O brado de macunaíma continua muito atual. Esse sentimento do Macunaíma é mais que atual: é tédio diante das coisas que, embora barulhentas, são ocas. E a viúva de Cobain quer explorar Caetano, diz uma manchete. Mas, sinceramente, Guilherme Habacuc me parece brilhante. Vou postar uma entrevista dele aqui.
Meu amigo e maestro Nivaldo Santiago me disse: cuidado com Nietzsche, tudo o que ele diz é num tom professoral.
Eu estou achando muito divertida a polêmica lá no Obra em Progresso, do Caetano. Ele tem uma obsessão pelo Diogo Mainardi, que contrapõe ao Sérgio Bianchi, classificando um de direita e o outro de esquerda. No entanto, Caetano e Francis abriram para posições como a de Diogo. No tempo da ditadura militar, uma pessoa como ele seria rejeitada pela esquerda e pela direita e jamais teria tanta importância. Caetano e Francis criticaram o nacional e o popular e Francis, principalmente, explicitou antipatia pelo País e foi aceito assim mesmo.
A coisa deriva para o choque com os linguistas. Foi de longe o post mais comentado dele até hoje no blog, pelo que pude ver. E tem uma disposição para mexer em ninho de vespas. Ele emprega largamente a expressão esnobe há algum tempo. Disse que o neo-rock and roll inglês (The Smiths) seria um esnobismo de massa, ou seja, mania de querer estar na moda e desejo de subir a uma classe superior partilhado pelas massas. Não vejo muito sentido nesse tipo de crítica. Ou é elogio? Ou não! O fato é que Caetano repassa críticas aos outros, muitas vezes de outra geração, sem embasamento para se defender delas. Um exemplo é o MV Bill.
Até o professor Sírio Possenti apareceu lá, a propósito, numa postagem até moderada, dadas conclusões tradicionalistas de Caê. Uma amiga minha uma vez chamou Caetano de Caê nos bastidores de um show e ele esbravejou: Caê não, é muito comercial! A posição de Caetano é: ele conhece as novas teorias (são diferentes de moda, em ciência há avanço e não moda), mas retorna tranquilamente a posições conservadoras. Em termos de linguística, em termos de política. E ele passou de uma coisa a outra tranquilamente! Sobre Lula, ele não tratou de linguística, mas de suas posições políticas. Resumo da ópera: a opinião de Caetano é que Lula pode ser atacado com proveito por não falar português padrão. São ataques políticos que levam em conta, justamente, o preconceito que se tem com quem não fala a variedade padrão num discurso público. E Lula aparenta dominar tanto a norma culta quanto a padrão, vide entrevista para a Folha em 2002, onde ele atirou "concomitantementes" como quem atira rosas para os fãs. A moderação do Obra em Progresso é antipática e necessária, além de um pouquinho obscura, mesmo explicada em seus mistérios. Mistérios do samba de Hermano Viana.
O livro Mistério do Samba, do Hermano, teve momentos bons, como quando disse que os frankfurtianos teriam de falar na raiz negra do jazz. Eu destaco como momento infeliz um em que ele fala que a Axé Music é "cartão postal" (?) e escreve em nota de rodapé: não tenho nada contra cartão postal...
E eu ainda vou escrever um livro: "À Sombra das Piriguetes em Flor", explicando Proust para os jovens. Não, pessoal, não é o Alain Prost da Fórmula 1. Pois rapariga é mais pesado que moça, rapariga é piriguete, que eu saiba, aqui e na Bahia. Se Caetano for realmente seguir a norma culta, deve cantar "Eu sei que vou amar-te" ou "eu sei que te vou amar" quando for cantar a famosa canção. Será que José Saramago aprovará? Há chances de sucesso em Portugal e de pontos com o Pasquale.
Finalmente: usar uma metáfora onde a norma culta vira "sistema de esgoto das elites" e o português não-padrão é associado a "favelas" foi um lance digno não de Valdick Soriano, mas de Frankito López, o índio apaixonado...
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