quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Rússia X Geórgia: Stálin e a História da Guerra

Pesquisei e descobri que a história dessa guerra é longa. Os russos são uma nação que tem parte de sua população e seu território fora de seu território contíguo. Tem gente na Estônia, no enclave ("oblast") de Kalinigrado, antiga Konigsberg, existem políticos pró-russos na Ucrânia, e, finalmente, na Geórgia. As províncias ocupadas da Ossétia e da Abkázia têm gente de etnia russa.

A guerra começou porque a Geórgia, cujo nacionalismo tem crescido, tentou reabsorver à força a província da Ossétia, que na prática está independente desde os anos 90, quando a URSS acabou e a região foi incluída, a contragosto, na república da Geórgia, após conflitos entre georgianos e população etnicamente russa na região.

Não havia uma guerra na região desde 1918-22, quando a Geórgia ficou independente do império russo e ficou uma república governada pelo partido menchevique. Os ossetianos ficaram contra o governo de Tbilisi e levantara-se apoiando os vermelhos. Houve conflito e repressão. De início, as democracias ocidentais pressionaram como agora e o exército russo retirou suas tropas. A tensão continuou grande na região, com ameaças de intervenção das potências ocidentais para lutar contra os bolcheviques. A Geórgia também foi invadida pelo sul, pela Turquia.

Em 1922, com a derrota dos brancos e a retirada das tropas estrangeiras, o exército vermelho atacou pelo norte e o governo menchevique, derrotado, partiu para o exílio. Os ossetianos foram recompensados e governaram seu "oblast" que incluía não são as regiões etnicamente ligadas aos russos, mas também aldeias de inteira maioria georgiana. De qualquer forma, ficarão alguns "oblasts" no território da Geórgia, o que é um chamariz para novas guerras.

Stálin era da região (as lutas estavam próximas da cidade dele, Gori, onde a casa dele é ponto turístico) e escreveu sobre o problema local das nacionalidades em seu livro O Marxismo e a Questão Nacional. Ele conclui dizendo que não havia esperança para o Cáucaso dentro do regime capitalista, que acirrava os nacionalismos, pois uma etnia ficava muito ressentida ao ver uma outra etnia enriquecer e ela continuar pobre. Só o socialismo o salvaria de ser um lugar de matanças, disputas e guerras.

Como o socialismo parece distante, podemos esperar novos conflitos do Cáucaso. O pior é que os USA e seus aliados sabem que o objetivo geopolítico da Rússia é retomar a hegemonia na região, se possível agregando esses países na Federação Russa. E agem de forma a cercar a Rússia. Uma guerra contra a Rússia é inviável agora, pois as tropas da OTAN e dos USA estão ocupadas no Iraque e no Afeganistão.

Os argumentos dos russos são fortes no momento: eles entraram no conflito para defender cidadãos russos de uma missão de paz no Cáucaso, além das vidas de cidadãos russos na Ossétia, que de fato estavam ameaçados pela entrada das forças georgianas. Eles têm a seu lado o argumento de que, se o Ocidente apóia o Kosovo, a Rússia pode apoiar a Ossétia. Reciprocidade internacional.

Os interesses dos USA foram fortemente atingidos pela guerra. Eles tiveram de retirar tropas que os ajudavam no Iraque para conter o avanço de tropas russas na fronteira. E, com a situação tensa e confusa como está, com os russos dizendo que não retirarão as tropas das regiões separatistas, os georgianos não voltarão ao Iraque tão cedo.

Mas observem a diferença de atitude do Ocidente. É que passa pela Ossétia/Geórgia um oleoduto muito importante para a Europa. Se não fosse isso, quem sabe a situação da Geórgia ficaria como a da Bósnia: Esperando Godot.

Um comentário:

pepel disse...

adorei a forma de voce ter colocado as coisas sobre a russia