segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Artigo de Fausto com uma crítica bobinha ao Gerald

Esse artigo abaixo de Fausto Wolff foi tirado da revista dele, O Lobo. Não discuto o conteúdo, mas tem uma crítica bem bobinha ao Gerald Thomas. O artista cria é a partir de um nada mesmo e seu grande mérito é transformar uma coisinha, um nada, em arte. Se conseguir criar com as nádegas, então, melhor ainda, pois supera as limitações de boa parte da humanidade, que só cria bosta com as nádegas.



Meu Nome é Santoro, aliás, Doutor Stockman!

Fausto Wolff


* George Wilson, um dos grandes diretores teatrais do século XX, disse-me há muitos anos que preferia Strindberg a Ibsen. Eu não iria tão longe. Pessoalmente, me identifico mais com o torturado sueco e jornalisticamente mais com o moralista norueguês. Por favor não entendam o moralismo como obediência às convenções morais da sua época mas como transformação das hipocrisias morais que dominam o mundo até hoje. A verdade é que ambos foram os maiores dramaturgos do seu tempo. Oscar Wilde e suas frases de efeito não davam nem para a saída. Ambos pesos pesados. Como Bing Crosby que deu o azar de ser contemporâneo de Sinatra, Strindberg deu o azar de ser contemporâneo de Ibsen. Enquanto o último vociferava contra o norueguês, um pouco mais velho, Ibsen que, apesar da sólida aparência burguesa tinha humor, dizia: “Tenho um retrato do maluco Strindberg na parede em frente à minha escrivaninha. Ele me inspira.”


* Um dos textos mais revolucionários de Ibsen chama-se O Inimigo do Povo e conta a história de um médico que retorna à sua cidade natal, uma espécie de Caxambu, casado e com filhos. Seu irmão, prefeito, arranja-lhe um lugar como diretor geral dos estabelecimentos termais. Não demora muito para o doutor Stockman, este o nome do médico, descobrir que as águas da cidade-balneario para a qual ocorrem doentes de todo o país, em vez de curar, matam. Informa a descoberta ao irmão que ordena que ele se cale. Criado o conflito e perseguido pela consciência, Stockman procura o partido adversário que combate o irmão e é muito bem recebido. Claro, eles denunciarão a farsa e o prefeito terá de se explicar. Antes que a coisa exploda o prefeito reúne-se com a oposição e se explica.: cidade é rica por causa dos estabelecimentos termais e do dinheiro que os pacientes nela descarregam. Como não se trata de uma cidade nem industrial e nem agrícola, logo todos os comerciantes estarão na miséria. Para resumir uma longa história: Stockman, apesar dos seus discursos em praça pública, é escorraçado da cidade com a sua família. O homem mais só é aquele que ousa dizer a verdade.


* Nos meus quase cinqüenta anos de jornalismo não apenas senti na pele o sofrimento do dr. Stockman como a vivenciei ano a ano pois o Brasil, notadamente, de 1964 para cá vem sendo governado pela mentira e pela hipocrisia. Desde os seus primórdios o PT tomou o lugar dos comunistas e – embora ninguém falasse – todos, eu inclusive, acreditaram que se tratava de um partido de esquerda. Exilados da alta classe média e da alta burguesia, intelectuais idealistas, juntaram-se à volta de um líder sindical operário que se tornaria o símbolo da justiça social. Nesse meio tempo o PT foi crescendo e seus líderes enriquecendo. A classe média – cuja única ideologia é agarrar-se nas raízes para não ser levada pelo caudaloso rio do proletariado que entre nós se chama miserabilidade mesmo – votou contra o PT enquanto pôde. Fernando Henrique Cardoso, ex-socialista que fundou o PSDB pois não queria sujar as mãos com certos elementos do PMDB, logo mostrou a que veio Praticamente acabou com o pequeno empresariado, privatizou nossas riquezas, aumentou a dívida externa e o déficit interno, desempregou milhões de pessoas e acelerou o processo de criminalização entre os mais pobres, enfim, um genocida, um cabo Anselmo protegido por um diploma e dono de nauseabunda vaidade. Não tendo outra opção a classe média votou em Lula e os miseráveis, a grande maioria, a acompanhou.


* Seria redundante dizer que, no governo, de positivo o PT ainda não fez nada. De negativo: aumentou os juros, tirou o dinheiro dos aposentados, congelou os salários, deu carta branca aos banqueiros, escancarou as portas para as transnacionais, cobriu os calotes dessas mesmas transnacionais, deixou a inflação não indexada correr solta diminuiu o PIB e a renda per capita, diminuiu a cesta básica mas aumentou o seu preço, expulsou os que acreditaram no programa socializador do partido e juntou-se aos seus piores inimigos de ontem que podem ser sintetizados nos nomes de Antonio Carlos Magalhães, José Sarney e Jader Barbalho, todos com contas a ajustar com a o Ministério Público que no Brasil, infelizmente, só é especialista em ver pobres roubando pão. Pagamos salários triplos para deputados e senadores se reunirem durante a recessão e nada de importante foi votado. O resto é nada de reforma agrária, nada na saúde, na segurança, na educação, nos transportes e ponham mais centenas de itens, todos com fome, nesta lista de ausências. Apesar da arrogância da maioria dos ministros e detentores de cargos nos mais altos escalões, tornou-se óbvio que este governo não tem um plano e se o têm prefere obedecer as ordens do FMI a cumpri-lo. O mínimo que se pode dizer é que se trata de um governo incompetente e o máximo é que antes das eleições já se acertara com o Consenso de Washington. Não creio na segunda hipótese, exatamente, pelo fato do governo não entender-se entre si e qualquer combinação com os americanos já teria vazado. Como fiz campanha para Lula, como me emocionei às lágrimas com a sua vitória, só posso ficar torcendo embora já saiba que em abril aumentarão em 25% os medicamentos, o café, o óleo de soja, a farinha de trigo e, em menor escala, mas que afetará o aumento geral de preços, o combustível. Centenas de estabelecimentos comerciais fecharam as portas só no meu bairro, Copacabana e logo mais seis mil taxis estarão rodando pelas ruas da cidade. Rodando para quem? Enquanto isso, as portas do crime organizado – a Igreja dos pastores vigaristas e o tráfico – continuam com as portas escancaradas. A grande imprensa, sempre sócia do poder, principalmente, agora, que a poderosa TV Globo corre o risco de quebrar, dá uma no ferro e outra na ferradura. Como a oposição mínima, se diverte.


* Todos sabem do gravíssimo caso Waldomiro e dos esforços do PT e “aliados” para evitar a criação de uma comissão parlamentar de inquérito para ver se Waldomiro é o único facínora do país. Aparentemente, o caso foi resolvido com a descoberta de uma fita na qual o sub-procurador-geral da república, José Roberto Santoro, interroga o poderoso chefe da máfia Carlinhos Cachoeira em termos nada diplomáticos. Aparentemente todos queriam que Santoro usasse uma linguagem de segundo secretário do Itamaraty para obter a fita que comprovava os ilícitos, para dizer pouco, de Waldomiro. Coincidentemente, o “escândalo” foi denunciado pelo Jornal Nacional, da Globo que, quando lhe convêm, até faz jornalismo. Aparentemente, para todo o mundo, os maus modos de Santoro invalidam o fato de houve tentativa de suborno e provam igualmente que Waldomiro não cometeu nenhum ato ilícito. Deixam claro que a Gtech é uma empresa idônea e que não houve envolvimento de nenhum membro do governo, do contínuo ao supremo ministro Dirceu. Todos respiram aliviados e cai o pano.


* O Globo deu uma aula aos estudantes de jornalismo (esses que acham que Tiradentes foi torturado pelo DOI CODI) de como não fazer jornalismo numa pequena nota editorial, tão bem escrita que a transcrevo na íntegra:


“É grave a partidarização do Ministério Público, como a de qualquer função do estado. O problema já havia sido detectado no governo passado quando a associação entre procuradores militantes e redações pouco éticas atropelou os direitos civis e outras garantias institucionais. O desafio é como tratar esses desvios. Há quem proponha o mercado drástico da Lei da Mordaça, caso exemplar da prescrição que mata o doente. Normas e regulamentos devem ser revistos, se for o caso, para coibir com eficiência, o uso discricionário do poder do Estado contra o cidadão. Mas é importante manter as prerrogativas do Ministério Público arma eficaz de combate ao crime organizado, à corrupção e à infiltração de ambos no poder político.”


* Confesso que nem Gerald Thomas, especialista em transformar o nada e suas nádegas em forma de arte, conseguiria dizer nada com tamanha elegância. Enfim, pelo que entendi, O Globo acha que é preciso coibir o uso do poder discricionário do Estado contra o cidadão (Naya? Lalau? Estevão?, Eduardo Jorge?) mas manter as prerrogativas do Ministério Público. Enfim, não acha pn pois o caso já foi esclarecido com os maus modos de Santoro. Santoro é o novo doutor Stockman: com raríssimas exceções todos acham no mínimo deplorável a sua atitude e no máximo que deveria ser aposentado. Não passaria de um pau mandado do PSDB infiltrado na Justiça.


* Como pelo menos 50% dos leitores de O Globo são seres pensantes, seus melhores colunistas têm uma larga margem de independência como é o caso do excelente repórter e bom estilista, Merval Pereira Ele se encarregou de botar um pouco de água fria na fervura preparada para assar vivo o novo dr. Stockman, o Santoro. Segundo ele, e é verdade, Santoro atuou no Espírito Santo e foi fundamental no combate ao narcotráfico no qual até o ministro da Justiça estava envolvido. Convidado para ser secretário de Segurança pelo governador Paulo Hartung, declinou. Santoro (do PSDB, é?) foi autor do único processo que corre contra Serra devido à PROER (Programa de Restauração dos Bancos- é de morrer de rir) e é graças a Santoro que o Ministério Público está processando não só Serra como Malan e outros diretores do Banco Central da época. No Mato Grosso do Sul, Santoro não deu trégua aos deputados estaduais tucanos envolvidos em corrupção. Jáder Barbalho foi preso a mando da justiça federal de Tocantins no curso de uma investigação sobre a SUDAM coordenada por quem? Por ele mesmo, pelo inimigo público n. 1, Stockman Santoro.


* No Brasil, todos os dias, milhares de pobres desgraçados são torturados durante os interrogatórios e ninguém faz nada. Stockman Santoro está sendo crucificado por que interrogou um poderoso chefão de madrugada usando métodos dialéticos inaceitáveis. Como se o bandido fosse uma madre Teresa de Calcutá.



A popularidade do governo caiu muito mas a figura de Lula, como Salvador, está tão cristalizada na alma e no coração da maioria dos brasileiros que sua popularidade caiu bem menos que o esperado. O que Lula tem a fazer, agora que já descobriu que não pode governar com os “aliados” e caso tenha realmente a consciência limpa, como acredito, é dar o nihil obstat para a CPI da Corrupção incluindo todos os outros governos a partir dos cinco anos de corrupção de Sarney. Isso calará a boca dos golpistas. Muitos dirão: as CPIs não dão em, nada e servem apenas para deputados e senadores brilharem na TV. Pode ser mas nesse caso por que não vender o resto do Brasil?


PS – Não entendi o riso de José Dirceu em todas as primeiras páginas do Brasil. Também não entendi porque o O Globo em vez de dar em manchete a sua demissão da coordenadoria política a deu na sexta linha de uma nota de uma coluna cujo título é “Bastos Defende Controle Externo do MP”. Por outro lado, burro velho que sou, provavelmente, já não sei como se faz jornalismo. Também podem me chamar de doutor Stockman.


Fausto Wolff

Nenhum comentário: