NÃO SE PERCA DE MIM, NÃO DESAPAREÇA
Naqueles idos, diziam que a cerveja subia mais rápido se tomada no gargalo. Coisa estranha, de que jeito se a cerveja era a mesma, no copo ou na garrafa? Gargalo não era vara de condão. Via o baile lá de cima, no último lance da arquibancada do ginásio. Preferia assistir, só ia pro meio da bagunça quando Momo fazia o cerco, brandia o cetro e exigia rendição.
Te quero às pressas, mas com luz forte e quente iluminando o espetáculo. Ver é bom, a dança a dois e às claras é bem melhor que o baile e suas máscaras, suas mesas reservadas, seus pais zelosos com as filhas em flor. Nada de joguinhos de sedução mal resolvidos, a vida é curta pra ficar dando a entender. Insinuação tem hora, e a hora é de saciedade. Reparar e curtir os defeitinhos do corpo revelados de manso, isso sim pode ser, mulher gosta dessas coisas. Mas só se for depois do crescei e multiplicai-vos. Saiamos do clube assim, jogando a roupa fora, afoitos para a luta corporal. Não temos retoque, somos tais e quais e isso é benção, a única maquiagem é um discreto contorno de lápis deixando seus olhos mais lindos pro mundo. Como se precisasse.
E tudo seria se você houvesse, mas você não havia. Não havia você nem baile a dois, só aquela horda de suados se acotovelando lá embaixo. Tão longe do ilusório onde você mandava e desmandava, tomada de empréstimo dos seres imaginários. Eu não só te dava forma mas compunha teu futuro. Acontecia de te fazer mãe de um monte de crianças minhas, como se a vida conjugal fosse o destino inescapável, sepultando a carne na rotina dos carnês. Casal de meia idade na matinê da província, levando os meninos de pirata e colombina, você trocando receita com a comadre Rose. Que tacanho.
O bloco dos monges sacanas, cordão berrando as marchinhas, em punho os lenços de lança. Você entra no banheiro das damas com uma amiga, quem sabe a futura comadre Rose. Então me enxerguei compadre do marido dela, que nem tenho idéia de quem poderá ser. Esgano com a serpentina essa possibilidade. Mais um trago de cerveja no gargalo.
Pode ser que você volte do banheiro, a maquiagem retocada e resolvida a me sufocar com um beijo e me oxigenar de vida, dando corda a esse improvável filme B de nós dois na minha cabeça. Como também pode ser que no caminho aqui pra arquibancada já tenha flertado com outro, e nesse outro projetado seus melhores e próximos anos, me deixando aqui até que surja uma odalisca que ninguém quis, implorando o calor que era pra você.
Há de sentar-se ao meu lado, o tule da fantasia roçando meu braço esquerdo. E perguntará por que eu tomo cerveja no gargalo, se existe copo pra isso.
Um frevo emendou na marchinha e me trouxe de volta, um pouco mais convicto de que tem mesmo alguém na supervisão lá em cima, ainda que manipulando a esmo as cordas dos marionetes, encontrando e desencontrando gente do jeito que der na telha.
Não digo que seja um deus, mas alguém acima da raça dos suados que se acotovelam. E que a uma hora dessas pode muito bem estar tomando cerveja no gargalo e dando nós nos fios que nos governam.
Te quero às pressas, mas com luz forte e quente iluminando o espetáculo. Ver é bom, a dança a dois e às claras é bem melhor que o baile e suas máscaras, suas mesas reservadas, seus pais zelosos com as filhas em flor. Nada de joguinhos de sedução mal resolvidos, a vida é curta pra ficar dando a entender. Insinuação tem hora, e a hora é de saciedade. Reparar e curtir os defeitinhos do corpo revelados de manso, isso sim pode ser, mulher gosta dessas coisas. Mas só se for depois do crescei e multiplicai-vos. Saiamos do clube assim, jogando a roupa fora, afoitos para a luta corporal. Não temos retoque, somos tais e quais e isso é benção, a única maquiagem é um discreto contorno de lápis deixando seus olhos mais lindos pro mundo. Como se precisasse.
E tudo seria se você houvesse, mas você não havia. Não havia você nem baile a dois, só aquela horda de suados se acotovelando lá embaixo. Tão longe do ilusório onde você mandava e desmandava, tomada de empréstimo dos seres imaginários. Eu não só te dava forma mas compunha teu futuro. Acontecia de te fazer mãe de um monte de crianças minhas, como se a vida conjugal fosse o destino inescapável, sepultando a carne na rotina dos carnês. Casal de meia idade na matinê da província, levando os meninos de pirata e colombina, você trocando receita com a comadre Rose. Que tacanho.
O bloco dos monges sacanas, cordão berrando as marchinhas, em punho os lenços de lança. Você entra no banheiro das damas com uma amiga, quem sabe a futura comadre Rose. Então me enxerguei compadre do marido dela, que nem tenho idéia de quem poderá ser. Esgano com a serpentina essa possibilidade. Mais um trago de cerveja no gargalo.
Pode ser que você volte do banheiro, a maquiagem retocada e resolvida a me sufocar com um beijo e me oxigenar de vida, dando corda a esse improvável filme B de nós dois na minha cabeça. Como também pode ser que no caminho aqui pra arquibancada já tenha flertado com outro, e nesse outro projetado seus melhores e próximos anos, me deixando aqui até que surja uma odalisca que ninguém quis, implorando o calor que era pra você.
Há de sentar-se ao meu lado, o tule da fantasia roçando meu braço esquerdo. E perguntará por que eu tomo cerveja no gargalo, se existe copo pra isso.
Um frevo emendou na marchinha e me trouxe de volta, um pouco mais convicto de que tem mesmo alguém na supervisão lá em cima, ainda que manipulando a esmo as cordas dos marionetes, encontrando e desencontrando gente do jeito que der na telha.
Não digo que seja um deus, mas alguém acima da raça dos suados que se acotovelam. E que a uma hora dessas pode muito bem estar tomando cerveja no gargalo e dando nós nos fios que nos governam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário