terça-feira, 2 de setembro de 2008

A Norma Oculta: Livro que Caetano Citou

Olha aí, pessoal, a Norma Oculta é do Marcos Bagno! Caetano tá ruim de memórias para nomes ou será que ele acha que simplesmente falar o nome de uma pessoa já vira marketing pessoal?

II. Livros Técnicos e Didáticos

A norma oculta - língua & poder na sociedade brasileira

São Paulo, Parábola, 2003.

Não existe preconceito lingüístico!

Esta é a frase que muitos gostariam de ler, especialmente se estampada num texto do autor do muito difundido Preconceito lingüístico. E é o que leremos aqui, com todas as letras.

Como pode Marcos Bagno, em seu novo livro, vir se desdizer? Vamos com calma, vamos por partes:

A norma oculta aprofunda o estudo das relações entre língua e poder no Brasil e avança para a afirmação de que o preconceito lingüístico na sociedade brasileira é, na verdade, um profundo e entranhado preconceito social.

Bagno lança um olhar inquiridor sobre a história da constituição das línguas para desvendar nossa realidade sociolingüística. Seu recurso à história se funde com a pesquisa sociolingüística e a crítica corajosa do rótulo de "erro", sempre aplicado com rigor, mas segundo critérios bem relativos, por aqueles que se consideram sacerdotes da classe letrada, incumbida de defender a pureza estática da língua. Exemplo candente disso são as reações de expoentes da imprensa nacional ao modo de se expressar do primeiro operário nordestino eleito para a presidência da República. É ilustrativo enxergar, seguindo a análise do autor, o peso do preconceito social travestido de aniquilamento da língua do outro, quando não se enxerga este outro como interlocutor válido.

A norma oculta desvenda o jogo ideológico por trás da defesa de um conjunto padronizado de regras lingüísticas, retira o disfarce lingüístico de uma discriminação que é, de fato, social, ao demonstrar que a própria negação da existência do preconceito lingüístico é a prova mais do que eloqüente de que as coisas não podem seguir como estão.

Para entender nossa língua temos de assumir a concretude histórica, cultural, a condição de atividade social da língua, sempre sujeita às circunstâncias, às instabilidades, às flutuações de sentido, à própria opacidade da experiência humana.

Trata-se aqui, mais uma vez, de expor e de reafirmar as bases do imperativo de incorporar à educação em língua materna uma concepção dinâmica que nos leve a abandonar a inútil busca de estabilidade e de homogeneidade, típicas do modo tradicional e redutor de encarar as relações dos seres humanos entre si e consigo mesmos por meio da linguagem.

A história das línguas e das sociedades nos revela que para haver alguma mudança nos conceitos de língua "certa" e língua "errada" é preciso que também haja, ao mesmo tempo, uma grande e radical transformação das relações sociais.

No campo lingüístico, transformação significativa será o estabelecimento de uma possível gramática do português brasileiro, a ser preparada pelos pesquisadores que há bem mais de trinta anos estão engajados na investigação criteriosa da nossa realidade lingüística.

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