Domingo, 14 de Setembro de 2008
a maldição dos hemingway
Trágicos desfechos perseguem a família de um dos maiores escritores da literatura mundial. Famoso pela vida aventureira, fascinado pelo perigo e vida selvagem, boxeador, caçador, bebedor, pescador, Ernest Hemingway era o modelo de virilidade. Em 1961, o autor se matou com um tiro de espingarda, na seqüência de crises de depressão. Também o seu pai, o médico Dr Clarence E. Hemingway, acometido de forte depressão se matou com um tiro em 1928. Sua irmã Ursula, após sofrer três cirurgias tomou uma overdose de barbitúricos em 1966. O tio Leicester, após ter as duas pernas amputadas por causa da diabete, também usou uma arma para se suicidar. A neta Margaux Hemingway, glamourosa atriz e modelo, segundo sua autópsia engoliu uma enorme quantidade de barbitúricos, em 1996.
Em 2001 foi a vez do filho mais novo do escritor, Gregory Hemingway, 69 anos, encontrado morto numa cela do ‘Centro de Detenção de Mulheres de Miami’. Ele estava preso havia cinco dias, detido por atentado ao pudor: vagava nu por uma rua de Miami usando jóias e carregando sapatos de salto alto. Fichado como Glória Hemingway não resistiu a problemas cardíacos e de hipertensão.
Greg teve uma vida repleta de dificuldades. Além da atormentada relação com o pai, foi acusado de ser a ovelha negra da família e de contribuir para a morte da mãe. Formado em medicina o abuso de álcool o fizeram perder a licença para clinicar. Movendo-se alternadamente entre depressões e crises maníacas havia a constante incerteza da identidade de gênero. Sentia-se melhor quando se vestia de mulher, mas isso não implicava um desejo homossexual, apaixonou-se e casou-se com várias mulheres. Como o seu pai, cultuava a virilidade através de caçadas na África e o convívio com a natureza selvagem do Estado de Montana onde, ao mesmo tempo, vestido de mulher, perambulava pelos bares.
Quis se tornar mulher, com quase sessenta anos. Passou um tempo com o implante de um seio só; e assim, já transformado parcialmente em mulher casou-se, pela quarta vez, em 1992. Em 1995, completou as cirurgias necessárias para mudar de sexo. Não por isso ele terminou seu casamento. Sua última aparição pública foi em uma festa sofisticada quando surgiu em um vestido preto e usando sapatos de salto agulha.
Essa estranha divisão de Gregory já estava em seu pai. O ilustre escritor aparece vestido de menina em fotos de sua infância, e há, em suas obras, passagens tocantes em que um homem e uma mulher que se amam são tentados por uma inversão de papéis pela qual o homem se tornaria mulher nos braços de sua amada. Todo o culto à masculinidade talvez fosse uma forma de conter a fascinação pelo feminino, e sobre a dificuldade de ser homem como regra de vida. Ou como no caso de Gregory, esta identidade masculina foi transmitida e imposta como uma bandeira, mesclada a isso existia a complexidade da identidade de gênero. Gregory obteve relativo sucesso como escritor. Deixou um espólio considerável que foi disputado numa complicada batalha judicial pelos filhos e pela viúva Ida, com quem se casou duas vezes: antes e depois da mudança de sexo.
Tudo isso é relatado no livro ‘Strange Tribe’ de John Hemingway, que conta a história do avô que morreu quando ele tinha apenas onze meses, do seu pai transexual e de como conseguiu se salvar da maldição dos Hemingway.
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