Laerte  Braga
O grande dilema da mídia  brasileira é ter que noticiar a morte do “deus” mercado como infalível e  onipotente e a vitória do presidente do Equador, um país de pequenas dimensões  territoriais na América do Sul, aprovando um projeto de constituição que  transforma o Estado em principal agente institucional, econômico e de políticas  sociais de transformações e mudanças em direção oposta ao “deus”  morto.
O modelo neoliberal foi  rejeitado na Venezuela, na Bolívia, no Equador, no Paraguai, no Uruguai e a  vitória do presidente Rafael Corrêa no referendo de domingo tem um significado  muito maior do que se possa imaginar e por isso faço alusão às dimensões  territoriais do país.
Acontece no exato momento  que os supremos sacerdotes do capitalismo neoliberal resolvem estatizar bancos,  companhias de crédito e seguradoras, para evitar que os “fundamentos” do modelo  explodam. Foi o ministro das Finanças da chamada “zona do euro”, Jean Claud  Juncker, que chamou o modelo de “jogar cassino”, vale dizer, especular  derrubando cotações dos bancos “uns atrás dos outros”.
Mesmo nos momentos de  crise o sistema financeiro continua sobrevivendo na  fraude.
“O que é um assalto a um  banco diante de um banco?” Velha, surrada e repetida frase de Lenine.  Sempiterna.
É um equívoco achar que  vamos passar ao largo da crise. O governo Lula segurou com mais propriedade os  “fundamentos” do “deus” mercado, adotou políticas sociais compensatórias com  viés populista, mas o Banco Central do Brasil (em tese), sob a batuta do  norte-americano Henry Meireles, revelou que o brasileiro vive os mais altos  níveis de endividamento da história. As dívidas cresceram mais que os salários e  os riscos de inadimplência são maiores agora que antes, quando o cassino fluía  normalmente em sua artificialidade do modelo globalizado.
O crédito no País avançou  31,8% nos últimos doze meses, bateu recordes absolutos e chegou a 1,11 trilhão  de reais. Foi recorde também na comparação com o PIB (Produto Interno Bruto). Um  crescimento que saltou de 24% por cento em 2003, para 38% em 2008 e deve chegar  a 40% no final do ano.
Toda essa linguagem típica  dos especialistas sempre prontos a analisar a catástrofe terminando com o  clássico “não há motivos para preocupação”, mostra a falência do modelo entre  nós e a falácia da distribuição de renda mais eqüitativa no atual governo. PIB,  crescimento de crédito são medidas capitalistas, neoliberais e refletem a morte  do mercado absoluto. 
 
Breve a distribuição de  dívidas. Com um detalhe, o crédito cresce mais que a economia, ou seja, a  produção de bens e riquezas. Logo...
O modelo aqui tem a  chancela tucana de Fernando Henrique Vende (FHV). Vendeu todo o patrimônio  público do País, comprometeu fundos de pensões de empresas estatais (lesando  servidores) e anunciou o país do futuro naquela conversa fiada da primeira  campanha, em 1994, os cinco dedos.
O que os países  latino-americanos num espectro maior estão decidindo pela vontade popular é o  oposto desse modelo. Não foi por outro motivo que observadores da própria  Comunidade Européia divulgaram nota oficial em que atestam a “importância do  referendo no Equador”.
O ser humano que nos  Estados Unidos começa a viver em barracas (mais de 200 mil já perderam suas  casas) e acampamentos na ordem divina de Bush, vira anônimo de si próprio, de  seus valores intrínsecos se deixa transformar em robô de uma miragem da ilha do  tesouro.
O capitalismo tem em si a  capacidade de se regenerar na barbárie. Na estupidez da guerra do Iraque, do  Afeganistão, nos golpes de estado contra governos populares e produtos da  vontade popular, como tenta agora na Bolívia. Jipes de senhores de terras,  bancos e empresas desfilam por Santa Cruz da 
Não é o Estado mínimo. É o  Estado privatizado. É diferente. 
Um pequeno país,  territorialmente, dá uma extraordinária lição de vitalidade e força na luta  popular. Na busca de sua real identidade. A vitória do sim e conseqüente triunfo  do governo Corrêa é a reafirmação que chega de neoliberalismo. Chega de tucanos  e DEMemocratas, pragas que existem em todo o mundo e se fundamentam nos cassinos  da exploração da classe trabalhadora.
Os equatorianos disseram  sim à construção de uma identidade latina. 
Aqui Miriam Leitão anda em  polvorosa tentando explicar que a catedral não ruiu é apenas um abalo, um  furacão, mas que tudo voltará ao lugar. 
Volta não. O modelo está  podre em tudo e por tudo. Só é preciso agora enterrá-lo como fizeram os  equatorianos.  E isso não passa pelo  mundo de gilmar mendes. Nem de Daniel Dantas.
Passa pela percepção que  as grandes tacadas criaram uma baita sinuca de bico. As pequenas também.  
A lição do Equador lembra  um filme sobre um pequeno país que ataca os Estados Unidos e ganha a guerra. Os  equatorianos não invadiram país algum, pelo contrário, foram invadidos pelo  narcoterrorismo colombiano. Mas ganharam a guerra da independência  real.
O  nome do filme produzido em 1959 é “The Mouse That Roared”, ou o rato que  ruge”.
  
 
 
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