Revista Caros Amigos entrevista Marcos Bagno
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"É preciso acabar com a cultura do erro"
Certamente por ignorância, a revista Caros Amigos "descobriu" só agora um representante do grupo de lingüistas que está virando de cabeça pra baixo o português que todos aprendemos na escola. Ele vem informar, na entrevista explosiva da mais recente edição do impresso, que o que vale agora é o português brasileiro, a língua que o povo fala, que as famílias falam, que nós falamos, e não aquela que pregam os manuais de redação ou os "consultórios" gramaticais dos jornais. A maioria dos que sabem ler será surpreendida por este papo impressionantemente revelador com o autor do livro Preconceito Linguístico (hoje na 49º edição), Marcos Bagno.
Alguns trechos:
Trecho 1
THIAGO DOMENICI Quando começou o seu interesse pela lingüística?
Desde criança me interessei por línguas em geral, pelo fenômeno da linguagem, sempre gostei de ler e de escrever, e aí, conseqüentemente, inventei que queria ser escritor.
MYLTON SEVERIANO Paulistano?
Não, mineiro, de Cataguazes. Mas desde cedo a família saiu de lá e a minha formação básica foi no Rio de Janeiro, depois Brasília, onde comecei a graduação em letras, e terminei na Universidade Federal de Pernambuco, fiz lá o mestrado em lingüística. Depois o doutorado em língua portuguesa aqui na USP. Por causa do meu histórico familiar – meu pai foi militante do Partido Comunista –, tentei achar um caminho que pudesse associar o meu interesse pela linguagem às questões sociais, antropológicas, políticas. Acabei chegando na sociolingüística, disciplina que trata dessas relações da língua e das pessoas que falam as línguas. Existe na universidade uma certa corrente que gosta de estudar a língua como se ela fosse falada por ninguém, sem levar em consideração os fenômenos sociais inevitáveis que circulam em torno do uso da língua em sociedade.
Trecho 2
MARCOS ZIBORDI A linguagem da Internet é necessariamente um rebaixamento da língua?
Do ponto de vista científico, a gente nunca fala que existe uma forma mais nobre ou inferior ou mais rebaixada de usar a língua. Na internet há um uso da língua com suas características e suas peculiaridades e a gente tem que encarar dessa maneira.
"Não existe norma mais nobre ou inferior de usar a língua"
Trecho 3
CARLOS AZEVEDO A gente ouve dizer que a língua está se vulgarizando, perdendo a sua harmonia, a sua beleza. Isso está acontecendo ou é uma visão preconceituosa?
É recorrente esse discurso de que a língua de hoje representa um estado deteriorado de uma suposta época de ouro no passado. A gente encontra isso em qualquer língua, em toda a história, desde pelo menos o século 3 a.C., e para o lingüista isso não faz o menor sentido. As línguas se transformam, mudam nem pra melhor, nem pra pior, simplesmente mudam para atender às necessidades cognitivas e internacionais de seus falantes. Porque, se quiséssemos manter a pureza do português, teríamos que falar latim, mas o latim já é uma língua derivada de outra, então, se a gente quisesse manter a pureza do latim, a gente teria que falar indo-europeu, que é uma língua falada 5.000 anos antes de Cristo.
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