueadores da atualidade – norte-americanos e israelenses.
Fraude é a mídia ocidental. Fraude é a GLOBO, VEJA, FOLHA DE SÃO, fraude são os defensores dessa “democracia” padrão Lúcia Flecha de Lima, onde se privatiza a vida embaixo dos lençóis do poder, no afã de vender um país, caso do governo FHC. Liberdade deve ser abrir a jaula para essa gente soltar as bestas da PM paulista e mandar baixar a borduna em estudantes, professores e funcionários de uma universidade pública. Com certeza uma Lúcia Flecha de Lima vai estar embaixo de um lençol no mundo cristão, ocidental e democrata, negociando a privatização da USP.
A vitória de Ahmadinejad foi a vitória do povo do Irã. Só isso. O negocio de abóbora viver carruagem que Obama arranjou no seu discurso no Cairo não funcionou por lá.
(obs: não concordo plenamente com esse tipo de artigo, posto porque acho importante um contraponto)
Laerte Braga
Quem se der ao trabalho de compulsar (típica palavrinha/palavrão) edições de jornais ou relembrar noticiários de tevês nos últimos dez dias, mais precisamente, desde que o presidente do Irã cancelou sua visita ao Brasil e for um pouco mais atrás, digamos assim, em 2002, nos dias que antecederam a tentativa fracassada de golpe contra o presidente Chávez – Venezuela – vai ver que o esquema dos donos do mundo não mudou nada, é sempre o mesmo, precisão matemática na mentira, na fraude, na tentativa de iludir a opinião pública e dar como consumado um fato que não é real.
No caso da tentativa de golpe contra Chávez é só buscar edições antigas do JORNAL NACIONAL – principal porta-voz da mentira neoliberal/sionista no Brasil –. Duas semanas antes do golpe, dentro do cronograma armado pelo governo do então presidente Bush e empresários, banqueiros e latifundiários venezuelanos, a rede enviou à Venezuela a consagrada mentirosa Míriam Leitão para uma série de reportagens sobre aquele país, o governo Chávez e exibiu o “trabalho” na semana que antecedeu ao golpe. A conclusão da senhora Miriam Leitão na série foi a seguinte –“o povo da Venezuela não agüenta mais Chávez –.
Na semana seguinte o presidente foi preso e conduzido a local ignorado, o empresário Pedro Carmona – notório sonegador e contrabandista – foi empossado presidente, a Casa Branca anunciou que uma ditadura havia sido deposta por ter cometido barbárie e violência contra o povo, isso na quinta-feira. Abril de 2002 e Bonner aqui leu o boletim do Departamento de Estado e do porta-voz de Bush distribuído às tevês/departamentos da Casa Branca e seus tentáculos.
No domingo Chávez voltou ao poder. Milhões de venezuelanos, em Caracas e em todo o país saíram às ruas e não houve força militar ou empresarial, ou banqueiros e latifundiários que segurassem a vontade popular. Cercaram o palácio de governo onde se encontrava Carmona e sua quadrilha – limparam o cofre antes de fugir –, cercaram a Câmara dos Deputados, a Suprema Corte – lá não existe nenhum Gilmar Mendes mais – e exigiram a volta de Chávez. Militares democráticos e comprometidos com o seu país, não esse tipo de general Heleno que temos aqui, empregado da VALE, garantiram o resto.
Bonner passou de liso sobre o assunto, d. Miriam Leitão fez de conta que não era com ela e assim os seus superiores, inclusive Bush. Um documentário chamado “a revolução não será traída”, de dois cineastas irlandeses, mostrou toda a farsa com cenas reais e ao vivo.
No caso da reeleição do presidente do Irã o esquema é o mesmo. Nos dias que antecederam o pleito trataram de vender a idéia de eleições difíceis para Mahmud Ahmadinejad, da insatisfação popular – jovens e mulheres principalmente – e criaram a sensação que o mundo seria melhor sem Ahmadinejad, a paz no Oriente Médio poderia vir a ser uma realidade, tudo com a vitória do candidato que rotularam de “moderado”, Mir Hosein Moussavi.
No documentário “a revolução não será televisionada”, onde se mostra o golpe urdido contra Chávez, há um momento em que se revela o verdadeiro caráter da elite venezuelana. É numa reunião num bairro nobre, gente assim tipo Lúcia Flecha de Lima e ACM, quando o “presidente da mesa” alertava as senhoras e senhores presentes para terem cuidado com os “empregados domésticos”, todos eles moradores de favelas e bairros pobres e “chavistas”.
O noticiário sobre as eleições na república popular e islâmica do Irã dizia que Moussavi era da classe média alta do Irã, tinha pontos de contato com o Ocidente e estava interessado em gestos de paz, ao contrário de seu principal adversário. E como Miriam Leitão havia dito que “o povo da Venezuela não agüenta mais Chávez – venderam a idéia que os iranianos jovens e as mulheres – jogando com o inconsciente das pessoas, o preconceito contra muçulmanos – queriam mudanças no país.
Esqueceram-se de dizer que os “empregados domésticos” do Irã e as populações das regiões mais pobres do país apoiavam o presidente Ahmadinejad por conta dos seus programas sociais e da ausência de corrupção no governo, o que não se pode dizer de Moussavi, corrupto, venal e contratado pelo Ocidente para desmontar o processo revolucionário iraniano.
Empresário. Precisa dizer mais alguma coisa?
O discurso do presidente Barak Obama no Egito desagradou a Israel (que não aceita a menor concessão, são os eleitos de Deus e não há o que discutir, podem roubar, torturar, matar, estuprar e o que for preciso para garantia de banqueiros, etc). Os israelenses, que não conhecem ainda a vaselina e seus predicados, não perceberam que Obama estava tentando evitar a vitória do Hezbollah no Líbano (e conseguiu) com aquele lero lero de paz e ao mesmo tempo, sinalizando aos iranianos que poderia ser bonzinho também com o Irã, permitindo o estado palestino. Tipo assim palestinos carregando malas de israelenses, limpando banheiros, essas coisas e estou sendo gentil.
No Irã não colou, não funcionou. A vaselina de Obama chegou lá com data vencida.
A mídia no mundo ocidental, cristão e democrata cumpre o papel que lhe cabe na parceria com o terrorismo de Israel. Fala em fraude. Moussavi buscar criar condições para uma convulsão social no Irã, tenta desconhecer a realidade. Mais de 60% dos iranianos não escolheram um representante do governo dos EUA e traidor dos ideais da revolução islâmica e popular do Irã, um empresário cooptado pelo terrorismo nazi/sionista de Israel.
A esmagadora maioria dos eleitores iranianos percebeu que Moussavi iria cair de joelhos diante de Obama, interromper o programa nuclear do país – vital para a garantia de sua independência – e que os palestinos e muçulmanos de um modo geral não ganhariam mais que um pirulito para achar que de fato os de Israel são superiores e norte-americanos completam o duo terrorista e nazista.
É preciso agora mostrar aos incautos do resto do mundo que houve “fraude”. Que a vontade popular foi desrespeitada. O problema é que a diferença entre um e outro candidato não foi de um ponto percentual, mas Ahmadinejad teve o dobro dos votos de seu adversário. Difícil falar em fraude.
O governo de Israel considera que o resultado das eleições no Irã soa como um “tapa na cara”. Falharam os planos de um governo colaboracionista. Submisso como os do Egito, da Jordânia, da Arábia Saudita, do Iraque ocupado e vai por aí adiante.
Ou seja, para o “povo superior”, os “escolhidos por deus”, o deles, o povo do Irã tinha que eleger o candidato deles. Como não foi assim o tapa na cara soa como tapa no deus deles. O dos saques, do terror, da violência da tortura e dos estupros contra mulheres palestinas, toda a sorte de atrocidades típicas e intrínsecas ao sionismo.
Não houve fraude alguma no Irã. Não há tentativa de golpe de Ahmadinejad, pois venceu as eleições com o dobro de votos de seu adversário. As manifestações de rua de partidários da ocidentalização do Irã, de transformação do país num Egito da vida, palco para os jogos de cena padrão Hollywood de Obama, são parte do processo golpista, esse sim, de Moussavi.
Tem dinheiro de sobra para tentar o golpe, é financiado pelos grandes piratas e saqueadores da atualidade – norte-americanos e israelenses.
Fraude é a mídia ocidental. Fraude é a GLOBO, VEJA, FOLHA DE SÃO, fraude são os defensores dessa “democracia” padrão Lúcia Flecha de Lima, onde se privatiza a vida embaixo dos lençóis do poder, no afã de vender um país, caso do governo FHC. Liberdade deve ser abrir a jaula para essa gente soltar as bestas da PM paulista e mandar baixar a borduna em estudantes, professores e funcionários de uma universidade pública. Com certeza uma Lúcia Flecha de Lima vai estar embaixo de um lençol no mundo cristão, ocidental e democrata, negociando a privatização da USP.
A vitória de Ahmadinejad foi a vitória do povo do Irã. Só isso. O negocio de abóbora viver carruagem que Obama arranjou no seu discurso no Cairo não funcionou por lá.
Todos a postos para a guerra contra o demônio iraniano?
Todos a postos para a guerra contra o demônio iraniano?
por Paul Craig Roberts,
Counterpunch
Tradução: Coletivo Política para Todos
Que atenção merecem, da mídia dos EUA, eleições no Japão, na Índia, na Argentina, onde for? Quantos norte-americanos e jornalistas norte-americanos algum dia ouviram falar de que há vida eleitoral em outros países além de Inglaterra, França e Alemanha? Quem sabe dizer o nome de algum político importante da Suíça, da Holanda, do Brasil, do Japão ou, mesmo da China?
Pois é. Mas milhões de norte-americans conhecem o presidente do Iran, Ahmadinejad. A razão é óbvia. O presidente do Iran é diariamente demonizado pela mídia dos EUA.
A demonização de Ahmadinejad pela mídia dos EUA é, ela própria, prova da ignorância da imprensa e dos cidadãos norte-americanos.
O presidente do Iran manda muito pouco. Não é o comandante-em-chefe das Forças Armadas. Não tem poder para definir políticas próprias. É simples executor de políticas definidas pelos aiatolás. Os aiatolás, esses, sim, estão decididos a impedir que a revolução popular democrática iraniana seja arrendada pelo dinheiro dos EUA e convertida em algum tipo de 'sub-revolução' codificada pela CIA em tabelas em tons degradés de vermelho.
Os iranianos têm experiência muito amarga com governos dos EUA. A primeira eleição democrática iraniana, depois de o Iran ter sobrevivido à ocupação e à colonização, nos anos 50, foi desqualificada, de fato, foi destruída pelo governo dos EUA. Em lugar do candidato legítima e democraticamente eleito, os EUA impuseram um ditador que torturou e assassinou dissidentes cujo único 'crime' foi lutar por um Iran independente, que não fosse mais um fantoche norte-americano na Região.
O 'superpoder' que governa os EUA jamais perdoou os aiatolás islâmicos pelo sucesso da revolução democrática iraniana dos anos 70s, que derrubou aquele governo fantoche lá instalado e tomou como reféns o pessoal diplomático na embaixada dos EUA, definida como "covil de espiões", enquanto estudantes iranianos desenterravam, dos cofres daquela embaixada, todos os documentos necessários para provar que os EUA trabalhavam dia e noite para destruir a democracia iraniana.
A mídia corporativa controlada pelo governo dos EUA é um perfeito Ministério da Propaganda, respondeu à reeleição de Ahmadinejad com uma tempestade de noticiário sobre os 'violentos protestos' contra eleição que teria sido fraudada.
A fraude eleitoral que não houve foi apresentada como fato, mesmo sem haver uma única evidência de qualquer fraude. Durante o governo de George W. Bush/Karl Rove, a única resposta da mídia dos EUA a eleições comprovadamente fraudadas foi ignorar todas as evidências de fraude real em eleições roubadas.
Líderes fantoches na Inglaterra e na Alemanha alinharam-se imediatamente à operação de guerra psicológica liderada pelos EUA. O muito desacreditado secretário de Relações Exteriores da Inglaterra, David Miliband, resfolegava, de tanta pressa para manifestar "sérias dúvidas" sobre a vitória de Ahmadinejad, num encontro de ministros da União Europeia em Luxembourg. Miliband, é claro, não recebe informações de fontes independentes. Sempre, e só, repete instruções que recebe de Washington e confia no que diga o candidato derrotado nas urnas, no Iran, mas preferido do governo dos EUA.
Angela Merkel, Chanceler alemã, também foi dominada; dobraram-lhe o braço. Mandou chamar o embaixador iraniano e disse que exigia "mais transparência" nas eleições.
Até a esquerda norte-americana endossou o golpe de propaganda do governo dos EUA. Em seu blog nem The Nation, Robert Dreyfus reproduziu as frases histéricas de um dissidente iraniano, como se ali falasse a voz da verdade sobre "eleições ilegítimas" que levariam a um "golpe de Estado".
Qual, afinal, é a fonte das informações que a mídia nos EUA e em todos os Estados fantoches repete sobre as eleições iranianas? Fonte? Não há fonte. Todos só fazem repetir os discursos do candidato derrotado, que os EUA 'prefeririam' ver eleito.
Houve pelo menos uma pesquisa séria, independente, conduzida no Iran, antes das eleições. Ken Ballen, do Center for Public Opinion, organização sem fins lucrativos; e Patrick Doherty, da New America Foundation, também sem fins lucrativos, comentaram os resultados de suas pesquisas, ontem, 15/6, no Washington Post.
A pesquisa foi financiada pelo Rockefeller Brothers Fund e conduzida em Farsi, "por empresa de pesquisas que opera na região para as redes ABC News e BBC e já premiada com um prêmio Emmy" (Washington Post, 15/6/2009, "Pesquisa Ballen-Doherty, http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/06/14/AR2009061401757.html?nav=rss_opinion/columns).
Os resultados dessa pesquisa, a única fonte de informação confiável que há hoje, indicam que o resultado eleitoral manifesta o desejo dos eleitores iranianos. Dentre outras informações interessantíssimas que a pesquisa revela, lê-se:
"Muitos especialistas têm repetido que a vitória do atual presidente Máhmude Ahmadinejad teria sido resultado de fraude ou manipulação, mas a pesquisa de opinião pública que fizemos em todo o Iran, três semanas antes da eleição, já mostrava que Ahmadinejad podia esperar ser eleito no primeiro turno, com maioria significativa, e, de fato, pelos nossos resultados, com diferença ainda maior do que a que se constatou na apuração final dos votos".
Ao mesmo tempo em que todos os noticiários ocidentais com notícias de Teeran repetiam que haveria crescimento nas expectativas eleitorais a favor de Mir Hossein Moussavi, todos os nossos resultados de pesquisa, com dados recolhidos em todas as 30 províncias do Iran, já mostravam enorme diferença a favor de Ahmadinejad nas intenções de voto.
A acentuada preferência dos eleitores pelo candidato Ahmadinejad já era muito evidente desde nossas primeiras pesquisas. Durante a campanha, por exemplo, Moussavi esforçou-se por identificar-se como "Azeri" (o segundo maior grupo étnico na composição populacional do Iran, depois dos persas), com vistas a atrair o voto dos Azeri. Nossa pesquisa mostrou claramente que também entre os Azeri, Ahmadinejad venceria Moussavi, também com mais que o dobro dos votos.
Também falou-se da juventude iraniana e da Internet como fatores decisivos nas eleições. Nossa pesquisa mostrou que menos de 1/3 dos iranianos têm acesso a internet, o que é insuficiente para que a internet possa ser considerado fator decisivo; e que o grupo dos jovens (18-24 anos) é, dentre todos os grupos etários, o que manifesta mais acentuada diferença a favor de Ahmadinejad.
Os únicos grupos sociodemográficos no quais a pesquisa identificou preferência mais significativa pelo candidato Moussavi (embora nem aí Moussavi apareça em primeiro lugar em todos os subgrupos) são o grupo identificado como "estudantes universitários e profissionais liberais" e o grupo identificado como "mais alta renda nacional".
Quando nossa pesquisa foi realizada, quase 1/3 dos iranianos declararam-se indecisos. Mesmo assim, todas as tendências que traçamos, por procedimentos estatísticos regulares e conhecidos, espelham os resultados finais apresentados pelas autoridades iranianas (todos esses procedimentos podem ser auditados e confirmados, a partir dos dados do relatório da pesquisa), o que confirma que os resultados eleitorais apresentados sejam rigorosamente autênticos, sem que se justifique qualquer suspeita de fraude."
Vários jornais e jornalistas têm insistido em noticiar que haveria em andamento um plano para desestabilizar o Iran. Há quem fale de os EUA financiarem ataques terroristas, bombas e assassinatos no Iran. Parte da mídia nos EUA usa esses informes como ilustração de autopromoção do poder dos EUA para controlar e manter sob 'rédea curta' países 'dissidentes'; essa parte da mídia favorece o terror como política admissível contra esses países 'dissidentes'. Outra parte da mídia, na maioria a mídia estrangeira, vê esse tipo de noticiário como evidência da inerente imoralidade do governo norte-americano.
Ex-comandante militar paquistanês, o general Mirza Aslam Beig, disse à Rádio Pashtum, na 2ª-feira, 15/6, que o serviço secreto paquistanês tem provas irrefutáveis de que os EUA trabalharam para tentar alterar o resultado das eleições no Iran. "Há provas de que a CIA gastou 400 milhões de dólares em território iraniano para fazer eclodir uma revolução 'pacífica', 'colorida', contra o governo dos aiatolás, imediatamente depois das eleições."
O sucesso dos EUA ao financiar outras revoluções 'coloridas' na Georgia e Ucrânia e em outras partes do ex-império soviético tem sido tema muito repetido na mídia dos EUA. Para a mídia norte-americana, todos esses 'feitos' seriam manifestação da onipotência 'natural', do direito 'natural' dos EUA, como principal potência do mundo ocidental. Para parte da mídia estrangeira, seriam sempre evidência de que os EUA jamais deixaram de tentar intervir nos assuntos internos de outros países.
No campo objetivo das probabilidades estatísticas, é mais provável que Mir Hossein Moussavi seja mais um fantoche alugado para servir a interesses inconfessáveis dos EUA, do que tenha sido vítima de alguma espécie de fraude eleitoral.
Sabe-se que o governo dos EUA sempre usou instrumentos de guerra psicológica tanto contra os próprios norte-americanos como contra estrangeiros, nos EUA ou fora dos EUA. Em todas essas operações de guerra psicológica a mídia sempre foi instrumento privilegiado, nos EUA e em outros países. Há inúmeros estudos sobre isso.
Consideremos a eleição iraniana do ponto de vista do bom-senso do cidadão comum. Nem eu nem a enorme maioria dos leitores de jornal ou dos públicos telespectadores somos especialistas em Iran.
Alguém supõe que, se meu país vivesse sob constante ameaça de ser atacado (sob ameaça também de ataque nuclear e, isso, sem falar das sanções econômicas!), e se a ameaça viesse de dois países muito mais fortemente armados que o meu (como é o caso do Iran – que vive sob eterna ameaça de ser atacado ou pelos EUA ou por Israel ou por ambos!)... alguém supõe que eu ou você desistiríamos de tentar defender nosso país... para eleger algum candidato que aparecesse... e que interessasse aos EUA, a Israel ou a ambos?!
Passa pela cabeça de alguém que a maioria do povo iraniano teria votado para eleger um candidato que a maioria do povo vê como fantoche dos EUA e de Israel... e que a maioria do povo vê como interessado em converter o Iran em mais um Estado-fantoche dos EUA e de Israel?
A sociedade iraniana é antiga e sofisticada. Os intelectuais são, na maioria, seculares. Uma pequena fração da juventude foi fisgada pelos 'ideais' ocidentais de culto obcecado da satisfação pessoal, do interesse individual, da auto-dedicação aos interesses pessoais. Essas pessoas podem muito facilmente ser organizadas mediante o sempre abundante dinheiro dos EUA para esse tipo de operação 'especial', para fazer oposição ao governo eleito e ao pensamento social islâmico que, sim, impõe limitações ao comportamento individual.
Os EUA estão usando esses iranianos ocidentalizados como base de manobra para, a partir deles, desacreditar as eleições iranianas e o governo legitimamente eleito pela maioria dos iranianos.
Dia 14/6, o McClatchy Washington Bureau, que várias vezes até tenta investigar a fundo as próprias notícias, cedeu também à guerra de propaganda de Washington e publicou: "O resultado das eleições no Iran dificulta ainda mais a já dificílima tarefa de Obama." O que aí se vê são os primeiros movimentos do que, adiante, será a feia caratonha de um "fracasso da diplomacia", que abrirá caminho para uma 'inevitável' intervenção militar. Já aconteceu outras vezes.
(...) O grande poder super-macho está decidido a recuperar a hegemonia que teve sobre o Iran e os iranianos; será a revanche com que os EUA sonham contra os aiatolás que, sim, derrotaram completamente os EUA em 1978.
O script é esse. Para assistir aos capítulos, basta acompanhar, minuto a minuto a televisão nos EUA.
Não faltarão 'especialistas' para explicar o script. Por exemplo, um, colhido ao acaso dentre muitos, lá estava Gary Sick, ex-funcionário do Conselho de Segurança Nacional, atualmente professor na Universidade de Columbia:
"Se tivessem sido mais modestos e anunciado vitória de Ahmadinejad com 51% dos votos" – disse Sick –, os iranianos desconfiariam, mas acabariam aceitando. Mas o governo dizer que Ahmadinejad venceu com 62,6% dos votos? Não, não é crível."
"Parece-me", continuou Sick, "que estamos realmente num ponto de virada decisivo na Revolução Iraniana, de uma posição em que se dizia que a legitimidade da revolução estava no apoio popular, para uma posição que depende cada vez mais da repressão. A voz do povo está sendo ignorada."
Bullshit. Opinionismo sem qualquer fundamento. A única referência confiável, de pesquisa séria que há sobre as eleições iranianas, é a pesquisa citada acima, que o Washington Post publicou. A pesquisa demonstrara, três semanas antes das eleições, que Ahmadinejad era o candidato preferido de mais da metade do universo de eleitores.
Mas nenhuma pesquisa séria interessa. Reinam as regras da propaganda e da mentira. Nada tem a ver com fatos. Reinam as regras da hegemonia que os EUA sempre viveram de impor a outros povos.
Consumidos por esse vício de aspirar cada vez mais ao poder hegemônico, os EUA atropelam qualquer equilíbrio, qualquer moralidade. A democracia que se dane! E assim prosseguirão o script e as ameaças contra todo o mundo, até que os EUA afundem-se, eles mesmos, cada vez mais, para o fundo do poço: falidos, quebrados, no plano interno; e isolados, no plano internacional, universalmente desprezados.
*******************
*Paul Craig Roberts foi secretário-assistente do Tesouro no governo Reagan. É co-autor de The Tyranny of Good Intentions.
O texto original em inglês está aqui: http://www.counterpunch.org/roberts06162009.html
por Paul Craig Roberts,
Counterpunch
Tradução: Coletivo Política para Todos
Que atenção merecem, da mídia dos EUA, eleições no Japão, na Índia, na Argentina, onde for? Quantos norte-americanos e jornalistas norte-americanos algum dia ouviram falar de que há vida eleitoral em outros países além de Inglaterra, França e Alemanha? Quem sabe dizer o nome de algum político importante da Suíça, da Holanda, do Brasil, do Japão ou, mesmo da China?
Pois é. Mas milhões de norte-americans conhecem o presidente do Iran, Ahmadinejad. A razão é óbvia. O presidente do Iran é diariamente demonizado pela mídia dos EUA.
A demonização de Ahmadinejad pela mídia dos EUA é, ela própria, prova da ignorância da imprensa e dos cidadãos norte-americanos.
O presidente do Iran manda muito pouco. Não é o comandante-em-chefe das Forças Armadas. Não tem poder para definir políticas próprias. É simples executor de políticas definidas pelos aiatolás. Os aiatolás, esses, sim, estão decididos a impedir que a revolução popular democrática iraniana seja arrendada pelo dinheiro dos EUA e convertida em algum tipo de 'sub-revolução' codificada pela CIA em tabelas em tons degradés de vermelho.
Os iranianos têm experiência muito amarga com governos dos EUA. A primeira eleição democrática iraniana, depois de o Iran ter sobrevivido à ocupação e à colonização, nos anos 50, foi desqualificada, de fato, foi destruída pelo governo dos EUA. Em lugar do candidato legítima e democraticamente eleito, os EUA impuseram um ditador que torturou e assassinou dissidentes cujo único 'crime' foi lutar por um Iran independente, que não fosse mais um fantoche norte-americano na Região.
O 'superpoder' que governa os EUA jamais perdoou os aiatolás islâmicos pelo sucesso da revolução democrática iraniana dos anos 70s, que derrubou aquele governo fantoche lá instalado e tomou como reféns o pessoal diplomático na embaixada dos EUA, definida como "covil de espiões", enquanto estudantes iranianos desenterravam, dos cofres daquela embaixada, todos os documentos necessários para provar que os EUA trabalhavam dia e noite para destruir a democracia iraniana.
A mídia corporativa controlada pelo governo dos EUA é um perfeito Ministério da Propaganda, respondeu à reeleição de Ahmadinejad com uma tempestade de noticiário sobre os 'violentos protestos' contra eleição que teria sido fraudada.
A fraude eleitoral que não houve foi apresentada como fato, mesmo sem haver uma única evidência de qualquer fraude. Durante o governo de George W. Bush/Karl Rove, a única resposta da mídia dos EUA a eleições comprovadamente fraudadas foi ignorar todas as evidências de fraude real em eleições roubadas.
Líderes fantoches na Inglaterra e na Alemanha alinharam-se imediatamente à operação de guerra psicológica liderada pelos EUA. O muito desacreditado secretário de Relações Exteriores da Inglaterra, David Miliband, resfolegava, de tanta pressa para manifestar "sérias dúvidas" sobre a vitória de Ahmadinejad, num encontro de ministros da União Europeia em Luxembourg. Miliband, é claro, não recebe informações de fontes independentes. Sempre, e só, repete instruções que recebe de Washington e confia no que diga o candidato derrotado nas urnas, no Iran, mas preferido do governo dos EUA.
Angela Merkel, Chanceler alemã, também foi dominada; dobraram-lhe o braço. Mandou chamar o embaixador iraniano e disse que exigia "mais transparência" nas eleições.
Até a esquerda norte-americana endossou o golpe de propaganda do governo dos EUA. Em seu blog nem The Nation, Robert Dreyfus reproduziu as frases histéricas de um dissidente iraniano, como se ali falasse a voz da verdade sobre "eleições ilegítimas" que levariam a um "golpe de Estado".
Qual, afinal, é a fonte das informações que a mídia nos EUA e em todos os Estados fantoches repete sobre as eleições iranianas? Fonte? Não há fonte. Todos só fazem repetir os discursos do candidato derrotado, que os EUA 'prefeririam' ver eleito.
Houve pelo menos uma pesquisa séria, independente, conduzida no Iran, antes das eleições. Ken Ballen, do Center for Public Opinion, organização sem fins lucrativos; e Patrick Doherty, da New America Foundation, também sem fins lucrativos, comentaram os resultados de suas pesquisas, ontem, 15/6, no Washington Post.
A pesquisa foi financiada pelo Rockefeller Brothers Fund e conduzida em Farsi, "por empresa de pesquisas que opera na região para as redes ABC News e BBC e já premiada com um prêmio Emmy" (Washington Post, 15/6/2009, "Pesquisa Ballen-Doherty, http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/06/14/AR2009061401757.html?nav=rss_opinion/columns).
Os resultados dessa pesquisa, a única fonte de informação confiável que há hoje, indicam que o resultado eleitoral manifesta o desejo dos eleitores iranianos. Dentre outras informações interessantíssimas que a pesquisa revela, lê-se:
"Muitos especialistas têm repetido que a vitória do atual presidente Máhmude Ahmadinejad teria sido resultado de fraude ou manipulação, mas a pesquisa de opinião pública que fizemos em todo o Iran, três semanas antes da eleição, já mostrava que Ahmadinejad podia esperar ser eleito no primeiro turno, com maioria significativa, e, de fato, pelos nossos resultados, com diferença ainda maior do que a que se constatou na apuração final dos votos".
Ao mesmo tempo em que todos os noticiários ocidentais com notícias de Teeran repetiam que haveria crescimento nas expectativas eleitorais a favor de Mir Hossein Moussavi, todos os nossos resultados de pesquisa, com dados recolhidos em todas as 30 províncias do Iran, já mostravam enorme diferença a favor de Ahmadinejad nas intenções de voto.
A acentuada preferência dos eleitores pelo candidato Ahmadinejad já era muito evidente desde nossas primeiras pesquisas. Durante a campanha, por exemplo, Moussavi esforçou-se por identificar-se como "Azeri" (o segundo maior grupo étnico na composição populacional do Iran, depois dos persas), com vistas a atrair o voto dos Azeri. Nossa pesquisa mostrou claramente que também entre os Azeri, Ahmadinejad venceria Moussavi, também com mais que o dobro dos votos.
Também falou-se da juventude iraniana e da Internet como fatores decisivos nas eleições. Nossa pesquisa mostrou que menos de 1/3 dos iranianos têm acesso a internet, o que é insuficiente para que a internet possa ser considerado fator decisivo; e que o grupo dos jovens (18-24 anos) é, dentre todos os grupos etários, o que manifesta mais acentuada diferença a favor de Ahmadinejad.
Os únicos grupos sociodemográficos no quais a pesquisa identificou preferência mais significativa pelo candidato Moussavi (embora nem aí Moussavi apareça em primeiro lugar em todos os subgrupos) são o grupo identificado como "estudantes universitários e profissionais liberais" e o grupo identificado como "mais alta renda nacional".
Quando nossa pesquisa foi realizada, quase 1/3 dos iranianos declararam-se indecisos. Mesmo assim, todas as tendências que traçamos, por procedimentos estatísticos regulares e conhecidos, espelham os resultados finais apresentados pelas autoridades iranianas (todos esses procedimentos podem ser auditados e confirmados, a partir dos dados do relatório da pesquisa), o que confirma que os resultados eleitorais apresentados sejam rigorosamente autênticos, sem que se justifique qualquer suspeita de fraude."
Vários jornais e jornalistas têm insistido em noticiar que haveria em andamento um plano para desestabilizar o Iran. Há quem fale de os EUA financiarem ataques terroristas, bombas e assassinatos no Iran. Parte da mídia nos EUA usa esses informes como ilustração de autopromoção do poder dos EUA para controlar e manter sob 'rédea curta' países 'dissidentes'; essa parte da mídia favorece o terror como política admissível contra esses países 'dissidentes'. Outra parte da mídia, na maioria a mídia estrangeira, vê esse tipo de noticiário como evidência da inerente imoralidade do governo norte-americano.
Ex-comandante militar paquistanês, o general Mirza Aslam Beig, disse à Rádio Pashtum, na 2ª-feira, 15/6, que o serviço secreto paquistanês tem provas irrefutáveis de que os EUA trabalharam para tentar alterar o resultado das eleições no Iran. "Há provas de que a CIA gastou 400 milhões de dólares em território iraniano para fazer eclodir uma revolução 'pacífica', 'colorida', contra o governo dos aiatolás, imediatamente depois das eleições."
O sucesso dos EUA ao financiar outras revoluções 'coloridas' na Georgia e Ucrânia e em outras partes do ex-império soviético tem sido tema muito repetido na mídia dos EUA. Para a mídia norte-americana, todos esses 'feitos' seriam manifestação da onipotência 'natural', do direito 'natural' dos EUA, como principal potência do mundo ocidental. Para parte da mídia estrangeira, seriam sempre evidência de que os EUA jamais deixaram de tentar intervir nos assuntos internos de outros países.
No campo objetivo das probabilidades estatísticas, é mais provável que Mir Hossein Moussavi seja mais um fantoche alugado para servir a interesses inconfessáveis dos EUA, do que tenha sido vítima de alguma espécie de fraude eleitoral.
Sabe-se que o governo dos EUA sempre usou instrumentos de guerra psicológica tanto contra os próprios norte-americanos como contra estrangeiros, nos EUA ou fora dos EUA. Em todas essas operações de guerra psicológica a mídia sempre foi instrumento privilegiado, nos EUA e em outros países. Há inúmeros estudos sobre isso.
Consideremos a eleição iraniana do ponto de vista do bom-senso do cidadão comum. Nem eu nem a enorme maioria dos leitores de jornal ou dos públicos telespectadores somos especialistas em Iran.
Alguém supõe que, se meu país vivesse sob constante ameaça de ser atacado (sob ameaça também de ataque nuclear e, isso, sem falar das sanções econômicas!), e se a ameaça viesse de dois países muito mais fortemente armados que o meu (como é o caso do Iran – que vive sob eterna ameaça de ser atacado ou pelos EUA ou por Israel ou por ambos!)... alguém supõe que eu ou você desistiríamos de tentar defender nosso país... para eleger algum candidato que aparecesse... e que interessasse aos EUA, a Israel ou a ambos?!
Passa pela cabeça de alguém que a maioria do povo iraniano teria votado para eleger um candidato que a maioria do povo vê como fantoche dos EUA e de Israel... e que a maioria do povo vê como interessado em converter o Iran em mais um Estado-fantoche dos EUA e de Israel?
A sociedade iraniana é antiga e sofisticada. Os intelectuais são, na maioria, seculares. Uma pequena fração da juventude foi fisgada pelos 'ideais' ocidentais de culto obcecado da satisfação pessoal, do interesse individual, da auto-dedicação aos interesses pessoais. Essas pessoas podem muito facilmente ser organizadas mediante o sempre abundante dinheiro dos EUA para esse tipo de operação 'especial', para fazer oposição ao governo eleito e ao pensamento social islâmico que, sim, impõe limitações ao comportamento individual.
Os EUA estão usando esses iranianos ocidentalizados como base de manobra para, a partir deles, desacreditar as eleições iranianas e o governo legitimamente eleito pela maioria dos iranianos.
Dia 14/6, o McClatchy Washington Bureau, que várias vezes até tenta investigar a fundo as próprias notícias, cedeu também à guerra de propaganda de Washington e publicou: "O resultado das eleições no Iran dificulta ainda mais a já dificílima tarefa de Obama." O que aí se vê são os primeiros movimentos do que, adiante, será a feia caratonha de um "fracasso da diplomacia", que abrirá caminho para uma 'inevitável' intervenção militar. Já aconteceu outras vezes.
(...) O grande poder super-macho está decidido a recuperar a hegemonia que teve sobre o Iran e os iranianos; será a revanche com que os EUA sonham contra os aiatolás que, sim, derrotaram completamente os EUA em 1978.
O script é esse. Para assistir aos capítulos, basta acompanhar, minuto a minuto a televisão nos EUA.
Não faltarão 'especialistas' para explicar o script. Por exemplo, um, colhido ao acaso dentre muitos, lá estava Gary Sick, ex-funcionário do Conselho de Segurança Nacional, atualmente professor na Universidade de Columbia:
"Se tivessem sido mais modestos e anunciado vitória de Ahmadinejad com 51% dos votos" – disse Sick –, os iranianos desconfiariam, mas acabariam aceitando. Mas o governo dizer que Ahmadinejad venceu com 62,6% dos votos? Não, não é crível."
"Parece-me", continuou Sick, "que estamos realmente num ponto de virada decisivo na Revolução Iraniana, de uma posição em que se dizia que a legitimidade da revolução estava no apoio popular, para uma posição que depende cada vez mais da repressão. A voz do povo está sendo ignorada."
Bullshit. Opinionismo sem qualquer fundamento. A única referência confiável, de pesquisa séria que há sobre as eleições iranianas, é a pesquisa citada acima, que o Washington Post publicou. A pesquisa demonstrara, três semanas antes das eleições, que Ahmadinejad era o candidato preferido de mais da metade do universo de eleitores.
Mas nenhuma pesquisa séria interessa. Reinam as regras da propaganda e da mentira. Nada tem a ver com fatos. Reinam as regras da hegemonia que os EUA sempre viveram de impor a outros povos.
Consumidos por esse vício de aspirar cada vez mais ao poder hegemônico, os EUA atropelam qualquer equilíbrio, qualquer moralidade. A democracia que se dane! E assim prosseguirão o script e as ameaças contra todo o mundo, até que os EUA afundem-se, eles mesmos, cada vez mais, para o fundo do poço: falidos, quebrados, no plano interno; e isolados, no plano internacional, universalmente desprezados.
*******************
*Paul Craig Roberts foi secretário-assistente do Tesouro no governo Reagan. É co-autor de The Tyranny of Good Intentions.
O texto original em inglês está aqui: http://www.counterpunch.org/roberts06162009.html
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O Desprazer de ser entrevistado na TV
Dei bastante risada dessa crítica. Estava no site Matéria Prima:
Com o lema "muito respeitoso", o programa "Prazer em Conhecê-lo" não se importa em tratar os entrevistados com cretinice
Equipe Matéria Prima
O programa "Prazer em Conhecê-lo" vai ao ar todos os domingos às 23h, na RedeVida de Televisão, apresentado pelo jornalista Brancato Jr, que, após anos produzindo programas de TV de alto gabarito, conseguiu realizar o sonho de comandar algo no formato do programa "Pinga Fogo" (exibido na extinta TV Tupi) ou "Quem Tem Medo da Verdade" (exibido pela TV Record). Os dois programas contavam com a participação de convidados para encurralar o entrevistado com perguntas bombásticas tiveram na década de 1960.
Sem dúvida, o programa "Prazer em Conhecê-lo" não quer ser enérgico, investigativo, indiscreto ou repugnante. Pelo contrário. É sempre "muito respeitoso" com os entrevistados. O programa conta com um time de entrevistadores inacreditável, uma dupla de filhos de Brancato Jr com atitudes cretinas e mais um casal de amigos que parecem ficar amedrontados ao questionarem os entrevistados, devido ao programa ser exibido em um canal católico.
Brancato Jr dirige o "espetáculo" e utiliza um tom completamente inadequado a um programa de entrevistas, fazendo gerar pequenas pérolas do ridículo. Um exemplo claro disso foi na entrevista com Martinha (cantora da Jovem Guarda). Brancato Jr perguntou à cantora se alguma vez ela havia dito o nome do Senhor em vão. Caberia fazer uma outra pergunta relacionada ao espetáculo que a cantora estava preparando.
Bem, mas isso não é nada. Em outro programa, dessa vez com Luiz Flávio Borges D´Urso, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, Brancato Neto, o célebre filho do apresentador, perguntou ao entrevistado se ele confiava mais na justiça dos homens ou na justiça de Deus. Uma pergunta inapropriada, desprezando o envolvimento do entrevistado como poder judiciário.
Outra vítima do programa foi a jornalista da TV Cultura Salete Lemos. Ela "tagarelava" sobre os barracos que aprontava com o ex-marido antes de se separar. Enquanto respondia aos entrevistadores, um pequeno detalhe deve ter escapado pela produção do programa. A reação dos apresentadores foi instantânea. Foram flagrados pelas câmeras com expressões sérias, diante do relato que a convidada fazia para o pacato telespectador da RedeVida. Logo após Salete terminar, Salete, filha de Brancato Jr, com uma expressão sem graça e um sorriso amarelo, tentou mudar de assunto perguntando "qual é a sua cor favorita?" A entrevistadora não soube sair daquela situação. Afinal, a sua incompetência está à altura.
A cada semana surgem inúmeras pérolas com situações divertidíssimas no programa. Se você quer dar risada de atuações de pessoas de "primeira classe" em fazer perguntas tolas e cretinas assista "Prazer em Conhecê-lo". É um ótimo programa que ensina o que não se deve perguntar em uma entrevista. Afinal, segundo o próprio jornalista Brancato Jr, "o maior espetáculo para o homem ainda é o próprio homem".
Imagem//www.redevida.com.br/grade/programas.html
Depois de tanta cretinice, muito "prazer em conhecê-lo"
OS COMENTÁRIOS QUE NÃO TIVEREM O NOME COMPLETO DO AUTOR E EMAIL PARA CONTATO NÃO SERÃO PUBLICADOS
Autor: Equipe Matéria Prima, 3º jornalismo
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Com o lema "muito respeitoso", o programa "Prazer em Conhecê-lo" não se importa em tratar os entrevistados com cretinice
Equipe Matéria Prima
O programa "Prazer em Conhecê-lo" vai ao ar todos os domingos às 23h, na RedeVida de Televisão, apresentado pelo jornalista Brancato Jr, que, após anos produzindo programas de TV de alto gabarito, conseguiu realizar o sonho de comandar algo no formato do programa "Pinga Fogo" (exibido na extinta TV Tupi) ou "Quem Tem Medo da Verdade" (exibido pela TV Record). Os dois programas contavam com a participação de convidados para encurralar o entrevistado com perguntas bombásticas tiveram na década de 1960.
Sem dúvida, o programa "Prazer em Conhecê-lo" não quer ser enérgico, investigativo, indiscreto ou repugnante. Pelo contrário. É sempre "muito respeitoso" com os entrevistados. O programa conta com um time de entrevistadores inacreditável, uma dupla de filhos de Brancato Jr com atitudes cretinas e mais um casal de amigos que parecem ficar amedrontados ao questionarem os entrevistados, devido ao programa ser exibido em um canal católico.
Brancato Jr dirige o "espetáculo" e utiliza um tom completamente inadequado a um programa de entrevistas, fazendo gerar pequenas pérolas do ridículo. Um exemplo claro disso foi na entrevista com Martinha (cantora da Jovem Guarda). Brancato Jr perguntou à cantora se alguma vez ela havia dito o nome do Senhor em vão. Caberia fazer uma outra pergunta relacionada ao espetáculo que a cantora estava preparando.
Bem, mas isso não é nada. Em outro programa, dessa vez com Luiz Flávio Borges D´Urso, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, Brancato Neto, o célebre filho do apresentador, perguntou ao entrevistado se ele confiava mais na justiça dos homens ou na justiça de Deus. Uma pergunta inapropriada, desprezando o envolvimento do entrevistado como poder judiciário.
Outra vítima do programa foi a jornalista da TV Cultura Salete Lemos. Ela "tagarelava" sobre os barracos que aprontava com o ex-marido antes de se separar. Enquanto respondia aos entrevistadores, um pequeno detalhe deve ter escapado pela produção do programa. A reação dos apresentadores foi instantânea. Foram flagrados pelas câmeras com expressões sérias, diante do relato que a convidada fazia para o pacato telespectador da RedeVida. Logo após Salete terminar, Salete, filha de Brancato Jr, com uma expressão sem graça e um sorriso amarelo, tentou mudar de assunto perguntando "qual é a sua cor favorita?" A entrevistadora não soube sair daquela situação. Afinal, a sua incompetência está à altura.
A cada semana surgem inúmeras pérolas com situações divertidíssimas no programa. Se você quer dar risada de atuações de pessoas de "primeira classe" em fazer perguntas tolas e cretinas assista "Prazer em Conhecê-lo". É um ótimo programa que ensina o que não se deve perguntar em uma entrevista. Afinal, segundo o próprio jornalista Brancato Jr, "o maior espetáculo para o homem ainda é o próprio homem".
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Depois de tanta cretinice, muito "prazer em conhecê-lo"
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sábado, 20 de junho de 2009
Acidente
Esse documentário do Pablo e do Cao Guimaraes há muito volta na minha cabeça. Para mim isso é critério de qualidade. É tudo impressionante: a fotografia em claro e escuro de uma cidade do interior em blecaute, no meio do blecaute, o negro gay falando de amor, etc.
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sexta-feira, 19 de junho de 2009
Uma Paixão Ranchera
Todo dia seu teatro é exatamente igual.
Você finge que me odeia.
Não te trago meus versos, pois eles secam e caem ao chão.
Te trago flores.
A fila anda e a catraca é seletiva.
Sou bruto, rústico e sistemático.
Pelo amor de Deus se for insegurança, tira do seu coração.
Fala. Me liga. Me beija. Ainda vou te salvar.
Eu não quero mais um caso ao acaso.
Cala a boca e me beija.
Você finge que me odeia.
Não te trago meus versos, pois eles secam e caem ao chão.
Te trago flores.
A fila anda e a catraca é seletiva.
Sou bruto, rústico e sistemático.
Pelo amor de Deus se for insegurança, tira do seu coração.
Fala. Me liga. Me beija. Ainda vou te salvar.
Eu não quero mais um caso ao acaso.
Cala a boca e me beija.
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O Fim da Gazeta Mercantil
A edição impressa do jornal Gazeta Mercantil não circulou hoje. Na página eletrônica da empresa, há a informação de que, a partir desta segunda-feira, o Grupo Companhia Brasileira de Multimídia (CBM) "não é mais responsável pela representação das marcas Gazeta Mercantil e InvestNews".
Matéria do jornal Valor indicou que o jornal Gazeta Mercantil não deveria sair hoje e que a CBM manterá um noticiário on-line, o Investimentos e Notícias, que utilizará parte da equipe do também on-line InvestNews.
Desde o fim de semana, o endereço eletrônico do InvestNews já redirecionava o leitor para outros títulos da CBM, entre eles o novo noticiário eletrônico.
Conforme a matéria do jornal Valor, a empresa de Tanure já havia informado de que parte dos profissionais da Gazeta seria realocada a outras atividades impressas e on-line da CBM. Tanure informou na semana passada que devolveria a gestão das marcas da Gazeta Mercantil e do Investews à Gazeta Mercantil S.A., de Luiz pertencente a Fernando Levy.
O Globo, de hoje (especialmente, para quem não acredita... no "fim dos jornais").
Matéria do jornal Valor indicou que o jornal Gazeta Mercantil não deveria sair hoje e que a CBM manterá um noticiário on-line, o Investimentos e Notícias, que utilizará parte da equipe do também on-line InvestNews.
Desde o fim de semana, o endereço eletrônico do InvestNews já redirecionava o leitor para outros títulos da CBM, entre eles o novo noticiário eletrônico.
Conforme a matéria do jornal Valor, a empresa de Tanure já havia informado de que parte dos profissionais da Gazeta seria realocada a outras atividades impressas e on-line da CBM. Tanure informou na semana passada que devolveria a gestão das marcas da Gazeta Mercantil e do Investews à Gazeta Mercantil S.A., de Luiz pertencente a Fernando Levy.
O Globo, de hoje (especialmente, para quem não acredita... no "fim dos jornais").
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Julo Daio Borges
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Uma do Laerte Braga sobre Sarney
Imagine daqui uns mil anos quando os arqueólogos de 3009 forem escavar o Maranhão e encontrarem rua não sei o que Sarney, escola não sei o que Sarney, restaurante não sei o que Sarney, matriz São Sarney a dúvida que isso vai gerar.
Quem foi esse Sarney? Um deus dos primitivos habitantes das estranhas senzalas que chamavam de shopping? Um imperador? Um enviado dos céus? Um extra-terrestre de uma galáxia distante que veio à Terra construir uma pirâmide secreta?
Teste Bacante
TE BACANTE
June 10, 2009 at 5:58 pm · Filed under Essa gente de teatro..., Heliodora, Livro engorda e faz crescer · Por Marco Albuquerque
O Wagner Moura disse recentemente em seu twitter que existe muita gente despreparada escrevendo sobre teatro.
Não temos certeza se este twitter é mesmo de autoria do Wagner Moura, mas, independentemente de Ser ou não Ser, nós nos pegamos questionando se o Capitão Nascimento tinha ou não razão.
Por conta disso resolvemos fazer um teste, tipo aqueles da revista Nova, pra saber se você está ou não preparado para escrever sobre teatro.
Então lá vai…
I TESTE BACANTE PRA SABER SE VOCÊ ESTÁ PREPARADO PARA ESCREVER SOBRE TEATRO
Regra: Some 10 pontos cada vez que responder de forma afirmativa às questões abaixo:
1 – Ao ouvir alguém falar de Lehmann, uma lista enorme de nomes vem à sua mente, e Gerald Thomas normalmente surge antes de Dow Jones?
2 – Você acha que Hamlet e um LP dos Beatles não têm nada a ver, mesmo sabendo que os dois são conterrâneos das Spice Girls?
3 – Você sabe cantar ao menos uma música de Os Sertões, do Teatro Oficina?
4 – Você já assistiu aos episódios de Monty Python’s Flying Circus?
5 – Você já passou horas intermináveis em filas no SESC para comprar ingressos de peças do Peter Brook, do Théàtre du Soleil ou de algum outro grupo hypado do qual, na real, ninguém nunca tinha ouvido falar antes?
6 – Você sabe que Companhia dos Atores não é o apelidinho do Sated ou da Cooperativa Paulista de Teatro?
7 – Você sabe o preço da cerveja em todos os bares da Praça Roosevelt?
8 – Quando você lembra da Bárbara Paz, você pensa primeiro no Grupo Tapa e só depois você lembra da Playboy, da novela Marisol e da Casa dos Artistas?
9 – Se tem brochove?
10 – Você sabe que o Théàtre du Soleil e o Cirque du Soleil não são a mesma coisa?
11 – Você sabe que SBAT não é uma onomatopéia usada no seriado do Batman?
12 – A palavra merda possui conotações positivas pra você?
13 – Você já foi ao teatro ao menos uma vez na vida, ou então conhece alguém que já foi?
14 – Você sabe que Roosevelt não é só o nome de um presidente estadunidense?
15 – O Bortolotto está no TOP 5 das pessoas que você mais encontra numa mesa de bar?
16 – Você sabe que a Cia do Latão não é a versão tupiniquim do STOMP?
17 – Sempre que você ouve a sigla BBB, você pensa imediatamente em Beckett, Brecht e Boal?
18 – Você associa a palavra “vertigem” ao Rio Tietê, a um hospital e a uma igreja antes de associá-la à tontura?
19 – Você acha normal se sentar em um banquinho sujo de madeira em algum porão pra assistir a uma peça sobre as perversidades da alma humana?
20 – Você foi alfabetizado e ainda lembra como escrever?
Como já informamos, a apuração para saber se você está ou não preparado para escrever sobre teatro é muito simples: a cada resposta afirmativa, some 10 pontos.
Após totalizar o seu número de pontos, verifique em que faixa você se enquadra:
- Se você somou 0 pontos. Você tem um longo caminho a percorrer, mas não desanime. Tente descobrir o preço da cerveja na Roosevelt. Já vai ser um bom começo. Depois de beber por algumas horas você já vai estar apto a escrever sobre teatro (ou pelo menos a ditar sua crítica para que alguém alfabetizado escreva por você).
- Se você somou entre 10 e 100 pontos: Você sabe um pouco de teatro, não é mesmo? Sugerimos que você leia isso pra aumentar seus conhecimentos. Mesmo se não quiser ler, não se acanhe, pois você já está apto a escrever sobre teatro.
- Se você somou entre 110 e 180 pontos: Você já sabe bastante de teatro. Mesmo assim, sempre existe espaço pra você se aprimorar. Sugerimos que você aumente seus conhecimentos lendo isso aqui. Capriche nas referências e saia por aí escrevendo sobre teatro sem medo de ser feliz.
- Se você somou 190 pontos: Você é a Barbara Heliodora, não é mesmo? Babi, a gente é seu fããããããã!!!!!!!!!!!! Só faltou você saber o preço da cerveja na Roosevelt para gabaritar aqui no nosso teste… sempre te dissemos que essa informação ia ser importante algum dia… Babi, você precisa escrever mais, pois sentimos falta de ler coisas suas com mais freqüência… Já está mais do que na hora de você lançar seu blog!
- Se você somou 200 pontos: Cara! Você sabe tudo de teatro! Isso deve fazer com que você seja um ser humano incrivelmente chato. Deixe o teatro de lado e comece a ir ao cinema, ao futebol ou à terapia. POR FAVOR, PARE DE ESCREVER SOBRE TEATRO.
- Se você somou mais de 200 pontos: Não tente escrever sobre teatro, você precisa mesmo é de aulas de Matemática.
Comments (3)
June 10, 2009 at 5:58 pm · Filed under Essa gente de teatro..., Heliodora, Livro engorda e faz crescer · Por Marco Albuquerque
O Wagner Moura disse recentemente em seu twitter que existe muita gente despreparada escrevendo sobre teatro.
Não temos certeza se este twitter é mesmo de autoria do Wagner Moura, mas, independentemente de Ser ou não Ser, nós nos pegamos questionando se o Capitão Nascimento tinha ou não razão.
Por conta disso resolvemos fazer um teste, tipo aqueles da revista Nova, pra saber se você está ou não preparado para escrever sobre teatro.
Então lá vai…
I TESTE BACANTE PRA SABER SE VOCÊ ESTÁ PREPARADO PARA ESCREVER SOBRE TEATRO
Regra: Some 10 pontos cada vez que responder de forma afirmativa às questões abaixo:
1 – Ao ouvir alguém falar de Lehmann, uma lista enorme de nomes vem à sua mente, e Gerald Thomas normalmente surge antes de Dow Jones?
2 – Você acha que Hamlet e um LP dos Beatles não têm nada a ver, mesmo sabendo que os dois são conterrâneos das Spice Girls?
3 – Você sabe cantar ao menos uma música de Os Sertões, do Teatro Oficina?
4 – Você já assistiu aos episódios de Monty Python’s Flying Circus?
5 – Você já passou horas intermináveis em filas no SESC para comprar ingressos de peças do Peter Brook, do Théàtre du Soleil ou de algum outro grupo hypado do qual, na real, ninguém nunca tinha ouvido falar antes?
6 – Você sabe que Companhia dos Atores não é o apelidinho do Sated ou da Cooperativa Paulista de Teatro?
7 – Você sabe o preço da cerveja em todos os bares da Praça Roosevelt?
8 – Quando você lembra da Bárbara Paz, você pensa primeiro no Grupo Tapa e só depois você lembra da Playboy, da novela Marisol e da Casa dos Artistas?
9 – Se tem brochove?
10 – Você sabe que o Théàtre du Soleil e o Cirque du Soleil não são a mesma coisa?
11 – Você sabe que SBAT não é uma onomatopéia usada no seriado do Batman?
12 – A palavra merda possui conotações positivas pra você?
13 – Você já foi ao teatro ao menos uma vez na vida, ou então conhece alguém que já foi?
14 – Você sabe que Roosevelt não é só o nome de um presidente estadunidense?
15 – O Bortolotto está no TOP 5 das pessoas que você mais encontra numa mesa de bar?
16 – Você sabe que a Cia do Latão não é a versão tupiniquim do STOMP?
17 – Sempre que você ouve a sigla BBB, você pensa imediatamente em Beckett, Brecht e Boal?
18 – Você associa a palavra “vertigem” ao Rio Tietê, a um hospital e a uma igreja antes de associá-la à tontura?
19 – Você acha normal se sentar em um banquinho sujo de madeira em algum porão pra assistir a uma peça sobre as perversidades da alma humana?
20 – Você foi alfabetizado e ainda lembra como escrever?
Como já informamos, a apuração para saber se você está ou não preparado para escrever sobre teatro é muito simples: a cada resposta afirmativa, some 10 pontos.
Após totalizar o seu número de pontos, verifique em que faixa você se enquadra:
- Se você somou 0 pontos. Você tem um longo caminho a percorrer, mas não desanime. Tente descobrir o preço da cerveja na Roosevelt. Já vai ser um bom começo. Depois de beber por algumas horas você já vai estar apto a escrever sobre teatro (ou pelo menos a ditar sua crítica para que alguém alfabetizado escreva por você).
- Se você somou entre 10 e 100 pontos: Você sabe um pouco de teatro, não é mesmo? Sugerimos que você leia isso pra aumentar seus conhecimentos. Mesmo se não quiser ler, não se acanhe, pois você já está apto a escrever sobre teatro.
- Se você somou entre 110 e 180 pontos: Você já sabe bastante de teatro. Mesmo assim, sempre existe espaço pra você se aprimorar. Sugerimos que você aumente seus conhecimentos lendo isso aqui. Capriche nas referências e saia por aí escrevendo sobre teatro sem medo de ser feliz.
- Se você somou 190 pontos: Você é a Barbara Heliodora, não é mesmo? Babi, a gente é seu fããããããã!!!!!!!!!!!! Só faltou você saber o preço da cerveja na Roosevelt para gabaritar aqui no nosso teste… sempre te dissemos que essa informação ia ser importante algum dia… Babi, você precisa escrever mais, pois sentimos falta de ler coisas suas com mais freqüência… Já está mais do que na hora de você lançar seu blog!
- Se você somou 200 pontos: Cara! Você sabe tudo de teatro! Isso deve fazer com que você seja um ser humano incrivelmente chato. Deixe o teatro de lado e comece a ir ao cinema, ao futebol ou à terapia. POR FAVOR, PARE DE ESCREVER SOBRE TEATRO.
- Se você somou mais de 200 pontos: Não tente escrever sobre teatro, você precisa mesmo é de aulas de Matemática.
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Blogcademia
Um bom blog acadêmico, indicado pela New Yorker:
http://www.elifbatuman.net/
Aqui no Brasil é difícil indicar blogs de acadêmicos ou professores.
De cabeça, só me ocorre o www.minhaliteraturaagora.blogspot.com e o leiturasdogiba.blogspot.com
A maioria dos meus colegas acadêmicos não tem blog, nem site nem posta nada em blog, embora a gente convide. Não fazem como o artigo da New Yorker ("Blogcademia") comenta que seria aconselhável: escrever em vários registros.
http://www.elifbatuman.net/
Aqui no Brasil é difícil indicar blogs de acadêmicos ou professores.
De cabeça, só me ocorre o www.minhaliteraturaagora.blogspot.com e o leiturasdogiba.blogspot.com
A maioria dos meus colegas acadêmicos não tem blog, nem site nem posta nada em blog, embora a gente convide. Não fazem como o artigo da New Yorker ("Blogcademia") comenta que seria aconselhável: escrever em vários registros.
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Gerald Thomas morreu: um encontro de Geraldo com Gerald
Gerald Thomas me revelou, recentemente em seu blog, que o Gerald Thomas do artigo Notas sobre o teatro de Gerald Thomas morreu. Mas não resisto a reproduzir um artigo sobre o falecido: o antigo Gerald Thomas continuará, assim, vivo em nossos corações.
Thursday, March 5, 2009
El ocaso en que descubrí a un tal Gerald.
Walter Greulach (Dibujo de Leo Noboa)
Con admiración y respeto, dedicado al maestro Gerald Thomas
El sol amenazaba con dejarnos en tinieblas, mientras la tarde, impávida, se esforzaba muy poco por evitarlo. Tres o cuatro turistas, tirados panza arriba, se empecinaban en disfrutar de los raquíticos haces de luz en la playa floridana.Aquel jueves de febrero me encontraba al final de la rutinaria tarea de acomoda- reposeras en la playa del National. Metía toallas y cobertores sucios en una bolsa negra, al tiempo que repasaba mentalmente los rótulos que se me habían ido adosando a lo largo de mis cuarenta y pico de infructiferos años. Hijo en Mendoza, estudiante en Córdoba, locutor en Entre Ríos, cocinero en Aruba, mozo en Miami y ahora también “beach attendant”. No muy prometedor para alguien que a los diecisiete años se pensaba el sucesor de Borges o al menos un pichón de Cortazar.
Mi colega Jairo, el chapín, me miró con desgano, señalándome la salida del hotel.
—Atiéndalo usted Walter —me dijo con fingido respeto, a la vez que agarraba una sombrilla tirada en la arena, simulando encontrarse muy ocupado.
—Semejante amabilidad me confunde —pensé divertido. Mi compañero solo hacia esto cuando tenía catalogado al huésped de turno como mal tipeador. Luego me contaría que ya lo había atendido otras veces y nunca recibió mas de cinco dólares.
Cerré con fuerza la bolsa y le salí al encuentro. Mediría unos pocos centímetros más que yo, de cincuenta y tantos años, tez blanca, pelo negrísimo y nariz prominente. Surcó por mi cabeza la idea de que me encontraba en presencia de alguien famoso y rico, un excéntrico personaje de esos que bajan del norte. Desbordaba personalidad. Un tipo con aura dominante, como dicen por ahí.
—¿Puedo ayudarlo señor, se hospeda usted en el National Hotel? —pregunté, con la misma cantaleta repetida mas de mil veces.
Me contestó que se estaba quedando en el cuarto 706 y su nombre era Gerald Thomas. Pese a su blancura casi espectral, descarté que se tratase del director británico de cine fallecido varias décadas atrás.
—Solo quiero que me cuide un rato estas cosas, mientras me pego un baño en el mar —agregó cortésmente, dándome una envoltorio de plástico con ropa y un par de lentes. Un billete de veinte dólares me ayudó a hacer la tarea más placentera.
Estaba un poco fresco, salíamos de un frente frío que bajó los termómetros a treinta y pico, por eso me extraño la naturalidad con la que mr.Thomas se zambulló en el océano.
Unos quince minutos más tarde regresó por sus pertenencias. Le agradecí con un aporreado ingles que denunciaba mi no pertenencia a estas tierras. Me interrogó de donde venia y al contestarle Argentina se le iluminaron los oscuros ojos.
—Ahh, Buenos Aires —exclamó en un español aportuguesado— una de las ciudades mas bellas del mundo. La mixtura justa entre la modernidad europea y el pintoresquismo sudamericano.
Sacudió con la mano unas gotas que pendían de su cabello, se colocó los lentes y agregó :—Hace pocos meses estuve allá, dando unos talleres de teatro en el San Martín. También voy regularmente a Córdoba, al festival internacional.
—¿Es usted un actor de teatro? —pregunté entre curioso y avergonzado por no poder aun reconocerlo.
—Director de teatro —acotó y volviendo al tema de la ciudad porteña que lo tenía fascinado, agregó :—Cuna de Borges y Cortazar, dos geniales escritores que ha dado la lengua española.Catalogó al famoso ginebrino como el más universal de los autores modernos y resaltó el compromiso social y la consecuencia de Julio, a quien dijo haber conocido poco antes de su muerte.
A esa altura yo estaba embobado, me pellizqué disimuladamente para saber si no soñaba. Me encontraba frente a un intelectual de primerísimo nivel y hablando de mis dos mas grandes amores. Luego le tocó el turno a “Rayuela” y el sismo que provocó en la aburguesada literatura de aquel entonces. “Casa tomada” era para él el mejor cuento del franco-argentino, para mi: “La noche boca arriba“. Del genio ciego elogiamos “Borges y yo”, cuento sobre el cual había realizado un cortometraje.
Luego le conté de mi pasión temprana por el teatro, allá en los ochenta, en tierras cordobesas y como la cruda vida me alejó de la mas autentica expresión artística del ser humano.
Cuando las sombras amenazaban la vieja casucha de madera, agarró su bolsita marrón y se despidió. Un grupo de alborotadas gaviotas, cuervos y palomas, habían armado un zafarrancho por un puñado de papas fritas que algún gracioso desparramó en la arena. Nos alejamos unos pasos del bullicio y aproveché para comentarle sobre mi libro de cuentos “El guionista de Dios…¿o del Diablo?”, que desde hacia unos días había salido humildemente al mercado.
—¿Bose escribió un libro? —preguntó sorprendido— me gustaría leerlo.
—Mañana sin falta se lo traigo, será un honor para mí. —exclamé sinceramente.
El viernes amaneció frío y ventoso, grandes olas rompían el otrora calmo horizonte. Sentado en un banquito oculto tras la cabaña, esa aburrida jornada, buscando algún nuevo error, repase mi libro por centésima vez. Mi nuevo amigo ni apareció por la playa. Temí se hiciesen realidad los vaticinios de Ernesto, mi hijo mayor.
—No creo que vuelvas a verlo —habia declarado mi vástago con su habitual optimismo— Seguro que te dijo eso solo por compromiso.
Guardé el libro en mi mochila y regresé a casa bastante decepcionado. Mi última chance de entregárselo seria el sábado, pues domingo y lunes estaba libre.
En la noche me perdí en la red buscando información sobre el tal Gerald Thomas. Tal como lo intuía, resultó ser un prestigioso director anglo-brasilero con una dilatada trayectoria. La verdadera dimensión de su tamaño me la dieron sus sitios en la Web(http://colunistas.ig.com.br/geraldthomas/ y http://www.geraldthomas.com/)
Allí encontré desde una foto suya junto al colosal Samuel Beckett, pasando por unos elogiosos y largos comentarios de Philip Glass, hasta recortes en los más importantes periódicos del planeta alabando sus obras.Asumí con tristeza mi ignorancia y hasta vergüenza sentí por no haber sabido de primeras con quien me enfrentaba.
El tipo, sin lugar a dudas, había revolucionado el teatro brasilero y mundial, ganándose un lugar en el panteón junto a los grandes innovadores de esta época. Parecía ser una de esas personas que se juegan el todo defendiendo sus convicciones. Alabado y denostado por igual. Cielo e infierno. Dios y el Diablo en un cocktail explosivo.
Pasado el mediodía del sábado, el desasosiego pasó a ser resignación. Al final en un acto “temerario”, decidí llamarlo al cuarto 706. Eso lo teníamos estrictamente prohibido y podía llegar a perder mi prestigiosa posición de acomoda reposeras.Me indicó que no se había olvidado de mi libro, solo había estado ocupado con algunos reportajes, y que bajaba a la playa como en diez minutos.
Apareció junto a una elegante y simpática carioca, les di la mejor ubicación, ya reservada desde tempranas horas. Tenia bastante trabajo esa tarde, así que no pude prestarle demasiada atención, además no deseaba caerle pesado estando en tan linda compañía. Como sea me las rebusqué y de tanto en tanto hablamos del bahiense Amado y su folclorismo excesivo, de sus conversaciones con Manuel Puig, de Héctor Babenco y su obra cumbre “Pixote”, etc, etc.
Antes de marcharse y cuando yo ya imaginaba el final de mi historia con el gran Gerald Thomas, me dio un fuerte apretón de manos y dijo: —Walter, me gustaría tomar un café contigo antes de volver a Nueva York.Ahí me enteré que se quedaba unos días mas y ni lerdo ni perezoso, lo invité a encontrarnos en un Starbucks el miércoles a la mañana.
No quiero fatigarlos haciendo estúpido alarde de este encuentro, no es ese el objetivo de esta nota. Vamos al meollo pues…
El miércoles, esperando frente al café, bajo un cielo amenazante, volví a pensar que no vendría. El vuelo suyo salía a la tarde y seguro ya estaría camino al aeropuerto. Llamó por teléfono disculpándose por el atraso, el New York Times le acababa de hacer un interview para saber su opinión sobre el discurso de Obama en el Congreso. Aunque sea unos minutos me dedicaría antes del vuelo y así lo hizo.
Charlamos mas que nada sobre mi libro, mis expectativas, de cómo lo estaba difundiendo y de cómo me podía ayudar. Quedamos que en los próximos días haría un resumen de él y lo mandaría a distintos periódicos. También lo pondría en su sitio(al que entran mas de diez mil personas por día).
Se despidió de mí afectuosamente, con un beso en la mejilla que me agarró desprevenido, invitándome a Nueva York y asegurándome que volveríamos a encontrarnos. Lo vi perderse en la distancia y me quede estático por un rato, tratando de descender de la nebulosa en que me hallaba. Había comenzado a lloviznar y ni siquiera me enteré.
No sé si el caprichoso destino o el imparcial azar volverán a cruzarlo en mi camino. Fue como la aparición de un ángel en el momento que mas lo necesitaba.
No sé si alguna vez saldré de estas arenas miamenses, de esta faena de sonrisas fingidas y frases hechas.
Solo sé que un ocaso de febrero del 2009, descubrí a un tal Gerard. No al director consagrado e intocable, sino a un hombre sencillo y bondadoso.
POSDATA: A los pocos dias, pude constatar en su blog que la promesa de ayudarme habia comenzado a cumplirse….¡GRACIAS GERALD!
Gerald Thomas New York - 03/Março/2009 Constatou-se que 15 por cento da população americana, hoje, oficialmente, é hispânica. Legal e ilegalmente, 15 por cento no habla sequer lo inglês. Eu estava discutindo isso com um brilhante intelectual, um autor argentino que mora em Miami de nome Walter. Acaba de publicar um livro que irei resenhar junto com o livro do Denny Yang, “New York – New York” (um brasileiro de origem chinesa que mora em Taiwan e cujo blog está linkado aqui). O Livro do Walter se chama “O guia de deus?” Ou do diabo?
Gerald Thomas, 05/Março/2009 Ou: “O guia de Deus ou do Diabo?” (Não, esse é o título do livro de Walter Greulach, um genial escritor Argentino (seguindo a tradição de geniais escritores argentinos). Estou num estado de raiva e de “justiçamento” que não tem explicação. Deve ser a idade. Ou a menopausa. Sim, devo estar passando pela menopausa. Nem mais um minuto a perder. Viro-me, me mexo, pulo para várias áreas de Manhattan (várias fechando por causa da recessão), mas tenho me concentrado em reconhecer talentos. Os verdadeiros talentos: os escritos que me caem aqui nessa enorme mesa de metal.Danny Yang, Walter Greulach, Judith Malina sobre Erwin Piscator, uma pilha de novos scripts e Hard Shoulder prosseguindo com o cenário sendo feito na Polônia.
Thursday, March 5, 2009
El ocaso en que descubrí a un tal Gerald.
Walter Greulach (Dibujo de Leo Noboa)
Con admiración y respeto, dedicado al maestro Gerald Thomas
El sol amenazaba con dejarnos en tinieblas, mientras la tarde, impávida, se esforzaba muy poco por evitarlo. Tres o cuatro turistas, tirados panza arriba, se empecinaban en disfrutar de los raquíticos haces de luz en la playa floridana.Aquel jueves de febrero me encontraba al final de la rutinaria tarea de acomoda- reposeras en la playa del National. Metía toallas y cobertores sucios en una bolsa negra, al tiempo que repasaba mentalmente los rótulos que se me habían ido adosando a lo largo de mis cuarenta y pico de infructiferos años. Hijo en Mendoza, estudiante en Córdoba, locutor en Entre Ríos, cocinero en Aruba, mozo en Miami y ahora también “beach attendant”. No muy prometedor para alguien que a los diecisiete años se pensaba el sucesor de Borges o al menos un pichón de Cortazar.
Mi colega Jairo, el chapín, me miró con desgano, señalándome la salida del hotel.
—Atiéndalo usted Walter —me dijo con fingido respeto, a la vez que agarraba una sombrilla tirada en la arena, simulando encontrarse muy ocupado.
—Semejante amabilidad me confunde —pensé divertido. Mi compañero solo hacia esto cuando tenía catalogado al huésped de turno como mal tipeador. Luego me contaría que ya lo había atendido otras veces y nunca recibió mas de cinco dólares.
Cerré con fuerza la bolsa y le salí al encuentro. Mediría unos pocos centímetros más que yo, de cincuenta y tantos años, tez blanca, pelo negrísimo y nariz prominente. Surcó por mi cabeza la idea de que me encontraba en presencia de alguien famoso y rico, un excéntrico personaje de esos que bajan del norte. Desbordaba personalidad. Un tipo con aura dominante, como dicen por ahí.
—¿Puedo ayudarlo señor, se hospeda usted en el National Hotel? —pregunté, con la misma cantaleta repetida mas de mil veces.
Me contestó que se estaba quedando en el cuarto 706 y su nombre era Gerald Thomas. Pese a su blancura casi espectral, descarté que se tratase del director británico de cine fallecido varias décadas atrás.
—Solo quiero que me cuide un rato estas cosas, mientras me pego un baño en el mar —agregó cortésmente, dándome una envoltorio de plástico con ropa y un par de lentes. Un billete de veinte dólares me ayudó a hacer la tarea más placentera.
Estaba un poco fresco, salíamos de un frente frío que bajó los termómetros a treinta y pico, por eso me extraño la naturalidad con la que mr.Thomas se zambulló en el océano.
Unos quince minutos más tarde regresó por sus pertenencias. Le agradecí con un aporreado ingles que denunciaba mi no pertenencia a estas tierras. Me interrogó de donde venia y al contestarle Argentina se le iluminaron los oscuros ojos.
—Ahh, Buenos Aires —exclamó en un español aportuguesado— una de las ciudades mas bellas del mundo. La mixtura justa entre la modernidad europea y el pintoresquismo sudamericano.
Sacudió con la mano unas gotas que pendían de su cabello, se colocó los lentes y agregó :—Hace pocos meses estuve allá, dando unos talleres de teatro en el San Martín. También voy regularmente a Córdoba, al festival internacional.
—¿Es usted un actor de teatro? —pregunté entre curioso y avergonzado por no poder aun reconocerlo.
—Director de teatro —acotó y volviendo al tema de la ciudad porteña que lo tenía fascinado, agregó :—Cuna de Borges y Cortazar, dos geniales escritores que ha dado la lengua española.Catalogó al famoso ginebrino como el más universal de los autores modernos y resaltó el compromiso social y la consecuencia de Julio, a quien dijo haber conocido poco antes de su muerte.
A esa altura yo estaba embobado, me pellizqué disimuladamente para saber si no soñaba. Me encontraba frente a un intelectual de primerísimo nivel y hablando de mis dos mas grandes amores. Luego le tocó el turno a “Rayuela” y el sismo que provocó en la aburguesada literatura de aquel entonces. “Casa tomada” era para él el mejor cuento del franco-argentino, para mi: “La noche boca arriba“. Del genio ciego elogiamos “Borges y yo”, cuento sobre el cual había realizado un cortometraje.
Luego le conté de mi pasión temprana por el teatro, allá en los ochenta, en tierras cordobesas y como la cruda vida me alejó de la mas autentica expresión artística del ser humano.
Cuando las sombras amenazaban la vieja casucha de madera, agarró su bolsita marrón y se despidió. Un grupo de alborotadas gaviotas, cuervos y palomas, habían armado un zafarrancho por un puñado de papas fritas que algún gracioso desparramó en la arena. Nos alejamos unos pasos del bullicio y aproveché para comentarle sobre mi libro de cuentos “El guionista de Dios…¿o del Diablo?”, que desde hacia unos días había salido humildemente al mercado.
—¿Bose escribió un libro? —preguntó sorprendido— me gustaría leerlo.
—Mañana sin falta se lo traigo, será un honor para mí. —exclamé sinceramente.
El viernes amaneció frío y ventoso, grandes olas rompían el otrora calmo horizonte. Sentado en un banquito oculto tras la cabaña, esa aburrida jornada, buscando algún nuevo error, repase mi libro por centésima vez. Mi nuevo amigo ni apareció por la playa. Temí se hiciesen realidad los vaticinios de Ernesto, mi hijo mayor.
—No creo que vuelvas a verlo —habia declarado mi vástago con su habitual optimismo— Seguro que te dijo eso solo por compromiso.
Guardé el libro en mi mochila y regresé a casa bastante decepcionado. Mi última chance de entregárselo seria el sábado, pues domingo y lunes estaba libre.
En la noche me perdí en la red buscando información sobre el tal Gerald Thomas. Tal como lo intuía, resultó ser un prestigioso director anglo-brasilero con una dilatada trayectoria. La verdadera dimensión de su tamaño me la dieron sus sitios en la Web(http://colunistas.ig.com.br/geraldthomas/ y http://www.geraldthomas.com/)
Allí encontré desde una foto suya junto al colosal Samuel Beckett, pasando por unos elogiosos y largos comentarios de Philip Glass, hasta recortes en los más importantes periódicos del planeta alabando sus obras.Asumí con tristeza mi ignorancia y hasta vergüenza sentí por no haber sabido de primeras con quien me enfrentaba.
El tipo, sin lugar a dudas, había revolucionado el teatro brasilero y mundial, ganándose un lugar en el panteón junto a los grandes innovadores de esta época. Parecía ser una de esas personas que se juegan el todo defendiendo sus convicciones. Alabado y denostado por igual. Cielo e infierno. Dios y el Diablo en un cocktail explosivo.
Pasado el mediodía del sábado, el desasosiego pasó a ser resignación. Al final en un acto “temerario”, decidí llamarlo al cuarto 706. Eso lo teníamos estrictamente prohibido y podía llegar a perder mi prestigiosa posición de acomoda reposeras.Me indicó que no se había olvidado de mi libro, solo había estado ocupado con algunos reportajes, y que bajaba a la playa como en diez minutos.
Apareció junto a una elegante y simpática carioca, les di la mejor ubicación, ya reservada desde tempranas horas. Tenia bastante trabajo esa tarde, así que no pude prestarle demasiada atención, además no deseaba caerle pesado estando en tan linda compañía. Como sea me las rebusqué y de tanto en tanto hablamos del bahiense Amado y su folclorismo excesivo, de sus conversaciones con Manuel Puig, de Héctor Babenco y su obra cumbre “Pixote”, etc, etc.
Antes de marcharse y cuando yo ya imaginaba el final de mi historia con el gran Gerald Thomas, me dio un fuerte apretón de manos y dijo: —Walter, me gustaría tomar un café contigo antes de volver a Nueva York.Ahí me enteré que se quedaba unos días mas y ni lerdo ni perezoso, lo invité a encontrarnos en un Starbucks el miércoles a la mañana.
No quiero fatigarlos haciendo estúpido alarde de este encuentro, no es ese el objetivo de esta nota. Vamos al meollo pues…
El miércoles, esperando frente al café, bajo un cielo amenazante, volví a pensar que no vendría. El vuelo suyo salía a la tarde y seguro ya estaría camino al aeropuerto. Llamó por teléfono disculpándose por el atraso, el New York Times le acababa de hacer un interview para saber su opinión sobre el discurso de Obama en el Congreso. Aunque sea unos minutos me dedicaría antes del vuelo y así lo hizo.
Charlamos mas que nada sobre mi libro, mis expectativas, de cómo lo estaba difundiendo y de cómo me podía ayudar. Quedamos que en los próximos días haría un resumen de él y lo mandaría a distintos periódicos. También lo pondría en su sitio(al que entran mas de diez mil personas por día).
Se despidió de mí afectuosamente, con un beso en la mejilla que me agarró desprevenido, invitándome a Nueva York y asegurándome que volveríamos a encontrarnos. Lo vi perderse en la distancia y me quede estático por un rato, tratando de descender de la nebulosa en que me hallaba. Había comenzado a lloviznar y ni siquiera me enteré.
No sé si el caprichoso destino o el imparcial azar volverán a cruzarlo en mi camino. Fue como la aparición de un ángel en el momento que mas lo necesitaba.
No sé si alguna vez saldré de estas arenas miamenses, de esta faena de sonrisas fingidas y frases hechas.
Solo sé que un ocaso de febrero del 2009, descubrí a un tal Gerard. No al director consagrado e intocable, sino a un hombre sencillo y bondadoso.
POSDATA: A los pocos dias, pude constatar en su blog que la promesa de ayudarme habia comenzado a cumplirse….¡GRACIAS GERALD!
Gerald Thomas New York - 03/Março/2009 Constatou-se que 15 por cento da população americana, hoje, oficialmente, é hispânica. Legal e ilegalmente, 15 por cento no habla sequer lo inglês. Eu estava discutindo isso com um brilhante intelectual, um autor argentino que mora em Miami de nome Walter. Acaba de publicar um livro que irei resenhar junto com o livro do Denny Yang, “New York – New York” (um brasileiro de origem chinesa que mora em Taiwan e cujo blog está linkado aqui). O Livro do Walter se chama “O guia de deus?” Ou do diabo?
Gerald Thomas, 05/Março/2009 Ou: “O guia de Deus ou do Diabo?” (Não, esse é o título do livro de Walter Greulach, um genial escritor Argentino (seguindo a tradição de geniais escritores argentinos). Estou num estado de raiva e de “justiçamento” que não tem explicação. Deve ser a idade. Ou a menopausa. Sim, devo estar passando pela menopausa. Nem mais um minuto a perder. Viro-me, me mexo, pulo para várias áreas de Manhattan (várias fechando por causa da recessão), mas tenho me concentrado em reconhecer talentos. Os verdadeiros talentos: os escritos que me caem aqui nessa enorme mesa de metal.Danny Yang, Walter Greulach, Judith Malina sobre Erwin Piscator, uma pilha de novos scripts e Hard Shoulder prosseguindo com o cenário sendo feito na Polônia.
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Walter G. Greulach
Blue man group
Eu vi esses caras no Festival Internacional de Teatro em BH e adorei. É uma tendência do teatro contemporâneo mesmo: não se prender a texto, mesclando-o com música, tecnologia e performance, teatro de rua, etc.
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zap 18
Esse grupo teatral traz a temática política para o palco em BH:
www.zap18.com.br
O espetáculo mais recente deles se chama 1961-2009.
www.zap18.com.br
O espetáculo mais recente deles se chama 1961-2009.
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Um poema de Julian Beck, do Living Theatre
É 1968
sou um realista mágico
vejo os adoradores de Che
vejo o homem de cor
forçado a aceitar
violência
vejo os pacifistas
desesperarem
e aceitarem a violência
vejo tudo tudo tudo
corrompido
pelas vibrações
as vibrações da violência da civilização
que estão despedançando
nosso único mundo (...).
Queremos
agredi-los
com santidade
queremos
fazê-los levitar
com júbilo
queremos
abri-los
com vasos de amor
quremos
vestir os desgraçados
com linho e luz
queremos
pôr música e verdade
em nossa roupa de baixo
queremos
fazer a terra e as cidades refulgirem
de criação
nós a tornaremos
irresistível
até para os racistas
(...)
Queremos transformar
o caráter demoníaco de nossos adversários
em glória produtiva
(Paradise Now, International Times, 12-15 de julho de 1968)
sou um realista mágico
vejo os adoradores de Che
vejo o homem de cor
forçado a aceitar
violência
vejo os pacifistas
desesperarem
e aceitarem a violência
vejo tudo tudo tudo
corrompido
pelas vibrações
as vibrações da violência da civilização
que estão despedançando
nosso único mundo (...).
Queremos
agredi-los
com santidade
queremos
fazê-los levitar
com júbilo
queremos
abri-los
com vasos de amor
quremos
vestir os desgraçados
com linho e luz
queremos
pôr música e verdade
em nossa roupa de baixo
queremos
fazer a terra e as cidades refulgirem
de criação
nós a tornaremos
irresistível
até para os racistas
(...)
Queremos transformar
o caráter demoníaco de nossos adversários
em glória produtiva
(Paradise Now, International Times, 12-15 de julho de 1968)
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terça-feira, 16 de junho de 2009
Artigo de Oswald no melhor blog de modernismo
Publiquei um artigo sobre Oswald naquele que a meu ver é o melhor blog modernista da blogosfera:
http://literalmeida.blogspot.com/
http://literalmeida.blogspot.com/
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Mário de Andrade,
modernismo,
Oswald de Andrade
Blumdia!
JAMES JOYCE
ULYSSES
II.4 - [Calypso]
O Sr. Leopold Bloom comia com prazer as vísceras de
animais e aves. Ele gostava de espessa sopa de miúdos,
castanhosas (1) moelas, um estufado coração assado,
fatias de fígado fritas com migalhas de pão, fritas as ovas
de galinhas. Mais do que tudo ele gostava de rins de
carneiro grelhados que davam a seu paladar um fino aroma
de leve perfumada urina.
Rins estavam na mente dele quando ele se movia leve-
mente na cozinha, ao preparar o desjejum dela numa
arqueada bandeja. Na cozinha um ar e uma luz gélidos
mas além das portas uma gentil manhã de verão plena-
mente. O que fez que ele se sentisse um pouco faminto (2).
Os carvões estavam em brasa.
Outra fatia de pão e manteiga: três, quatro: certo. Ela
não gostava de prato cheio. Certo. Ele voltava-se para a
bandeja, levantou a chaleira da chapa e ajeitou tudo sobre
o fogão. Ficou lá, lerda e agachada, o bico saliente. Xícara
de chá logo. Bom. Boca seca. O gato deslizava ao redor
da perna da mesa com a cauda em riste.
-Mingau!
-Ó, aí está, o Sr. Bloom disse, voltando-se do fogão.
O gato num miado de resposta e deslizou novamente ao
redor da perna da mesa, miando. Do jeito que ela faz sobre
a minha escrivaninha. Prr. Coça minha cabeça. Prr.
O Sr. Bloom olhava curioso, gentil, o ágil vulto negro. Fácil de
ver: o macio pêlo lustoso, o alvo botão sob a base da cauda,
os faiscantes olhos verdes. Ele inclinou-se para ela, com as
mãos nos joelhos.
- Leite para as gatinhas, ele disse.
- Mingau! O gato lamentou.
Rotulados de estúpidos. Eles entendem o que dizemos
melhor do que entendemos eles. Ela entende tudo o que quer.
Vingativa também. Querer saber a que eu me assemelho para
ela. Cume de uma torre? não, ela pode saltar sobre mim.
-Morre de medo de galinhas, ele zombou. Com medo de
galilinhas. (3) Nunca vi uma gatinha mais estúpida.
Cruel. A natureza dela. Ratos curiosos nunca guincham.
Parece gostar disso.
- M-mingau-au! O gato altissonante.
Ela piscou os ávidos olhos envergonhados, miando lamurienta
longamente, exibindo dentes brancoleitosos. Ele olhava os
negros sobrolhos estreitando-se com orgulho até os olhos serem
pedras verdes. Então ele foi ao guarda-louça, pegou o jarro que
o leiteiro Hanlon deixou cheio para ele, serviu tépidoborbulhante
leite numa tijela e pousou-a lentamente no piso.
-Gurrhr! Ela lamuriou, apressando-se a lamber.
Ele olhava os pêlos brilhando rijos na fraca luz quando ela
reclinou-se três vezes e lambeu levemente. Saber se é verdade
que se cortar eles depois não caçam mais. Por que? Eles brilham
no escuro, talvez, as pontas. Ou um tipo de sensores no escuro,
talvez.
Ouvia-a lambendo. Presunto e ovos, não. Nada de ovos bons
com esta seca. Requerem pura água fresca. Quinta-feira: não é
um bom dia para um rim de carneiro lá no Buckley's. fritos com
manteiga, um arrepio de pimenta. Melhor um rim de porco lá no
Dlugacz's. Enquanto a chaleira vai fervendo. Ela lambe devagar,
então lambendo até deixar a tigela limpa. Por que línguas tão
ásperas? Para lamber melhor, com todos os poros. Nada que
não possa comer? Ele olhou ao redor. Não.
(...)
(1)nutty- tb. 'louco, insano'
(2)peckish - tb. Irritado, aborrecido
(3)chook - o mesmo que 'chicken', mas duplicado: 'chookchooks'
tradução: Leonardo de Magalhaens
16jun08
Postado por Leituras E Escritas às 12:58
ULYSSES
II.4 - [Calypso]
O Sr. Leopold Bloom comia com prazer as vísceras de
animais e aves. Ele gostava de espessa sopa de miúdos,
castanhosas (1) moelas, um estufado coração assado,
fatias de fígado fritas com migalhas de pão, fritas as ovas
de galinhas. Mais do que tudo ele gostava de rins de
carneiro grelhados que davam a seu paladar um fino aroma
de leve perfumada urina.
Rins estavam na mente dele quando ele se movia leve-
mente na cozinha, ao preparar o desjejum dela numa
arqueada bandeja. Na cozinha um ar e uma luz gélidos
mas além das portas uma gentil manhã de verão plena-
mente. O que fez que ele se sentisse um pouco faminto (2).
Os carvões estavam em brasa.
Outra fatia de pão e manteiga: três, quatro: certo. Ela
não gostava de prato cheio. Certo. Ele voltava-se para a
bandeja, levantou a chaleira da chapa e ajeitou tudo sobre
o fogão. Ficou lá, lerda e agachada, o bico saliente. Xícara
de chá logo. Bom. Boca seca. O gato deslizava ao redor
da perna da mesa com a cauda em riste.
-Mingau!
-Ó, aí está, o Sr. Bloom disse, voltando-se do fogão.
O gato num miado de resposta e deslizou novamente ao
redor da perna da mesa, miando. Do jeito que ela faz sobre
a minha escrivaninha. Prr. Coça minha cabeça. Prr.
O Sr. Bloom olhava curioso, gentil, o ágil vulto negro. Fácil de
ver: o macio pêlo lustoso, o alvo botão sob a base da cauda,
os faiscantes olhos verdes. Ele inclinou-se para ela, com as
mãos nos joelhos.
- Leite para as gatinhas, ele disse.
- Mingau! O gato lamentou.
Rotulados de estúpidos. Eles entendem o que dizemos
melhor do que entendemos eles. Ela entende tudo o que quer.
Vingativa também. Querer saber a que eu me assemelho para
ela. Cume de uma torre? não, ela pode saltar sobre mim.
-Morre de medo de galinhas, ele zombou. Com medo de
galilinhas. (3) Nunca vi uma gatinha mais estúpida.
Cruel. A natureza dela. Ratos curiosos nunca guincham.
Parece gostar disso.
- M-mingau-au! O gato altissonante.
Ela piscou os ávidos olhos envergonhados, miando lamurienta
longamente, exibindo dentes brancoleitosos. Ele olhava os
negros sobrolhos estreitando-se com orgulho até os olhos serem
pedras verdes. Então ele foi ao guarda-louça, pegou o jarro que
o leiteiro Hanlon deixou cheio para ele, serviu tépidoborbulhante
leite numa tijela e pousou-a lentamente no piso.
-Gurrhr! Ela lamuriou, apressando-se a lamber.
Ele olhava os pêlos brilhando rijos na fraca luz quando ela
reclinou-se três vezes e lambeu levemente. Saber se é verdade
que se cortar eles depois não caçam mais. Por que? Eles brilham
no escuro, talvez, as pontas. Ou um tipo de sensores no escuro,
talvez.
Ouvia-a lambendo. Presunto e ovos, não. Nada de ovos bons
com esta seca. Requerem pura água fresca. Quinta-feira: não é
um bom dia para um rim de carneiro lá no Buckley's. fritos com
manteiga, um arrepio de pimenta. Melhor um rim de porco lá no
Dlugacz's. Enquanto a chaleira vai fervendo. Ela lambe devagar,
então lambendo até deixar a tigela limpa. Por que línguas tão
ásperas? Para lamber melhor, com todos os poros. Nada que
não possa comer? Ele olhou ao redor. Não.
(...)
(1)nutty- tb. 'louco, insano'
(2)peckish - tb. Irritado, aborrecido
(3)chook - o mesmo que 'chicken', mas duplicado: 'chookchooks'
tradução: Leonardo de Magalhaens
16jun08
Postado por Leituras E Escritas às 12:58
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Caras e Bocas X Arte Contemporânea
A telenovela Caras e Bocas, segundo seu autor Walcyr Carrasco, pretende questionar a arte contemporânea e seus "códigos fechados".
Na verdade, trata de ridicularizar qualquer código artístico que não o utilizado nela própria. Ela já fez paródia, segundo a Veja, de Vik Muniz, com o derretimento (lambança) das tais esculturas de chocolate.
Embora se pretenda inspirada num chimpanzé que pintava arte abstrata, será que a telenovela brasileira está preparada para ter seus códigos criticados? Ela, que não pratica um realismo crítico lukacsiano (de jeito nenhum!) e fornece cimento social conservador (novela sem mansão não funciona)? A novela se vende como tendo uma relaçãop privilegiada com a realidade, ou como se ela fosse o verdadeiro realismo. E tome imitação dela em teatro e cinema. É o que Zé Celso chamou "padrão classe média".
A questão é: com seus truques de folhetim (você não é minha mãe!) e melodrama, seu realismo retrógrado, a novela está em posição de criticar alguém?
Não se pode negar que a química entre a chimpanzé expressionista e o ator chimpanzé inexpressionista Marcos Pasquim é ótima (eles já fizeram amooorrr?). Aliás, o grande ator dessa novela é a chimpanzé Keith. A que ponto chegamos! Que venha a grande zoofilia global! Já pensou? "Sua mãe não é um chimpanzé!"
Fora discutir sua ética (ou ausência dela). Eu me lembro bem de que em Que rei sou eu tinha um galã de novela (Edson Celulari) disputando com um barbudinho agressivo (Cássio Gabus) o que de certa forma influenciou a disputa Collor/Lula em 1989.
Na verdade, trata de ridicularizar qualquer código artístico que não o utilizado nela própria. Ela já fez paródia, segundo a Veja, de Vik Muniz, com o derretimento (lambança) das tais esculturas de chocolate.
Embora se pretenda inspirada num chimpanzé que pintava arte abstrata, será que a telenovela brasileira está preparada para ter seus códigos criticados? Ela, que não pratica um realismo crítico lukacsiano (de jeito nenhum!) e fornece cimento social conservador (novela sem mansão não funciona)? A novela se vende como tendo uma relaçãop privilegiada com a realidade, ou como se ela fosse o verdadeiro realismo. E tome imitação dela em teatro e cinema. É o que Zé Celso chamou "padrão classe média".
A questão é: com seus truques de folhetim (você não é minha mãe!) e melodrama, seu realismo retrógrado, a novela está em posição de criticar alguém?
Não se pode negar que a química entre a chimpanzé expressionista e o ator chimpanzé inexpressionista Marcos Pasquim é ótima (eles já fizeram amooorrr?). Aliás, o grande ator dessa novela é a chimpanzé Keith. A que ponto chegamos! Que venha a grande zoofilia global! Já pensou? "Sua mãe não é um chimpanzé!"
Fora discutir sua ética (ou ausência dela). Eu me lembro bem de que em Que rei sou eu tinha um galã de novela (Edson Celulari) disputando com um barbudinho agressivo (Cássio Gabus) o que de certa forma influenciou a disputa Collor/Lula em 1989.
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quinta-feira, 11 de junho de 2009
Um artigo sobre Nietzsche
Nietzsche: controverso até para os nazistas e integralistas
Li com curiosidade um artigo sobre Nietzsche de autoria de Flávio Paranhos, na última revista Filosofia, Ciência e Vida. Ele comenta sobre certa periculosidade de Nietzsche, quando em mãos inconseqüentes e cabeças de vento e sobre certa associação, para ele indelével, com o nazismo.
Paranhos, então, descreveu filmes que se inspiraram em crimes que usaram Nietzsche com justificativa. Ora, Nietzsche jamais incita ao crime nem descreve cenas de crimes. Ele apenas arremete contra a moral e o estado psicológico que permite absurdos tais como o assassinato, que para ele é o niilismo. Ele também o combate. Essas pessoas, no fim das contas, citam Nietzsche apenas como despiste. Os fatores que se unem para tornar alguém um criminoso são inúmeros, desde certa disposição biológica até mental (psicopatia), assim como um meio social favorável. A interpretação errônea de Nietzsche é apenas um álibi.
1. Interpretações de Nietzsche entre os fascistas
Mais oportuno que isso é notar que até entre os filósofos que aderiram ao nazismo Nietzsche era controverso. Até mesmo Rosenberg, teórico oficial do fascismo, afirmava que lia Nietzsche “criticamente” (!). Rosenberg considerava que “em seu nome se levou adiante a infecção da raça por sírios e negros de todas as espécies, supostamente de acordo com os seus ensinamentos. Ele caiu nos sonhos de impudicos amantes políticos, o que é pior do que cair nas mãos de uma quadrilha de bandidos”. Já para Ernest Bertram, seu colega também fascista, Nietzsche não era mais que um “revolucionário trágico”. Para Bertram, inspirado em Simmel, Nietzsche lutou contra os mistérios, mas estava intimamente vinculado ao religioso e à “obscuridade sagrada”, dando como exemplo o seu Zaratustra. Já o professor berlinense, também fascista, Alfred Baeumler recusa completamente essa ideia. Para Baeumler, Nietzsche combate ao mesmo tempo o romantismo e a Ilustração, levando uma guerra em duas frentes, iniciando com seu pensamento um novo período da humanidade. Ele o considera precursor do fascismo somente no sentido em que os fascistas igualmente combatiam ao mesmo tempo o liberalismo e o marxismo, mas condena suas tendências “positivistas”, pois para Baeumler Nietzsche não era suficientemente místico. Baeumler, assim como o escritor Franz Schauwecker, conciliam “a interioridade alemã com o poder alemão”, unindo Nietzsche, Bismarck e Wagner, alegando que era necessário fazer esse “encontro antes impossível”. Assim como Rosenberg demonstra saber que Nietzsche já tinha sido, antes do nazismo, filósofo do liberalismo, Baeumler sabe que Nietzsche, em um aforismo de Aurora, coloca Schopenhauer, Wagner e Bismarck como figuras contaminadas pela decadência. A tática de Baeumler, seu intérprete fascista, foi levar algumas passagens de Nietzsche às últimas conseqüências, tirando delas corolários políticos: ele opõe o super-homem ao funcionário da sociedade social-democrata, que seria o “último homem” comentado no Zaratustra.
2. Expurgando Nietzsche
Portanto, para se poder ler Nietzsche como fascista é preciso expurgar vários elementos de sua obra. Para expurgar a crítica de Wagner enquanto decadente, o biógrafo fascista de Nietzsche, o supracitado Ernest Bertram, afirmou que Nietzsche inspirou a crítica que fez ao maestro em um ensaio de Paul Borget, ele mesmo um escritor que Nietzsche considerava um representante típico da decadência moderna. O que os fascistas admiravam em Nietzsche foi essa crítica da modernidade e da democracia como decadência. No entanto, Nietzsche é aparentado a Wagner e entende sua filosofia como superação de seus próprios elementos decadentes; ao opor a Wagner uma pessimista aceitação da vida, seus admiradores fascistas viram nessa negação a fonte de um “realismo heróico” que eles podiam admirar.
3. Nietzsche e o integralismo de Plínio Salgado
A professora Scarlet Marton sempre comenta sobre a apropriação de Nietzsche realizada pelo integralismo de Plínio Salgado. Pode-se dizer, no entanto, que nem nesse autor a interpretação de Nietzsche é uma só.
Nietzsche aparece como inspirador dos liberais no romance O Esperado, publicado por Plínio Salgado em 1931. Personagens como Dr. Nolasco e Marcos possuem um discurso que por vezes cita literalmente Nietzsche, como quando o personagem do advogado Dr. Nolasco soltou da prisão o comunista Mano, tendo em mente Nietzsche, apenas mais um dentre outros inúmeros autores que formavam a mentalidade liberal da república velha (Tardieu, Krafft-Ebing, Lombroso): “Em todo caso, lembrava-se de Nietzsche e achava que duas educações se tornavam necessárias: a dos super-homens (Nolasco, ateu e sibarita) e a das massas (Mano, que falava na pátria e articulava o nome de Deus)” (SALGADO, p. 288). Bem diverso é o pensamento posterior de Salgado, que pretendia converter todos (elite e povo) a um nacionalismo cristão “integral” “espiritual”, ou seja, hegeliano e totalizante, que ele opunha ao materialismo do marxismo e do liberalismo “fragmentários” e “dissolventes”.
Poucos anos depois, no texto Despertemos a Nação, publicado em 1934, Salgado incorporou um aforisma de Para Além do Bem e do Mal para fazer a apologia de seu nacionalismo místico. Nietzsche comenta que existem povos masculinos, os povos que fecundam os que são fecundados. Salgado aproveita-se disso para propor que o povo brasileiro torne-se um povo ativo, “masculino”, “que fecunda”. Salgado incorpora um pensamento sem citação – e essa é a tônica de sua incorporação de Nietzsche. Ele nunca se preocupa em analisar a obra do pensador e mostrar exatamente o que rejeita e o que concorda.
4. Nietzsche: sempre controverso
A conclusão é que Nietzsche sempre foi controverso, até mesmo entre os nazistas: mesmo entre eles foi necessário suavizar contradições (o que, aliás, é próprio de qualquer interpretação unívoca).
Li com curiosidade um artigo sobre Nietzsche de autoria de Flávio Paranhos, na última revista Filosofia, Ciência e Vida. Ele comenta sobre certa periculosidade de Nietzsche, quando em mãos inconseqüentes e cabeças de vento e sobre certa associação, para ele indelével, com o nazismo.
Paranhos, então, descreveu filmes que se inspiraram em crimes que usaram Nietzsche com justificativa. Ora, Nietzsche jamais incita ao crime nem descreve cenas de crimes. Ele apenas arremete contra a moral e o estado psicológico que permite absurdos tais como o assassinato, que para ele é o niilismo. Ele também o combate. Essas pessoas, no fim das contas, citam Nietzsche apenas como despiste. Os fatores que se unem para tornar alguém um criminoso são inúmeros, desde certa disposição biológica até mental (psicopatia), assim como um meio social favorável. A interpretação errônea de Nietzsche é apenas um álibi.
1. Interpretações de Nietzsche entre os fascistas
Mais oportuno que isso é notar que até entre os filósofos que aderiram ao nazismo Nietzsche era controverso. Até mesmo Rosenberg, teórico oficial do fascismo, afirmava que lia Nietzsche “criticamente” (!). Rosenberg considerava que “em seu nome se levou adiante a infecção da raça por sírios e negros de todas as espécies, supostamente de acordo com os seus ensinamentos. Ele caiu nos sonhos de impudicos amantes políticos, o que é pior do que cair nas mãos de uma quadrilha de bandidos”. Já para Ernest Bertram, seu colega também fascista, Nietzsche não era mais que um “revolucionário trágico”. Para Bertram, inspirado em Simmel, Nietzsche lutou contra os mistérios, mas estava intimamente vinculado ao religioso e à “obscuridade sagrada”, dando como exemplo o seu Zaratustra. Já o professor berlinense, também fascista, Alfred Baeumler recusa completamente essa ideia. Para Baeumler, Nietzsche combate ao mesmo tempo o romantismo e a Ilustração, levando uma guerra em duas frentes, iniciando com seu pensamento um novo período da humanidade. Ele o considera precursor do fascismo somente no sentido em que os fascistas igualmente combatiam ao mesmo tempo o liberalismo e o marxismo, mas condena suas tendências “positivistas”, pois para Baeumler Nietzsche não era suficientemente místico. Baeumler, assim como o escritor Franz Schauwecker, conciliam “a interioridade alemã com o poder alemão”, unindo Nietzsche, Bismarck e Wagner, alegando que era necessário fazer esse “encontro antes impossível”. Assim como Rosenberg demonstra saber que Nietzsche já tinha sido, antes do nazismo, filósofo do liberalismo, Baeumler sabe que Nietzsche, em um aforismo de Aurora, coloca Schopenhauer, Wagner e Bismarck como figuras contaminadas pela decadência. A tática de Baeumler, seu intérprete fascista, foi levar algumas passagens de Nietzsche às últimas conseqüências, tirando delas corolários políticos: ele opõe o super-homem ao funcionário da sociedade social-democrata, que seria o “último homem” comentado no Zaratustra.
2. Expurgando Nietzsche
Portanto, para se poder ler Nietzsche como fascista é preciso expurgar vários elementos de sua obra. Para expurgar a crítica de Wagner enquanto decadente, o biógrafo fascista de Nietzsche, o supracitado Ernest Bertram, afirmou que Nietzsche inspirou a crítica que fez ao maestro em um ensaio de Paul Borget, ele mesmo um escritor que Nietzsche considerava um representante típico da decadência moderna. O que os fascistas admiravam em Nietzsche foi essa crítica da modernidade e da democracia como decadência. No entanto, Nietzsche é aparentado a Wagner e entende sua filosofia como superação de seus próprios elementos decadentes; ao opor a Wagner uma pessimista aceitação da vida, seus admiradores fascistas viram nessa negação a fonte de um “realismo heróico” que eles podiam admirar.
3. Nietzsche e o integralismo de Plínio Salgado
A professora Scarlet Marton sempre comenta sobre a apropriação de Nietzsche realizada pelo integralismo de Plínio Salgado. Pode-se dizer, no entanto, que nem nesse autor a interpretação de Nietzsche é uma só.
Nietzsche aparece como inspirador dos liberais no romance O Esperado, publicado por Plínio Salgado em 1931. Personagens como Dr. Nolasco e Marcos possuem um discurso que por vezes cita literalmente Nietzsche, como quando o personagem do advogado Dr. Nolasco soltou da prisão o comunista Mano, tendo em mente Nietzsche, apenas mais um dentre outros inúmeros autores que formavam a mentalidade liberal da república velha (Tardieu, Krafft-Ebing, Lombroso): “Em todo caso, lembrava-se de Nietzsche e achava que duas educações se tornavam necessárias: a dos super-homens (Nolasco, ateu e sibarita) e a das massas (Mano, que falava na pátria e articulava o nome de Deus)” (SALGADO, p. 288). Bem diverso é o pensamento posterior de Salgado, que pretendia converter todos (elite e povo) a um nacionalismo cristão “integral” “espiritual”, ou seja, hegeliano e totalizante, que ele opunha ao materialismo do marxismo e do liberalismo “fragmentários” e “dissolventes”.
Poucos anos depois, no texto Despertemos a Nação, publicado em 1934, Salgado incorporou um aforisma de Para Além do Bem e do Mal para fazer a apologia de seu nacionalismo místico. Nietzsche comenta que existem povos masculinos, os povos que fecundam os que são fecundados. Salgado aproveita-se disso para propor que o povo brasileiro torne-se um povo ativo, “masculino”, “que fecunda”. Salgado incorpora um pensamento sem citação – e essa é a tônica de sua incorporação de Nietzsche. Ele nunca se preocupa em analisar a obra do pensador e mostrar exatamente o que rejeita e o que concorda.
4. Nietzsche: sempre controverso
A conclusão é que Nietzsche sempre foi controverso, até mesmo entre os nazistas: mesmo entre eles foi necessário suavizar contradições (o que, aliás, é próprio de qualquer interpretação unívoca).
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Filme sobre Jean Charles de Menezes
Filme sobre o jovem mineiro assassinado em Londres:
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Selton Mello
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Diogo Mainardi X Glauber Rocha: Maranhão 2009
O Diogo agora implicou com o Maranhão 66, do Glauber, que ele acha favorável ao Sarney. Diogo, não "intertrepa" errado de novo, não!
Muito curioso Arnaldo Carrilho virar esquerdista modelo! Na biografia do João Carlos Teixeira Gomes, ele é extremamente crítico em relação a todo mundo que aparecia no enterro de Glauber. Ele os chama de esquerda festiva em espetáculo de mau gosto, ressaltando a solidão de Glauber no ato de montar Idade da Terra. E eles são Jabor, Zé Celso, Barreto, etc. Insinua mesmo que todos estavam, como se diz na gíria estudantil, "trepando no cadáver". E na biografia está escrito que Glauber ria do azedume de Carrilho com relação a Roland Barthes e Foucault.
Claro que o Sarney e quem é amigo dele tem direito a dizer que o filme é favorável a quem o financiou. Mas esse foi um caso anômalo de documentário encomendado que virou obra de arte. O choque entre o discurso floreado e as imagens de miséria no sertão é crítico em 66 e hoje com a miséria provocada pelo aquecimento global. Porém, acho salutar o Diogo comentar o Glauber. Ele tá de parabéns. Ele precisa mesmo se digladiar com um adversário de verdade.
DO PERSONAGEM
“Tomava eu posse no Governo do Maranhão e fiz uma ousadia que não deveria ter feito com um amigo da estatura de Glauber Rocha. Eu lhe pedira que documentasse a minha posse. Glauber fez o documentário que foi passado numa sala de cinema de arte, há 15 anos. E quando o público viu que numa sessão de cinema de arte ia ser passado um documentário que podia ter o sentido de uma promoção publicitária, reagiu como tinha que reagir. Mas aí, o documentário começou a ser passado, e quando terminaram os 12 minutos o público levantou-se e aplaudiu de pé, não o tema do documentário mas a maneira pela qual um grande artista pôde transformar um simples documentário numa obra de arte: ele não filmou a minha posse, ele filmou a miséria do Maranhão, a pobreza, filmou as esperanças que nasciam do Maranhão, dos casebres, dos hospitais, dos tipos de ruas, e no meio de tudo aquilo ele colocou a minha voz, mas não a voz do governador. Ele modificou a ciclagem para que a minha voz parecesse, dentro daquele documentário, como se fosse a voz de um fantasma diante daquelas coisas quase irreais, que era a miséria do Estado”.
Senador José Sarney, no Jornal do Brasil, (Rio de Janeiro, 25 de Agosto de 1981).
Vejam o filme e tirem suas próprias conclusões.
Se Glauber estivesse vivo, acho que seria direto: diria algo como: fazer filme no Brasil é mais difícil que escrever na Veja: Mainardi, sua coluna é uma MERDA!
Muito curioso Arnaldo Carrilho virar esquerdista modelo! Na biografia do João Carlos Teixeira Gomes, ele é extremamente crítico em relação a todo mundo que aparecia no enterro de Glauber. Ele os chama de esquerda festiva em espetáculo de mau gosto, ressaltando a solidão de Glauber no ato de montar Idade da Terra. E eles são Jabor, Zé Celso, Barreto, etc. Insinua mesmo que todos estavam, como se diz na gíria estudantil, "trepando no cadáver". E na biografia está escrito que Glauber ria do azedume de Carrilho com relação a Roland Barthes e Foucault.
Claro que o Sarney e quem é amigo dele tem direito a dizer que o filme é favorável a quem o financiou. Mas esse foi um caso anômalo de documentário encomendado que virou obra de arte. O choque entre o discurso floreado e as imagens de miséria no sertão é crítico em 66 e hoje com a miséria provocada pelo aquecimento global. Porém, acho salutar o Diogo comentar o Glauber. Ele tá de parabéns. Ele precisa mesmo se digladiar com um adversário de verdade.
DO PERSONAGEM
“Tomava eu posse no Governo do Maranhão e fiz uma ousadia que não deveria ter feito com um amigo da estatura de Glauber Rocha. Eu lhe pedira que documentasse a minha posse. Glauber fez o documentário que foi passado numa sala de cinema de arte, há 15 anos. E quando o público viu que numa sessão de cinema de arte ia ser passado um documentário que podia ter o sentido de uma promoção publicitária, reagiu como tinha que reagir. Mas aí, o documentário começou a ser passado, e quando terminaram os 12 minutos o público levantou-se e aplaudiu de pé, não o tema do documentário mas a maneira pela qual um grande artista pôde transformar um simples documentário numa obra de arte: ele não filmou a minha posse, ele filmou a miséria do Maranhão, a pobreza, filmou as esperanças que nasciam do Maranhão, dos casebres, dos hospitais, dos tipos de ruas, e no meio de tudo aquilo ele colocou a minha voz, mas não a voz do governador. Ele modificou a ciclagem para que a minha voz parecesse, dentro daquele documentário, como se fosse a voz de um fantasma diante daquelas coisas quase irreais, que era a miséria do Estado”.
Senador José Sarney, no Jornal do Brasil, (Rio de Janeiro, 25 de Agosto de 1981).
Vejam o filme e tirem suas próprias conclusões.
Se Glauber estivesse vivo, acho que seria direto: diria algo como: fazer filme no Brasil é mais difícil que escrever na Veja: Mainardi, sua coluna é uma MERDA!
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Tempo Glauber
Mangabeira Unber, baiano e prussiano
Seja mais baiano e menos prussiano, disse Caetano a Mangabeira. Ele estava ontem na Band, debatendo. Uma frase curiosa, dita a propósito de seu encontro com Obama:
"O Brasil é o país do mundo que mais se assemelha aos Estados Unidos, embora essa semelhança não seja assumida nem aqui nem lá."
Outra dele (mais ou menos transcrita): estamos nos reunindo com BRIC, Brasil, Índia, Rússia e China. Isso está distante do terceiro-mundismo. Estamos tratando do futuro da humanidade.
"O Brasil é o país do mundo que mais se assemelha aos Estados Unidos, embora essa semelhança não seja assumida nem aqui nem lá."
Outra dele (mais ou menos transcrita): estamos nos reunindo com BRIC, Brasil, Índia, Rússia e China. Isso está distante do terceiro-mundismo. Estamos tratando do futuro da humanidade.
Carmen Miranda e Wittgenstein
Saiu o artigo sobre Carmen Miranda e Wittgenstein:
http://www.thedrillpress.com/broca/2009-06-01/broca-2009-06-01-miranda-lsanto-01.shtml
Espero que gostem.
http://www.thedrillpress.com/broca/2009-06-01/broca-2009-06-01-miranda-lsanto-01.shtml
Espero que gostem.
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Terra em Transe, Nelson Rodrigues, etc.
Contrera me pede para falar mais sobre o Glauber. OK!
Bom, o artigo do Diogo Mainardi continha uma cena do Glauber, a uma discussão entre Paulo Martins e Porfírio Diaz. Depois ele citava uma explicação do diretor sobre o filme que dizia que era uma obra sobre a metáfora, ópera e metralhadora.
Ora, pelo que me lembro, a cena entre Paulo Martins é parte da relação tempestuosa desse poeta com o político que o apoiou no início de carreira: a ruptura. Paulo, que é jornalista e poeta, queria trabalhar com ideais políticas reformistas e comunistas e para isso passou a trabalhar com o governador Vieira, traindo Diaz, traição duramente cobrada por ele com aquelas palavras: "sozinho, Paulo, sozinho". Tudo isso dá a entender que Mainardi tem o DVD de Terra em Transe, o que em si já é surpreendente, espantoso. Quem tem esse DVD aí, dentre meus leitores? Você tem, Contrera?
A jogada de Paulo se mostrou desastrosa é desse tipo de imagem dolorosa que o filme tratou: Paulo era aliado de Diaz e poeta e jornalista protegido dele. Diaz é um político oportunista que Paulo biografou em um filme (que aparece no próprio Terra em Transe) chamado Biografia de um Aventureiro, um esculacho em Diaz. Mas logo ele pagará caro: Fernández, político reformista, caiu diante do golpe de Diaz e da grande empresa Explint. Paulo saiu enlouquecido dando tiros e relembrando os últimos acontecimentos: e essa é a narrativa de Terra em Transe.
Era um filme que, em sua época, estava em cima da notícia: o golpe de 64, que a esquerda estava tentando entender melhor em 67. Curiosamente, ao ler os textos de uma coletânea da UNE de 64 a 79, vi que de início, em 65, os documentos eram bem escritos e claros, analisando a conjuntura e traçando que 64 tinha sido uma aliança do capital estrangeiro e do latifúndio. Depois, nos anos 70, passa-se a pedir apenas direitos humanos.
Mainardi diz que Nelson Rodrigues gostou só da cena em que Paulo Martins tampa a boca de Jerônimo e diz olhando para o espectador, numa cena que exercita o distanciamento crítico brechtiano: "tá vendo o que é o povo? Um ignorante, um imbecil, um despolitizado"! É um grito contra uma certa idealização do povo corrente na esquerda da época, e que até mobilizou Augusto Boal a distribuir panfletos contra o filme nas portas dos cinemas (diz a lenda). Mas, como acabo de ler no Questão de Crítica, se Boal não viu Os Inconfidentes do Joaquim Pedro então é possível. Era uma denúncia construtiva e não uma pirraça infantil como faz Mainardi: "mamãe, eu sou reaça!"
A opinião de Nelson sobre Glauber é algo muito especulado. Nunca li nas crônicas dele algo mais aprofundado sobre Glauber --existe algo sobre Terra em Transe, parece que em A Cabra Vadia. Ele diz só brevemente que Terra era um ideograma chinês de cabeça para baixo. Eu esperava encontrar um comentário muito repetido por muita gente, de que o filme era um vômito triunfal, um tabuleiro de xadrez de cabeça para baixo. Não encontrei. Mesmo Ruy Castro já disse que Nelson é mau crítico de cinema e isso recentemente foi confirmado por uma postagem engraçadíssima de Marcelo Coelho a respeito das mulheres em Antonioni comentadas pelo Nelson: ele dizia que a mulher em Antonioni era a anti-mulher, que Antonioni não gostava de mulher. Logo em seguida, Marcelo postou as deslumbrantes mulheres dos filmes do diretor italiano, a começar pela sensual Monica Vitti e sua famosa boca...
O fato é que a postura de Glauber diante do teatro brasileiro era radical: Rei da Vela era todo copiado de Terra em Transe, exagerava ele. Glauber muitas vezes provocou o teatro brasileiro, como arte que precisava se atualizar diante do cinema e acusava a classe teatral de desprezar de maneira forçada o Cinema Novo, movida por inveja. Vejam o que encontrei no Tempo Glauber:
Nelson Rodrigues fala de "Terra em Transe": ("Correio da Manhã, RJ, 16 de maio de 1967
“Durante as duas horas de projeção, não gostei de nada. Minto. Fiquei maravilhado com uma das cenas finais de Terra em Transe. Refiro-me ao momento que dão a palavra ao povo. Mandam o povo falar, e este faz uma pausa ensurdecedora. E, de repente, o filme esfrega na cara da platéia esta verdade mansa, translúcida, eterna: o povo é débil mental. Eu e o filme dizemos isso sem nenhuma crueldade. Foi sempre assim e será assim eternamente. O povo pare os gênios, e só. Depois de os parir volta a babar na gravata (...) Terra em Transe não morrera para mim (...) sentia nas minhas entranhas o seu rumor. De repente, no telefone com o Hélio Pelegrino, houve o berro simultâneo: ‘Genial!’ Estava certo o Gilberto Santeiro (...) Nós estávamos cegos, surdos e mudos para o óbvio. Terra em Transe era o Brasil. Aqueles sujeitos retorcidos em danações hediondas somos nós. Queríamos ver uma mesa bem posta, com tudo nos seus lugares, pratos, talheres e uma impressão de Manchete. Pois Glauber nos deu um vômito triunfal. Os Sertões de Euclides da Cunha também foi o Brasil vomitado. E qualquer obra de arte para ter sentido no Brasil precisa ser essa golfada hedionda.” (cit. Por Tereza Ventura, em A Poética Polytica de Glauber Rocha. Funarte, Rio de Janeiro, 2000)
E o Rei da Vela era um horror para Nelson: Oswald detestava Nelson e o criticou violentamente sempre que pode: Oswald disse que o teatro de Nelson era um "disco voador de besteira" e o autor um "convento do Aretino" (um hipócrita). Nelson também desprezou explicitamente o teatro de Oswald, que possui o mérito de ter sido publicado -- mas não montado--dez anos antes de Vestido de Noiva e que disputa --embora não no maistream-- o título de renovador do nosso teatro.
Bom, o artigo do Diogo Mainardi continha uma cena do Glauber, a uma discussão entre Paulo Martins e Porfírio Diaz. Depois ele citava uma explicação do diretor sobre o filme que dizia que era uma obra sobre a metáfora, ópera e metralhadora.
Ora, pelo que me lembro, a cena entre Paulo Martins é parte da relação tempestuosa desse poeta com o político que o apoiou no início de carreira: a ruptura. Paulo, que é jornalista e poeta, queria trabalhar com ideais políticas reformistas e comunistas e para isso passou a trabalhar com o governador Vieira, traindo Diaz, traição duramente cobrada por ele com aquelas palavras: "sozinho, Paulo, sozinho". Tudo isso dá a entender que Mainardi tem o DVD de Terra em Transe, o que em si já é surpreendente, espantoso. Quem tem esse DVD aí, dentre meus leitores? Você tem, Contrera?
A jogada de Paulo se mostrou desastrosa é desse tipo de imagem dolorosa que o filme tratou: Paulo era aliado de Diaz e poeta e jornalista protegido dele. Diaz é um político oportunista que Paulo biografou em um filme (que aparece no próprio Terra em Transe) chamado Biografia de um Aventureiro, um esculacho em Diaz. Mas logo ele pagará caro: Fernández, político reformista, caiu diante do golpe de Diaz e da grande empresa Explint. Paulo saiu enlouquecido dando tiros e relembrando os últimos acontecimentos: e essa é a narrativa de Terra em Transe.
Era um filme que, em sua época, estava em cima da notícia: o golpe de 64, que a esquerda estava tentando entender melhor em 67. Curiosamente, ao ler os textos de uma coletânea da UNE de 64 a 79, vi que de início, em 65, os documentos eram bem escritos e claros, analisando a conjuntura e traçando que 64 tinha sido uma aliança do capital estrangeiro e do latifúndio. Depois, nos anos 70, passa-se a pedir apenas direitos humanos.
Mainardi diz que Nelson Rodrigues gostou só da cena em que Paulo Martins tampa a boca de Jerônimo e diz olhando para o espectador, numa cena que exercita o distanciamento crítico brechtiano: "tá vendo o que é o povo? Um ignorante, um imbecil, um despolitizado"! É um grito contra uma certa idealização do povo corrente na esquerda da época, e que até mobilizou Augusto Boal a distribuir panfletos contra o filme nas portas dos cinemas (diz a lenda). Mas, como acabo de ler no Questão de Crítica, se Boal não viu Os Inconfidentes do Joaquim Pedro então é possível. Era uma denúncia construtiva e não uma pirraça infantil como faz Mainardi: "mamãe, eu sou reaça!"
A opinião de Nelson sobre Glauber é algo muito especulado. Nunca li nas crônicas dele algo mais aprofundado sobre Glauber --existe algo sobre Terra em Transe, parece que em A Cabra Vadia. Ele diz só brevemente que Terra era um ideograma chinês de cabeça para baixo. Eu esperava encontrar um comentário muito repetido por muita gente, de que o filme era um vômito triunfal, um tabuleiro de xadrez de cabeça para baixo. Não encontrei. Mesmo Ruy Castro já disse que Nelson é mau crítico de cinema e isso recentemente foi confirmado por uma postagem engraçadíssima de Marcelo Coelho a respeito das mulheres em Antonioni comentadas pelo Nelson: ele dizia que a mulher em Antonioni era a anti-mulher, que Antonioni não gostava de mulher. Logo em seguida, Marcelo postou as deslumbrantes mulheres dos filmes do diretor italiano, a começar pela sensual Monica Vitti e sua famosa boca...
O fato é que a postura de Glauber diante do teatro brasileiro era radical: Rei da Vela era todo copiado de Terra em Transe, exagerava ele. Glauber muitas vezes provocou o teatro brasileiro, como arte que precisava se atualizar diante do cinema e acusava a classe teatral de desprezar de maneira forçada o Cinema Novo, movida por inveja. Vejam o que encontrei no Tempo Glauber:
Nelson Rodrigues fala de "Terra em Transe": ("Correio da Manhã, RJ, 16 de maio de 1967
“Durante as duas horas de projeção, não gostei de nada. Minto. Fiquei maravilhado com uma das cenas finais de Terra em Transe. Refiro-me ao momento que dão a palavra ao povo. Mandam o povo falar, e este faz uma pausa ensurdecedora. E, de repente, o filme esfrega na cara da platéia esta verdade mansa, translúcida, eterna: o povo é débil mental. Eu e o filme dizemos isso sem nenhuma crueldade. Foi sempre assim e será assim eternamente. O povo pare os gênios, e só. Depois de os parir volta a babar na gravata (...) Terra em Transe não morrera para mim (...) sentia nas minhas entranhas o seu rumor. De repente, no telefone com o Hélio Pelegrino, houve o berro simultâneo: ‘Genial!’ Estava certo o Gilberto Santeiro (...) Nós estávamos cegos, surdos e mudos para o óbvio. Terra em Transe era o Brasil. Aqueles sujeitos retorcidos em danações hediondas somos nós. Queríamos ver uma mesa bem posta, com tudo nos seus lugares, pratos, talheres e uma impressão de Manchete. Pois Glauber nos deu um vômito triunfal. Os Sertões de Euclides da Cunha também foi o Brasil vomitado. E qualquer obra de arte para ter sentido no Brasil precisa ser essa golfada hedionda.” (cit. Por Tereza Ventura, em A Poética Polytica de Glauber Rocha. Funarte, Rio de Janeiro, 2000)
E o Rei da Vela era um horror para Nelson: Oswald detestava Nelson e o criticou violentamente sempre que pode: Oswald disse que o teatro de Nelson era um "disco voador de besteira" e o autor um "convento do Aretino" (um hipócrita). Nelson também desprezou explicitamente o teatro de Oswald, que possui o mérito de ter sido publicado -- mas não montado--dez anos antes de Vestido de Noiva e que disputa --embora não no maistream-- o título de renovador do nosso teatro.
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terça-feira, 2 de junho de 2009
É tudo Diogo de Novo
Depois de escrever um ou dois posts sobre Diogo Mainardi, fui cobrado pelo Henrique Hemídio, de que eu não deveria comentar o Diogo Mainardi, pois ele é pago para repercutir e assim eu estaria enchendo o bolso do cara.
Só que essa semana, na Veja que eles estão me dando de graça (eles querem me fidelizar, mas não no sentido chavista da coisa, e sim fazer com que eu a assine), o homem pisou no meu calo: Glauber Rocha. Será que é tudo uma grande conspiração? Bom, aposto uma mariola que o Diogo lê o blog do Gerald Thomas.
Diogo, no fim das contas, está junto nessa grande corrente da mídia que, conservadora, só tem elogios para o Henrique Meirelles, blindado em meio a inúmeras denúncias, mas que ataca violentamente o terceiro-mundismo da política externa, que tem dado resultados, tanto que eles mesmos assumem que um dos problemas é que não existirá como voltar atrás nessa política (e isso virou um problema).
Mas ele falou mal do Glauber numa coluna até divertida. Diogo tem humor, um humor irritante. Glauber dizia que o subdesenvolvimento tem uma comicidade epidérmica e que é por isso que o povo ria vendo Mazzaroppi.
Minha mãe é petista roxa e lê ele, pois acha "instigante" (!). Ele está horrorizado com a possibilidade do Brazyl abrir uma embaixada em Pyongyang. Ele teme que, se Arnaldo Carrilho for o embaixador e der um DVD de Terra em Transe para o Kim, que ele jogue uma bomba na gente.
Ora, mas se Arnaldo contasse que esse é um país onde jornalistas que o detestam escrevem livros, colunas, fazem programas de TV de luxo, são um sucesso? Um país onde falar mal dele mesmo é um produto vendável! Aí sim, ele nos bombarderia com razão. É uma boa pedida dar a ele um filme nosso. Sou a favor do livre mercado, da livre circulação das mercadorias e das pessoas, tá sabendo, Dioguito? De quê adianta fazer esses boicotes que as grandes potências querem fazer, sanções internacionais! Acabam punindo as populações, que ficam ainda mais ligadas a esses líderes.
Kim pode gostar, sim, desse papo de ópera e metralhadora.
E uma coisa, Diogo, que você me obriga a falar: a Coréia do Norte, vou deixar por enquanto com acento para dar uma idéia dos mísseis que eles podem jogar, é uma ditadura do proletariado. Tá, é um monstruoso conceito. Mas a do Coreia do Sul foi uma ditadura por trinta anos! Por que? Por que? Ela teve seus Porfirios Diaz!
Assim como o Vietnã do Sul, a Coréia capitalista custou a conseguir legitimidade junto a seu povo. Criar um regime capitalista lá, em 1945, era reaproveitar todos os fascistas e entreguistas que estavam lá desde 1910, ou antes, que foi quando o Japão invadiu o País. Por isso a Coréia do Norte invadiu a do Sul, para acabar com essa farsa de customizar o fascismo no capitalismo. Aliás, se Diogo vivesse lá ia correndo escrever num jornal colaboracionista! Caio Blinder disse uma vez no programa Manhattan Connection que o partido Republicano era amigo do bolso do Francis. Diogo entrou no lugar do Francis, logo...deixa para lá.
Mas deu certo, parcialmente. Aqui também deu certo. Não tem gente que participou do regime de 64 às pampas discursando contra a ditadura de Chávez? O regime de 64 deixava vir palestrista de fora acusá-los de ditadores ou de idiotas, como faz o globetrotter do liberalismo, Vargas Lhosa pai & filho?
Quando a Coréia do Norte invadiu a do Sul, que era área de influência norte-americana, tinha certa razão: quem lutou ao lado dos russos e chineses para libertar a península dos japoneses? Os comunistas. Algum liberal soltou um pio contra a dominação do Japão na Coréia, que data da guerra russo-japonesa da virada do século XIX para o XX? Duvido. Cada país tem o Puerto Rico que merece, não é, Dom Diego "Alemão"?
Então, finalizando, a grande questão da Coréia, a grande carta é: será que até hoje, o povo do Sul se esqueceu de que somente na década de 80 deixou de ser uma ditadura capitalista? Será que podem aceitar a invasão do Norte? E o Japão, potência desmilitarizada, é frágil, vulnerável, precisa pedir apoio aos norte-americanos, o que para eles é humilhante.
Só que essa semana, na Veja que eles estão me dando de graça (eles querem me fidelizar, mas não no sentido chavista da coisa, e sim fazer com que eu a assine), o homem pisou no meu calo: Glauber Rocha. Será que é tudo uma grande conspiração? Bom, aposto uma mariola que o Diogo lê o blog do Gerald Thomas.
Diogo, no fim das contas, está junto nessa grande corrente da mídia que, conservadora, só tem elogios para o Henrique Meirelles, blindado em meio a inúmeras denúncias, mas que ataca violentamente o terceiro-mundismo da política externa, que tem dado resultados, tanto que eles mesmos assumem que um dos problemas é que não existirá como voltar atrás nessa política (e isso virou um problema).
Mas ele falou mal do Glauber numa coluna até divertida. Diogo tem humor, um humor irritante. Glauber dizia que o subdesenvolvimento tem uma comicidade epidérmica e que é por isso que o povo ria vendo Mazzaroppi.
Minha mãe é petista roxa e lê ele, pois acha "instigante" (!). Ele está horrorizado com a possibilidade do Brazyl abrir uma embaixada em Pyongyang. Ele teme que, se Arnaldo Carrilho for o embaixador e der um DVD de Terra em Transe para o Kim, que ele jogue uma bomba na gente.
Ora, mas se Arnaldo contasse que esse é um país onde jornalistas que o detestam escrevem livros, colunas, fazem programas de TV de luxo, são um sucesso? Um país onde falar mal dele mesmo é um produto vendável! Aí sim, ele nos bombarderia com razão. É uma boa pedida dar a ele um filme nosso. Sou a favor do livre mercado, da livre circulação das mercadorias e das pessoas, tá sabendo, Dioguito? De quê adianta fazer esses boicotes que as grandes potências querem fazer, sanções internacionais! Acabam punindo as populações, que ficam ainda mais ligadas a esses líderes.
Kim pode gostar, sim, desse papo de ópera e metralhadora.
E uma coisa, Diogo, que você me obriga a falar: a Coréia do Norte, vou deixar por enquanto com acento para dar uma idéia dos mísseis que eles podem jogar, é uma ditadura do proletariado. Tá, é um monstruoso conceito. Mas a do Coreia do Sul foi uma ditadura por trinta anos! Por que? Por que? Ela teve seus Porfirios Diaz!
Assim como o Vietnã do Sul, a Coréia capitalista custou a conseguir legitimidade junto a seu povo. Criar um regime capitalista lá, em 1945, era reaproveitar todos os fascistas e entreguistas que estavam lá desde 1910, ou antes, que foi quando o Japão invadiu o País. Por isso a Coréia do Norte invadiu a do Sul, para acabar com essa farsa de customizar o fascismo no capitalismo. Aliás, se Diogo vivesse lá ia correndo escrever num jornal colaboracionista! Caio Blinder disse uma vez no programa Manhattan Connection que o partido Republicano era amigo do bolso do Francis. Diogo entrou no lugar do Francis, logo...deixa para lá.
Mas deu certo, parcialmente. Aqui também deu certo. Não tem gente que participou do regime de 64 às pampas discursando contra a ditadura de Chávez? O regime de 64 deixava vir palestrista de fora acusá-los de ditadores ou de idiotas, como faz o globetrotter do liberalismo, Vargas Lhosa pai & filho?
Quando a Coréia do Norte invadiu a do Sul, que era área de influência norte-americana, tinha certa razão: quem lutou ao lado dos russos e chineses para libertar a península dos japoneses? Os comunistas. Algum liberal soltou um pio contra a dominação do Japão na Coréia, que data da guerra russo-japonesa da virada do século XIX para o XX? Duvido. Cada país tem o Puerto Rico que merece, não é, Dom Diego "Alemão"?
Então, finalizando, a grande questão da Coréia, a grande carta é: será que até hoje, o povo do Sul se esqueceu de que somente na década de 80 deixou de ser uma ditadura capitalista? Será que podem aceitar a invasão do Norte? E o Japão, potência desmilitarizada, é frágil, vulnerável, precisa pedir apoio aos norte-americanos, o que para eles é humilhante.
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Um bom blog de design
Blogs dessa área são raros. Outro dia uma aluna me pediu essa indicação e custei a achar. O Orkut é que me salvou. Mas esse do Cláudio é bom:
http://ideiasplasticas.blogspot.com/
http://ideiasplasticas.blogspot.com/
Poema lido ontem no Jô (lembrando de cabeça)
Amor não é aquilo
que você sente por dentro
e esconde.
Isso é vibrador.
Amor não é aquilo
que vem de cima
e cai sobre você.
Isso é passarinho fazendo cocô.
que você sente por dentro
e esconde.
Isso é vibrador.
Amor não é aquilo
que vem de cima
e cai sobre você.
Isso é passarinho fazendo cocô.
Trigueirinho e os intraterrenos
Ei, pessoal, vcs conhecem o Trigueirinho? Ele é um famoso escritor e cineasta autor de Bahia de Todos os Santos (1960). Atualmente, é um espiritualista que tem uma comunidade alternativa no sul de Minas. Ele também tem livros traduzidos e seguidores na Argentina. Segundo ele, existem não só os extraterrestres como os intraterrenos. Encontrei um artigo que conta toda sua trajetória. Ele foi contatado por um suposto médico argentino, e que na verdade um ser extraterrestre chamado Sarumah e que informou a Trigueirinho a existência de um mundo interno, a cidade de ERKS. Desde então, Trigueirinho tem se dedicado a divulgar esse esforço de "transição planetária". Isso tem tudo para virar um conto do Walter Greulach. Vale a pena ler o artigo:
http://www.metaconsciencia.com/artigos/files/Artigo_17.pdf
http://www.metaconsciencia.com/artigos/files/Artigo_17.pdf
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Avião da Air France abduzido
Oi, pessoal, só uma coisa: o pior não é a tragédia em si, é que com esse mistério já já estaremos vendo notícias e versões tais como "o avião foi abduzido por extraterrestres, etc." Esperem só. Já tem gente perguntando no "Yahoo respostas".
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Prefácio do livro As Filhas de Lilith
Oi, pessoal. Hoje é o dia das prostitutas! A todas (?) que frequentam esse blog, parabéns. Acho que todas deveriam trabalhar legalmente, carteira assinada, coisa e tal. A gente não se prostitui nas empresas, nas GM da vida, para depois ser mandado embora depois de ter vendido até a alma? Aliás, bem melhor vender o corpo do que vender a alma! Taí o prefácio que a Jussara Salazar fez para o livro da Cida Pedrosa. Ela tão de parabéns, adorei!
Que o leitor não vá imaginar que em Lilith, seu livro mais recente, Cida Pedrosa apenas articula algum tratado sobre o sentido do ser feminino e suas imbricações. Com sua poesia forte e atenta ao mundo, a tudo que lhe cerca, Cida anuncia um universo a partir de si e também o de uma realidade deslocada, fraturada e desenraizada em sua vastidão e amplidão–, espaço que ela abarcou, aprendeu desde menina, acalentando e iluminando os dias e sóis de sua Bodocó, cidade que se estende incrustada no Sertão de Pernambuco, cidade-menina que Cida veste na fala, nos gestos e na imaginação, e que carrega no olhar espraiado sobre a cidade do Recife, onde vive e alimenta seus sonhos.
Das estações solares carrega as alumiações dos espelhos e do desejo, revelados em uma escrita íntima onde revolve e arranca o pudor dos véus que teimam em esconder a humanidade mais humana, e que ela, poeta, acende nos cigarros e no coração de suas muitas personagens, algumas que agora encontramos em Lilith.
Lilith, ou “lua negra”, mito bíblico, teria sido criada por Deus, feita de barro e à noite. Bela e insubmissa simboliza a eterna divergência entre o masculino e o feminino. Feito de carne, osso, sangue, vísceras, pó-de-arroz e batom, a Lilith de Cida Pedrosa articula as muitas dicções das mulheres e significa todas as muitas graces, wilmas, úrsulas, melissas, ofélias e dianas, entre tantas. Elas existem sem o ranço dos discursos forjados e que já nascem sectários, pois o A/Z das personagens é uma construção minuciosamente mapeada na cuidadosa busca de um rosto, o retrato falado, a descrição do “qualquer um ou uma” a cada página – inventário de um corpo que por si explode feminino / masculino: o corpo dele / era feito para a saia e para o justo / e para os homens que gostam de mulher. Ou ainda: xênia / sempre gostou de mulher / no ginásio cubava as meninas / na troca de roupas de ginástica /. Não importa o gênero e alguma moral, pois o lugar para a autora é sempre o da natureza mais descabida e intensa: / deus venha cá / converse comigo /.
Nada que aprisione ou encarcere está em jogo para ela, pois estão cercadas da mais singular liberdade essas personagens de Cida Pedrosa–, e liberdade é um termo gasto e desfeito hoje no mundo, onde principalmente pairam os falsos paradigmas e as palavras de ordem sobre a humanidade feminina. Aqui as palavras reinscrevem sua condição na beleza cotidiana, expõem sua maquiagem, borrada acertadamente para ser o corpo falível e desfeito, para ser aquele da instância do que é mesmo mais humano.
Abrimos o livro: Angélica. o pênis de angélica/ era de plástico/(...) Eis a sina/ mulher ou homem. Angélica é o anjo que anuncia essa atitude in extremis, anuncia a vida ao revés de si, o destino injusto desígnio, a transcendência de um duplo, um corpo possível que se vê, passa a vida no espelho de sua sina, na dimensão do desejo elevado à potência máxima e que não aceita a negação, o desejo que transita no reino da Vida, que é o mundo das personagens de Cida Pedrosa.
E não indagamos se elas existem de fato, permanece muito clara a opção declaradamente amorosa que a autora faz todo tempo pela poesia, seu posicionamento e seu lugar de apreensão, de onde se põe para o desejo, de costas, instaurando uma percepção do outro que somos em toda grandeza da experiência estética e vital que é existir: animal de quatro patas / exposto ao pássaro / e ao sabor das asas.
As águas da poesia de Cida são as que lavam as calçadas na tirania da água, e que varrem a agonia e a escuridão, pois essa humanidade também é o signo de uma luta ou de uma oposição: / e de tão dor / na dor não se basta / e de tão dor / ocupa o mundo / em barulho e resistência / como também é o sinal da força imanente, que em Cida Pedrosa não vacila entre o ser e a opção pelo destino supremo de sua totalidade e não hesita entre shakes, coxas, anjos, putas, anabolizantes, filhos, terapias, terços, tralhas, postais e cânticos, sejam profanos ou sagrados.
A poesia de Cida é feita de um mundo marcado por imagens, matéria que ela usa para pensar sua geometria de versos cuidadosos, cuja feitura ela constrói com apego à palavra, com o gosto pela linguagem, em busca da imagem mais essencial, mais real e palpável: elisa / de olhos quase infantis / olha para o alto / e se perde / naquele teto povoado de ovelhas / próximas ao cajado do pastor/ ou ainda quando: dona fátima vende goiaba na feira. Compreendemos então que a realidade é a matéria que ela coleta nas calçadas, nas igrejas, nas casas, nos ônibus ou nos lençóis onde a vida resiste bela, contraditória e aí Cida recolhe, junta, costura e segue tecendo em detalhes: priscilla / morena olhos claros pernas grossas / levanta o pau da rapaziada / que bate continência e hasteia gozo / toda vez que ela passa saracoteando / dentro de um biquíni amarelo sem bolinhas.
Para Cida qualquer fragmento cotidiano poderá ser o material catado, às vezes com uma sublimação desmedida em que o simples ritual diário de fazer um café será amplificado a cada sílaba, palavra ou verso, e repetido musicalmente, mágico e contemplativo, evocando uma quase filosofia mística da realidade, à maioria das vezes desapercebida aos olhos e aos sentidos: sebastiana coava café muito bem / desde menina aprendeu o mantra / com sua mãe florisminda / os grãos eram escolhidos na feira / em um ritual de sabedoria /.
Ainda há no livro, a marca de uma ironia refinada, dirigida ao mundo com sua máquina mecanicamente programada para satisfazer e diluir sentido e sensibilidade, para jogar a palavra numa periferia onde jazem o silêncio e o conformismo.
Para Cida é preciso provocar e usar, abusar dessa mesma palavra, des-imobilizar a dureza do gesso do bem-estar e do materialismo simplista, para revirar pelo avesso e re-significar os fatos, redimensionando assim o tempo na ocupação de novos espaços e novos desdobramentos sociais e humanos–, ali onde a cultura resiste, é lugar de oposição e também lugar para iniciar uma reconsideração ética a partir daquele que se vê diante de um mundo fragmentado e fissurado, porém aberto a vigorosas interpretações e estranhamentos: gosta de fazer sexo de manhã / (...) entre um ofício e outro / faz a pesquisa na Internet / (a dor não precisa mais dos jornais / e o filme francês é lento para este tempo de baladas).
Cida Pedrosa e suas musas, em Lilith, dilaceram o cotidiano artificial em que vivemos com a profunda delicadeza dos que fazem do ofício da arte um mundo onde as ideias ainda não foram destruídas de maneira absoluta e onde algumas dessas faíscas permanecem à espera de uma chama, de uma salvação, sem o niilismo dos discursos da negatividade e da alienação: / no lugar do amor / um espinho foi cravado / e no sangue de donzela / foram jogadas cinzas / excisão no corpo / de alma já infibulada. Lilith, portanto, é o discurso amoroso de Cida Pedrosa, sua celebração à vida, aqui, uma escrita compartilhada ampla e generosamente com o leitor e o mundo.
JUSSARA SALAZAR é poeta, artista plástica, designer e nasceu em Caruaru, Pernambuco.
Que o leitor não vá imaginar que em Lilith, seu livro mais recente, Cida Pedrosa apenas articula algum tratado sobre o sentido do ser feminino e suas imbricações. Com sua poesia forte e atenta ao mundo, a tudo que lhe cerca, Cida anuncia um universo a partir de si e também o de uma realidade deslocada, fraturada e desenraizada em sua vastidão e amplidão–, espaço que ela abarcou, aprendeu desde menina, acalentando e iluminando os dias e sóis de sua Bodocó, cidade que se estende incrustada no Sertão de Pernambuco, cidade-menina que Cida veste na fala, nos gestos e na imaginação, e que carrega no olhar espraiado sobre a cidade do Recife, onde vive e alimenta seus sonhos.
Das estações solares carrega as alumiações dos espelhos e do desejo, revelados em uma escrita íntima onde revolve e arranca o pudor dos véus que teimam em esconder a humanidade mais humana, e que ela, poeta, acende nos cigarros e no coração de suas muitas personagens, algumas que agora encontramos em Lilith.
Lilith, ou “lua negra”, mito bíblico, teria sido criada por Deus, feita de barro e à noite. Bela e insubmissa simboliza a eterna divergência entre o masculino e o feminino. Feito de carne, osso, sangue, vísceras, pó-de-arroz e batom, a Lilith de Cida Pedrosa articula as muitas dicções das mulheres e significa todas as muitas graces, wilmas, úrsulas, melissas, ofélias e dianas, entre tantas. Elas existem sem o ranço dos discursos forjados e que já nascem sectários, pois o A/Z das personagens é uma construção minuciosamente mapeada na cuidadosa busca de um rosto, o retrato falado, a descrição do “qualquer um ou uma” a cada página – inventário de um corpo que por si explode feminino / masculino: o corpo dele / era feito para a saia e para o justo / e para os homens que gostam de mulher. Ou ainda: xênia / sempre gostou de mulher / no ginásio cubava as meninas / na troca de roupas de ginástica /. Não importa o gênero e alguma moral, pois o lugar para a autora é sempre o da natureza mais descabida e intensa: / deus venha cá / converse comigo /.
Nada que aprisione ou encarcere está em jogo para ela, pois estão cercadas da mais singular liberdade essas personagens de Cida Pedrosa–, e liberdade é um termo gasto e desfeito hoje no mundo, onde principalmente pairam os falsos paradigmas e as palavras de ordem sobre a humanidade feminina. Aqui as palavras reinscrevem sua condição na beleza cotidiana, expõem sua maquiagem, borrada acertadamente para ser o corpo falível e desfeito, para ser aquele da instância do que é mesmo mais humano.
Abrimos o livro: Angélica. o pênis de angélica/ era de plástico/(...) Eis a sina/ mulher ou homem. Angélica é o anjo que anuncia essa atitude in extremis, anuncia a vida ao revés de si, o destino injusto desígnio, a transcendência de um duplo, um corpo possível que se vê, passa a vida no espelho de sua sina, na dimensão do desejo elevado à potência máxima e que não aceita a negação, o desejo que transita no reino da Vida, que é o mundo das personagens de Cida Pedrosa.
E não indagamos se elas existem de fato, permanece muito clara a opção declaradamente amorosa que a autora faz todo tempo pela poesia, seu posicionamento e seu lugar de apreensão, de onde se põe para o desejo, de costas, instaurando uma percepção do outro que somos em toda grandeza da experiência estética e vital que é existir: animal de quatro patas / exposto ao pássaro / e ao sabor das asas.
As águas da poesia de Cida são as que lavam as calçadas na tirania da água, e que varrem a agonia e a escuridão, pois essa humanidade também é o signo de uma luta ou de uma oposição: / e de tão dor / na dor não se basta / e de tão dor / ocupa o mundo / em barulho e resistência / como também é o sinal da força imanente, que em Cida Pedrosa não vacila entre o ser e a opção pelo destino supremo de sua totalidade e não hesita entre shakes, coxas, anjos, putas, anabolizantes, filhos, terapias, terços, tralhas, postais e cânticos, sejam profanos ou sagrados.
A poesia de Cida é feita de um mundo marcado por imagens, matéria que ela usa para pensar sua geometria de versos cuidadosos, cuja feitura ela constrói com apego à palavra, com o gosto pela linguagem, em busca da imagem mais essencial, mais real e palpável: elisa / de olhos quase infantis / olha para o alto / e se perde / naquele teto povoado de ovelhas / próximas ao cajado do pastor/ ou ainda quando: dona fátima vende goiaba na feira. Compreendemos então que a realidade é a matéria que ela coleta nas calçadas, nas igrejas, nas casas, nos ônibus ou nos lençóis onde a vida resiste bela, contraditória e aí Cida recolhe, junta, costura e segue tecendo em detalhes: priscilla / morena olhos claros pernas grossas / levanta o pau da rapaziada / que bate continência e hasteia gozo / toda vez que ela passa saracoteando / dentro de um biquíni amarelo sem bolinhas.
Para Cida qualquer fragmento cotidiano poderá ser o material catado, às vezes com uma sublimação desmedida em que o simples ritual diário de fazer um café será amplificado a cada sílaba, palavra ou verso, e repetido musicalmente, mágico e contemplativo, evocando uma quase filosofia mística da realidade, à maioria das vezes desapercebida aos olhos e aos sentidos: sebastiana coava café muito bem / desde menina aprendeu o mantra / com sua mãe florisminda / os grãos eram escolhidos na feira / em um ritual de sabedoria /.
Ainda há no livro, a marca de uma ironia refinada, dirigida ao mundo com sua máquina mecanicamente programada para satisfazer e diluir sentido e sensibilidade, para jogar a palavra numa periferia onde jazem o silêncio e o conformismo.
Para Cida é preciso provocar e usar, abusar dessa mesma palavra, des-imobilizar a dureza do gesso do bem-estar e do materialismo simplista, para revirar pelo avesso e re-significar os fatos, redimensionando assim o tempo na ocupação de novos espaços e novos desdobramentos sociais e humanos–, ali onde a cultura resiste, é lugar de oposição e também lugar para iniciar uma reconsideração ética a partir daquele que se vê diante de um mundo fragmentado e fissurado, porém aberto a vigorosas interpretações e estranhamentos: gosta de fazer sexo de manhã / (...) entre um ofício e outro / faz a pesquisa na Internet / (a dor não precisa mais dos jornais / e o filme francês é lento para este tempo de baladas).
Cida Pedrosa e suas musas, em Lilith, dilaceram o cotidiano artificial em que vivemos com a profunda delicadeza dos que fazem do ofício da arte um mundo onde as ideias ainda não foram destruídas de maneira absoluta e onde algumas dessas faíscas permanecem à espera de uma chama, de uma salvação, sem o niilismo dos discursos da negatividade e da alienação: / no lugar do amor / um espinho foi cravado / e no sangue de donzela / foram jogadas cinzas / excisão no corpo / de alma já infibulada. Lilith, portanto, é o discurso amoroso de Cida Pedrosa, sua celebração à vida, aqui, uma escrita compartilhada ampla e generosamente com o leitor e o mundo.
JUSSARA SALAZAR é poeta, artista plástica, designer e nasceu em Caruaru, Pernambuco.
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