quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Artigo do Marcelo Melo

A coluna do Contardo Calligaris na Ilustrada de ontem apresentava o livro do John Hemingway, Strange tribe, para discutir como é complexo responder as expectativas dos protótipos de papéis estabalecidos. Sei menos dos Hemingways do que gostaria. Li um ou dois livros de Ernest, visitei a casa onde nasceu em Chicago, porque estava no meu caminho de visita às casas de Frank Loyd Wright, tive fantasias com suas netas na adolescência, Mariel e Margot, se não me engano. Descobri um pouco mais da vida de Gregory, seu filho e pai de John, quando minha mulher criou a capa do livro de um amigo, Aprendi com meu pai, e escolheu uma foto de Ernst com Greg, a idéia era mostrar uma relação singela entre pai e filho, a foto passava aquilo, mas aí o autor pesquisou um pouco mais e descobriu a vida “errante” de Greg, as prisões, a mania de se vestir de mulher e a transformação de sexo.

Manteve-se a foto na capa, dei a idéia de uma explicação de que o papel de pai é assim mesmo, difícil, complexo, e pode ter momentos “ideais”. Mas aquele menino sorridente da capa trazia dentro de si muitas dúvidas, inclusive a de gênero não é um caso isolado. Contardo faz uma comparação distante com o que aconteceu a Ronaldo e a solidariedade de uma faixa numa favela, solidariedade não ao homem e sim ao papel imaginado. A vida é isso, uma tentativa de aproximar os papéis imaginados, por nós e pelos outros, da existência concreta e difícil do dia-a-dia. Ter um pai como o de John deve ter propiciado a oportunidade de refletir bastante sobre isso.

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