Vejo Marcelo Mirisola em uma entrevista na TV Cronópios. Li dois livros dele: Herói Devolvido e Azul do Filho Morto, acompanhei a coluna na aol. Meu amigo Zé Pedro divulgou ele intensamente por volta de 2002, quando ele começou com aquele grupo da Geração 90.
Mirisola não é mais um "trangressor": saiu daquele grupo. Ele curte a provocação e a internet é ótima para provocadores. Ele comentou que Maria Rita Kehl liberou-o rapidamente da análise. No entanto, ele precisava voltar. O ego do rapaz tá TRANSBORDANDO! Ao falar da própria literatura, ele emenda a seguir: "literatura boa!" Eu gostei realmente de um conto do Herói Devolvido, Hildegard, exposição da relação de um cético com sua vizinha esotérica, politicamente correta e riponga. Muito engraçado. Mas no mais, Mirisola parece ter encontrado uma receita (e ele a repete): uma voz perversa, mau caráter transgressora, centrada na primeira pessoa, desancando o mundo, imprecando contra tudo entre miudezas e punhetas -- ou sofrendo por não ser o centro do mundo? --MM faz do sexo-rei instrumento de agressão, e os gays e travestis são para ele o que foram os judeus para Louis-Ferdinand Céline. Agregando palavrões e visão de mundo pessimista à la Emil Cioran. Esse é o narrador dos livros de Mirisola. O Mirisola biográfico pouco difere, nas colunas que escreve, tanto na aol quanto no Congresso em Foco.
Já disseram que Hegel e Kant escreveram belas obras sobre estética sem entenderem de arte. A boutade vale para o Mirisola cronista: nunca se destilou tanto veneno e se desopilou o fígado em esparrelas bukowskianas sem entender de música, cinema ou política quando ele. O Thomas Bernard da Praça Roosevelt não perdoa. Todo mundo leva tinta, literalmente: Reinaldo Azevedo, Caetano, Marisa Monte, John Hemingway, Gerald Thomas. Mas ninguém responde. Talvez haja algo de inócuo nas provocações de Mirisola, algo de pose, algo de filhinho da mãe impossível que todo mundo já conhece.
Diante das câmeras, o dragão parece desdentado: "não falo palavrões em público". Ora, então em público ele é um estudante da Juventude Operária Católica? Um vicentino? Ele só é ferino quando volta a falar na FLIP, esse seio materno que ele perdeu e alucina, pois volta a esse tema com insistência, está fixado...Mas acho que ninguém suporta mais ele reclamar que o pessoal da Piauí tem bundinhas empinadas, que eu ele não foi convidado para escrever lá, não teve cachê na FLIP e chegou para Cristopher Hitchens e perguntou qual o cachê dele e outras gracinhas que, repetidas, viraram grosserias. Ao invés de apenas citar Glorinha Kalil na CULT, ele deveria ler e seguir Glorinha ou, senão Danuza.
Mirisola diz tanto odiar o mundinho da literatura brasileira que parece condenado a ele, tal como um "SISIFU". Mas vejamos até onde ele vai rolar essa pedra...
Nenhum comentário:
Postar um comentário