quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Caetano X Cláudio Tognolli: A Luta contra a imprensa continua...

C
NEW YORK TIMES
12/09/2008 6:47 am

Robson, acho, pensou que creio que os grandes jornais americanos não permitiriam críticas negativas a medalhões. Eu não disse isso. De fato, se fosse assim a imprensa de lá seria o oposto de uma imprensa livre. E o desenvolvimento técnico dos artistas estaria estagnado. Mas não é assim. Citei dois ídolos de geração anterior à minha porque eram os exemplos que eu dava quando comecei a falar no assunto. Mas não seria muito diferente se se tratasse de Dylan, Prince ou Al Green. Mesmo Iggy Pop. Um tratamento grosseiro e de antemão desqualificador não fica bem em jornais como NYT ou o Washington Post, eis tudo. Citei o caso extremo da crítica a Chico na Ilustrada: poderia lembrar que lá também li que o cello de Jaques Morelenbaum é “assassino” (sendo ele um cellista de quem o grandes músicos, críticos e produtores do mundo todo dizem tirar o mais belo som daquele instrumento - além de ter uma capacidade de improvisar e entender os meandros da harmonia com uma sensibilidade sem competidores) - e que os músicos da Timbalada deveriam estar numa jaula. Não é isso, no entando, o que interessa. O caso é que, na crítica ao show de Roberto comigo cantando Jobim, não chegou a haver uma patada desse tipo (embora “naftalínico” e “necrófilo” tivessem aparecido no Estadão e, sei lá, “modorrento” ou algo assim na Folha). Eu apenas identifiquei que, por trás disso, havia o folclore de soar desabusado - coisa que vem manchando a crítica de música popular no Brasil há anos. E quis informar a quem não sabe que isso não é normal no mundo todo. Escrevi que a crítica de música popular é “o lixão” do jornalismo porque é o que observo desde sempre (e isso é assim em todo o mundo, diferentemente do hábito de escrever de modo forçadamente iconoclasta, que só vejo acontecer aqui; digo, na grande imprensa, pois nos tablóides pós-punk - sobretudo ingleses, mas com imitações francesas, italianas, portuguesas etc. - isso é a norma). Mas ressalvei que, com a virada dos Beatles, uma confusão interessante se deu - e ela é visível sobretudo nos citados tablóides e revistas roqueiras, a um tempo esnobes e chulas. A imprensa neo-conservadora tende a ser grosseira (a Veja é exemplo gritante, mas vemos isso na Fox News, até na Newsweek e na Time, com seus “ele está errado”) e, com isso, adotou algo do linguajar desses tablóides. Mas vê-se que mesmo aí há exigência e cuidado quando se trata de crítica de cinema: alguém pode imaginar Isabela Boscov escrevendo absurdos como os que o Martins da música pop escreve? Alguma matéria sobre cinema é, de longe, irresponsável, errada, cínica, grotesca como a que li em Veja sobre supostos seguidores do Los Hermanos? Não. A Boscov mostra que estuda, que faz o dever de casa. Martins põe que Zé Miguel é “pior do que Moby“. Mas eu, eu mesmo, não sou vítima desses malucos. Recebo mais elogios do que mereço. Claro, os ódios contra mim são espalhafatosos. As mesmas razão que me protegem contra uma desqualificação unânime serve para deixar meus detratores espumando: minhas relações decisivas com o rock, que me levam a ter um certo protagonismo na história do gênero no país e, ao mesmo tempo, minha independência de - e mesmo relativa desatençao a - ele. Quando a Ilustrada abriu o gosto para uma perspectiva internacional e anti-provinciana, eu era do cânone - enquanto Bethânia, Chico e Milton, por exemplo, estavam no Index. Chiei muito contra isso. Milton, naquela época, era o músico brasileiro com maior prestígio internacional. Bethânia e Chico eram as duas mais sólidas reputações do mundo da música no Brasil. Era desproporcional um caderno de cultura e entretenimento reservar-lhes espaço pequeno e palavras de leve desprezo. Roqueiros dos 80 mais Gil, Caetano e Gal - fora, é claro, toda a inglesada e alguns americanos - me parecia programa estreito. Disse isso a Marcos Augusto e a Matinas. Ouvi pessoas próximas a mim dizerem, em tom de piada violenta, que não-sei-quem ou não-sei-quem deveriam ser despedidos. Sempre desmereci essas piadas, mesmo como piadas. Mas já li até na Caros Amigos, contado por um jornalista que está em plena e brilhante atividade, que destruí a carreira de jovem e promissor repórter por ele ter se negado a namorar comigo (eu teria recusado dar-lhe entrevista em Londres por ele não se entregar a mim - quando, na verdade, a entrevista foi feita, publicada e tudo, sem que ninguém tenha forçado ninguém a fazer nada com ninguém). Nessa mesma entrevista foi lançada a expressão “máfia do dendê” para caraterizar-nos a mim e a Gil - a aos baianos em geral - como manipuladores dos meios de comunicação. Unanimidade? Nunca, em nenhum período da minha vida, experimentei tal status. Não estou preocupado com isso: nem a desejo nem a temo, a unanimidade. E, pensando bem, até Machado de Assis recebe reiteradas estocadas (às vezes bem violentas e injustas) de Millor Fernandes. Colombo e Jotabê, no entanto, não parece que miravam em mim. Miravam institivamente no ambiente celebratório que cerca os eventos dos 50 anos da bossa nova. E ainda por cima com antipatia pela evidente ligação com o Rio que esses eventos fatalmente teriam. Houve um descompasso suspeito, sintomático, que foi flagrado por Bárbara Gância, colega e amiga dos dois críticos. Eu não me sinto impedido de me manifestar (com o desleixo que o assunto merece, mas não sem o esforço de precisão que a luta contra as consequências nefastas desses gestos exige). Finalmente, só tinha lido o trecho do Jotabê que Robson citara - e tinha achado forte (embora não me escapasse a falsidade da visão de meus poderes de cortador de cabeças). Fui ler hoje o texto inteiro. Achei bem menos forte do que o trecho fazia esperar. Mas o português está melhor (será que há um antropólogo copidescando o lance dele?). Hermano aqui só conserta coisas como Pasquali, Zizec… Aquele maravilhoso ato falho de, contando que trocara um “s” por um “z” num texto criticando o português (e a ética) do Xexéo, eu ter escrito “veses” ele deixou. E o “trexo” foi só uma vez, num texto que tinha a palavra grafada corretamente várias outras. Mas já confessei que me atrapalho em ortografia. F. Scott Fitzgerald dizem que era bem pior. E ninguém escreveu nada como “O Grande Gatsby”. Mas num blog, escrito nas migalhas das madrugadas, “typos” abundam. (”Typos”, para quem não sabe, pronuncia-se “táipôs”, com tônica na primeira sílaba, e é expressão inglesa para dizer “erro de digitação” ou “troca de uma letra por outra na gráfica”).

Chega desse papo. Como crítico, adoro os versos que chegam nos orgasmos mútiplos em “Homem“. E os de “Lapa”, então, com Lula e FH, nem vou falar. Mas hoje gravei violão e voz em “Lobão tem razão“. Ficou “pronta” pela primeira vez. Ia gravar mais, mas as relações da lendária mesa (que também foi onde se gravou todo o “Clube da Esquina“) com a outra mesa maior, e dessas com Moreno e Daniel, não foram harmônicas: eles perderam horas com os técnicos do estúdio AR tentando desvendar o mistério de um problema que pintou. Amanhã ouvimos como ficou gravada hoje e, a depender do que achemos do resultado, gravamos de novo. E, com fé em Billy Wilder, gravamos outras duas. Estou com pressa? Kind of. Aliás, falando em inglês, eu queria responder a um americano que escreveu duas vezes faz tempo: acho que vai ser legal um post bem curtinho em inglês. Mas será que eu sei escrever posts bem curtinhos?

Comecei com vergonha de tocar volão. Depois relaxei mais. Daí fui cantar e perdi todo o entusiasmo com o disco. Me achei sem graça, chato, com essa trava que aparece no estúdio (em show isso é bem melhor). Mas depois de cantar umas cinco vezes a canção toda (até para Daniel e Moreno chegarem à captação de som que queriam) comecei a me animar com as possibilidades. E terminei gostando de algo ali. E voltou à toda meu entusiasmo pelo disco.

A escolha da primeira música a ser gravada obedeceu a um critério apenas prático: era a primeira música que estava na fita em que só tem uma versão de cada arranjo e, portanto, não precisa de Daniel fazer reduções complicadas nem de nós todos elegermos qual das versões se presta mais à adição do violão e do canto.


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