quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Nota Sobre Caetano e a Imprensa

Um comentário sobre a polêmica abaixo, que rende comentários em outros blogs. Já encontrei blogueiro dizendo que Nelson Motta foi demitido da Folha por causa dessa história: ele teria defendido Caetano contra os críticos e a Folha teria descoberto que ele produziu o show de Caetano e Roberto. Fico triste de dar essa notícia. Tomara que isso seja um equívoco e Nelson Motta esteja apenas sem escrever temporariamente, pois é bom jornalista musical; acho que ele está sempre mais por dentro da música do que da política. Realmente ele fala mais bem das pessoas que mal e faz carreira assim, o que é também minha inclinação.

Talvez por isso, Caetano voltou à carga em seu blog, agora contra Cláudio Tognolli, que o acusou em entrevista da Caros Amigos de ter, na excursão oficial a Londres em 94, chantageado um jornalista da Folha: ele supostamente teria dito algo como, te dou entrevista se você der para mim uma outra coisa. Tognolli dá a entender que era "a rosa pequenina". Caetano diz que a entrevista saiu e nada rolou. Ele protestou também contra o difamatório termo "máfia do dendê". Tudo isso seria muito justo se não fosse por um detalhe: como vocês podem ver na postagem abaixo, Caetano omitiu o nome do Tognolli como omitira antes o do Marcos Bagno. No Verdade Tropical, Caetano também evita citar nomes e datas de críticos, pois teme promovê-los. Lá também há algo como que uma constante polêmica com a esquerda. Fidel errou feio ao referir-se à canção que criticou, que na verdade expressa o contrário do que ele visava. Mas em Verdade Tropical, sim, Caetano de certa forma pede desculpas por ter se oposto à ditadura militar, mas ao mesmo tempo o faz sempre com o vocabulário político da esquerda, etc e tal. Talvez seja aí que o Fidel identificou o tal pedido de perdão ao imperialismo americano... Em Verdade, Caetano não omite Contardo Calligaris, mas me deu um trabalhão procurar pelo livro onde ele é citado (Hello Brasil), assim como o artigo do Roberto Schwarz sobre ele não foi lançado em 68 e sim em 69 na Temps Modernes...Ninguém pode censurar Caetano por não querer dizer o nome de seus críticos. Talvez seja superstição neomística. Em muitos lugares, evita-se falar o nome do demônio, pois julgam que isso o evoca.

Outra questão que Caetano omite, mas é importante tocar: ele teve apoio de grupos que estavam rompidos com o PC e faziam apologia da luta armada nos festivais. Isso segundo o depoimento de Vladimir Palmeira no livro Abaixo a Ditadura. É claro que ele não vai falar sobre isso agora, pois não ganharia nada com isso. Soube que Caetano brigou com Zuenir Ventura devido a esse assunto: Zuenir defendeu que os grupos no tempos dos festivais se equilibravam. Caetano passou a não mais falar com ele. Pelo que li de Luiz Carlos Maciel em Anos 60, em 68 o partidão não tinha mais prestígio entre a juventude universitária. O partidão apoiava Chico, Sérgio Ricardo e Vandré, identificados com o projeto nacional e popular que ele propunha desde o Manifesto do CPC da UNE.

Citar nomes na internet, agora que existe o google, é encrenca na certa. Todo mundo rastreia e cobra o que foi dito. Caetano é um grande artista e, com sua crítica da crítica, passei a achar que o comentário de Jotabê foi subjetivo demais. Jotabê curte Broken Social Science, banda que meu irmão mais novo curte. Se meu irmão mais novo, que toca na Dead Lover´s, fosse ao show de Roberto e Caetano também acharia o show chato, quadrado. Só não vejo essa mistura de hiper-erudição e ignorância na crítica de rock da Rolling Stone. Meu irmão saiu numa matéria lá e me contou que deu uma entrevista de três horas, da qual eles aproveitaram só um pouco. Mas a matéria foi muito boa e os comentários da Rolling são mais equilibrados que o da finada Bizz, que tinham muito daquilo que Caetano um dia criticou: o Pepe Escobar vê uma banda numa garagem inglesa e diz que aquilo é bem melhor que nós, no Brasil, escutamos (mas isso é Pepe via Caetas). Não vejo também hiper-erudição em meu xará Lúcio Ribeiro nem em Álvaro Pereira Júnior. Nesse último há algo de Paulo Francis. O Ribeiro me pareceu simpático quando eu e meu amigo Rodrigo Soares Camargos deixamos para ele um disco da banda Horta lá na Folha. Ele respondeu meus e-mails com secura, mas simpatia. Lúcio Ribeiro acertou ao elogiar Belle and Sebastian (de cabeça, pelo menos um bom acerto e pontos para ele!)

A questão toda dessa polêmica talvez não seja Caetano e sim Roberto Carlos, esse sim, inimigo da imprensa (nunca li entrevista dele) e que acaba de fogar literalmente no fogo uma biografia não-autorizada. Mas, como Roberto é, esse sim, medalhão nacional, com enorme popularidade, apoio da Globo, fãs fanáticos e transatlânticos. Nihil obstat, Rogério Duarte já disse que ele encaretou como ninguém: do rock aos bolerões e canções que viraram trilha sonora da ditadura militar no tempo do Médici, como Jesus Cristo. Roberto Carlos não foi tocado na polêmica. Gerald Thomas lançou a pergunta em seu blog: mas, como pode, Caetano fez tanto pela cultura nacional, não era para estar acima da crítica? Concordo que sim, Gerald, mas a crítica quer mesmo é atacar Roberto; como não pode, ataca Caetano com virulência redobrada. Aí, para mim, é que está o x da questão.

Um comentário:

Rodney Brocanelli disse...

Olá, obrigado pela indicação. Acho que essa história vai longe. Abraços