Terminou faz tempo meu contrato com a Editora Globo, que não reeditará "Risco de Vida". O livro não foi um sucesso. Da edição original de três mil, ainda há uns 400 exemplares nos depósitos da editora. Vão ser postos a venda. Os que não forem arrematados serão picotados e transformados em aparas. Peço aos leitores deste blog, se puderem, que me ajudem a evitar a destruição do "Risco". Quem ainda não tem o livro poderia comprá-lo pelo Submarino ou pelo site da Editora Globo, já que nas livrarias ele não é encontrado faz tempo. Quem já tem, poderia comprar pra dar de presente pra alguém. Me dói pensar nesse livro, que escrevi com tanta paixão e que até hoje vem apaixonando tanta gente, picotado e destruído.
Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Um Apelo do Escritor Alberto Guzik
Petição contra o uso da Lei Rouanet para templos religiosos
To: Congresso Nacional do BrasilO Senado está a um passo de aprovar um projeto de lei, de autoria do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), sobrinho de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus) que incluiria as igrejas entre as beneficiárias do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac). Mais conhecida como "Lei Rouanet", aprovada em 1991 pelo Congresso Nacional, o Pronac permite que empresas invistam em projetos culturais até 4\% do equivalente ao Imposto de Renda devido. O projeto chegou a ser aprovado em caráter terminativo na Comissão de Educação, mas um recurso para que fosse apreciado pelo plenário impediu que seguisse para a Câmara. Uma emenda apresentada pelo senador Sibá Machado (PT-AC) obrigou a volta do texto para a comissão. Ainda precisará ser votado no plenário do Senado e depois ir à Câmara. Como o projeto original fazia referência apenas a “templos”, sem especificar sua natureza, ao estender a eles os benefícios da Lei Rouanet, o senador Sibá considerou necessário acrescentar um adendo. A emenda, que teve o parecer favorável do senador Paulo Paim (PT-RS), foi aprovada pela Comissão de Educação e deixa mais claro que o Pronac poderá ser usado para contemplar não só museus, bibliotecas, arquivos e entidades culturais, como também “templos de qualquer natureza ou credo religioso”. A proposta agora segue novamente para o plenário, onde alguns senadores prometem reagir contra a idéia. Está mais do que na hora de as pessoas envolvidas e/ou preocupadas com a verdadeira cultura em nosso País, reagirem e tomarem uma providência.
Sincerely,
http://www.PetitionOnline.com/cult2007/petition.html
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Site Com Outros Trabalhos do Elifas Andreato
O artista sempre escolhe o que faz da sua arte. Ele decide a quem empresta seu talento, como usa os recursos incorporados ao trabalho pelo estudo e pela observação. Isso sempre foi assim. Há os que se desculpam pelos rumos tomados e os justificam pela pressão da sobrevivência. Outros se rendem sem dar satisfação, como se a função do artista fosse servir, não importa a quem.
Esta é a minha satisfação: minha arte se liga à história da minha vida, das vidas assemelhadas à minha, e serve para contar o que eu e pessoas semelhantes a mim entendemos, seja o mundo, a justiça e a liberdade. Assim deve ser entendida essa trajetória: ela é a soma das impressões fixadas no papel, ao longo de um caminho que começa no Paraná e que não sei onde termina. O que aprendi, como autodidata, coloquei a serviço do que acreditava e jamais traí minhas crenças nem as troquei pela melhor oferta.
A forma de expressar essa visão nasceu numa fábrica de Vila Anastácio, nas bobinas de papel de embrulho que, ao invés de embalarem fósforos, viravam cenários para os bailes no refeitório da empresa. Toda semana, os painéis de madeira entregues pela carpintaria eram revestidos dos meus sonhos e, na semana seguinte, já não existiam, tinham sido trocados para que os convidados tivessem a ilusão de passearem por outros cenários que em nada se parecessem com os lugares onde moravam ou trabalhavam. As idéias vinham de cartões postais, de revistas que eu folheava, nasciam do papel, ganhavam vida em outros papéis e desapareciam para que a imaginação pudesse viajar.
Mais tarde, enquanto aprendia nas reda-ções, vi os jornalistas multiplicarem suas reportagens e opiniões, das máquinas para as rotativas e depois para as bancas. Foi a lição mais importante das tantas que esses companheiros da criação me proporcionaram: o papel que era o suporte do trabalho original, único, servia igualmente para torná-lo acessível a milhares de pessoas. Aí eu soube que jamais faria quadros, que minha arte deveria alcançar todos os olhos e todas as sensibilidades, jamais se encerrar entre paredes. E o papel me permitiria a reprodução ilimitada do desenho. O que eu criasse, todos veriam.
Por isso, não cuidei apenas das cores, tratei de conhecer o papel, todos os papéis, travei com eles a amizade reverente de quem se desespera e se apaixona. Essa cumplicidade me deu tudo. A possibilidade de contar minha história através dos desenhos, as histórias que me contam ou me pedem para contar, registrar os dias e as noites deste país, as vitórias e as derrotas do povo, tudo contado em bom papel.
Por isso me pareceu tão certo e quase previsível contar estes vinte anos de impressões unindo-os a uma nova fábrica de papel, uma indústria que vai proporciona milhões e milhões de reproduções mundo afora. O que mais poderia querer da vida um sujeito simples, que fez do papel seu confidente, seu confessor, sua virtude e seu destino? Estas impressões, recheadas e enriquecidas pêlos tantos amigos queridos que decidiram compartilhá-las, são a arte final de muitos rascunhos que a vida me fez fazer. Elas são o meu papel neste mundo.
Elifas Andreato (Extraído do livro "Impressões", de Elifas Andreato - Editora Globo, 1996).
http://www.ibacbr.com.br/?dir=anoibac&pag=2006&opc=elifas
Gênio da Raça
IstoÉ, 2/9/1981
ZUENIR VENTURA
Histórias de Glauber Rocha, o artista das metáforas. De sua infância inquieta às turbulências políticas, do desencanto estético à morte patética, inexplicada
Quando subiu ao céu, no sábado, dia 22, Glauber Rocha com certeza terá gritado: "Foi um complô da CIA e da KGB. Me mataram, São Pedro!" Todos devem ter rido, como se ria sempre que o cineasta repetia acusações desse tipo. Ou quando garantia que ia morrer aos 42 anos. Ou quando advertia a mulher contra agosto, "mês das grandes tragédias brasileiras, vide Getúlio". Ou quando acreditou na abertura porque o ex-presidente Geisel era, como ele, protestante. Polêmico e escandaloso, Glauber, que filmava, escrevia e falava por metáfora, além de lançar nas telas as desvairadas, geniais imagens que costumava criar, podia ter visões ampliadas da realidade – o que, no cinema, lhe dava a merecida fama de gênio e, na vida, a lenda de louco.
Supersticioso e profético, Glauber Rocha mais uma vez pode ter enganado as aparências: morreu aos 42 anos, foi enterrado um dia antes do dia da morte de Vargas e dois dias após o aniversário de Golbery, o "gênio da raça", como dizia. E, ao que tudo indica, não há tanto absurdo no que teria dito a São Pedro. Se é improvável que tenha havido um complô, é possível que o cineasta tenha morrido em conseqüência de uma conjugação de imperícia e negligência médica. Glauber pode ter chegado ao Rio praticamente morto por falta de um tratamento adequado em Lisboa.
Ás 19 horas da última quinta-feira, dia 27, o médico Pedro Henrique de Paiva, que uma semana antes recebera Glauber desenganado, no Aeroporto do Galeão, reuniu uma centena de colegas na Clínica Bambina, no Rio, para formalizar uma denúncia: o relatório "estritamente confidencial" dos dois médicos que o trataram no Hospital CUF, de Lisboa, comprovaria que "houve imperícia, mais do que negligência", no tratamento de Glauber. Amigo do cineasta, e seu médico nos últimos quatro anos, Paiva baseou-se nos seguintes pontos:
Apesar de três dias de internação em Sintra e dezoito em Lisboa, com vários exames e radiografias feitas, "não houve formação de diagnóstico de certeza", isto é: não se soube nunca ao certo o que Glauber tinha. Foi tratado a princípio como tendo pericardite, depois tuberculoso, depois câncer. Enquanto isso, germinava um processo infeccioso que nos últimos cinco dias devastou o organismo do doente.
Glauber viajou doze horas sem acompanhamento de um médico – só de um enfermeiro – e, mais grave, sem tomar soro ou oxigênio. Ao chegar, às 7h20m de sexta-feira, dia 21, teve que ser levado para o posto de atendimento do próprio aeroporto, onde lhe foi aplicado soro e uma dose de cortisona. "Seus lábios eram uma crosta", informa Paiva. "Ele estava completamente desidratado. Se não aplicasse aquela medicação de emergência, ele não chegaria ao hospital – ou chegaria morto. Aliás, ele chegou ao aeroporto praticamente morto."
Parco em certezas médicas, o relatório dos médicos portugueses não economiza insinuações. Por exemplo: o agravamento da doença é atribuído à ingestão de drogas no hospital. Paiva acha que a alegação, classificada de "infamante" e "policial" pelos amigos do cineasta, pretende desviar a atenção do que importa. "Os médicos que o atenderam não conseguiram descobrir o que Glauber tinha".
Glauber deveria voltar ao Brasil na sexta-feira, dia 21, mas sua mulher, a colombiana Paula Gaetán, conseguiu antecipar de um dia o embarque. É ela quem conta: "Às 3 da tarde de quarta-feira, 19, cheguei ao hospital e vi o olhar de Glauber estranho, apagando, como se não estivesse me vendo. Resolvi que ele deveria vir naquela mesma noite. Telefonei para o cônsul Félix Faria, mas ele soube que o avião de quarta-feira não tinha os equipamentos médicos necessários. Marcou então a viagem para o dia seguinte, quinta. Os médicos continuavam insistindo em que ele deveria ficar lá porque faltavam ainda algumas análises, mas não conseguiam explicar aquele olhar estranho. Diziam que era 'prostração'. Quando pedi que viesse um médico conosco, disseram que não havia necessidade e indicaram um enfermeiro. Ninguém sabia que ele tinha septicemia".
Já no domingo anterior, dia 16, quando o cantor e compositor Fagner, que também se encontrava em Portugal, retornou ao Brasil, Paula tentou convencer Glauber a vir junto. "Mas ele estava muito feliz", conta ela. Tinha muitos projetos e convites: de Nova York, Londres, Escócia, San Sebastian, Biarritz e Marrocos. Entre os projetos estava um filme sobre Napoleão, através de uma leitura, se assim se pode dizer, de Lampião. Outro projeto era a ópera "O Guarani". "Ele pensava tirar todas as cadeiras do Municipal e fazer ali uma floresta cheia de índios. Fagner seria o Peri", diz Paula.
Da hora da chegada até a hora da "morte cerebral", às 4 horas madrugada de sábado, dia 22, Glauber não chegou a ter momentos de lucidez: teve apenas, como diz seu médico, "percepções de realidade". Gozou a elegância do produtor Luís Carlos Barreto. Estranhou quando Paula, para testar o seu grau de consciência, informou que Cacá Diegues estava com Nara Leão no quarto. "Mas se eles estão separados...", disse. E às 7 horas da noite, antes de entrar em coma, perguntou: "Pedro Henrique, eu vou morrer?" O médico mentiu.
A primeira providência de Paula Gaetán, viúva, foi recomendar que o caixão ficasse aberto. "Quero que todo mundo olhe o Glauber morto. Ele vai ser velado como um dos maiores homens do Brasil". (Depois ela me diria: "Vi muita gente olhando o corpo com grande complexo de culpa".) Outra recomendação transmitida por Cacá Diegues era que as coisas não se tornassem "morbidamente tristes". Não foram. Houve até momentos engraçados, como o início do enterro. Ao ver o caixão sendo levado por uma Kombi preta, fechada, Luís Carlos Barreto correu e gritou: " Pára aí, Glauber vai ficar p... da vida". Gustavo Dahl, outro dos numerosos cineastas presentes, apoiou: Deixa ele ir pegando sol". O caixão foi então passado para uma caminhonete aberta.
Nas 24 horas entre a morte e o enterro, três imagens impressionavam: a contida serenidade de Paula Gaetán, a mulher, a inconsolável dedicação de Norma Bengell, a atriz, e o dilaceramento desespero de Lúcia Andrade, a mãe – que orava, cantava e chorava o último dos seus três filhos. O velório de Glauber Rocha foi o derradeiro espetáculo dirigido por Glauber Rocha. Como num filme dele, tudo foi improvisado. O Museu de Arte Moderna, escolhido a princípio para a exposição do corpo, foi logo abandonado porque ia parecer reedição. Lá Glauber filmara, com grande escândalo para a família do morto, o seu premiado "Di", sobre o velório de Di Cavalcanti.
O Parque Lage, sugerido em seguida por Aloísio Magalhães, secretário da Cultura do Ministério da Educação, pareceu o lugar ideal. Ali Glauber filmara, em 1967, "Terra em transe", transformando o pátio interno neoclássico em Palácio Alecrim, sede do governo de um país chamado Eldorado. Na noite do velório o pátio virou cinema e até as 3 horas da madrugada pôde-se ver vários filmes de Glauber, inclusive uma incrível entrevista filmada. Na tela o Glauber vivo – incômodo, corajoso, provocador – girava a sua metralhadora contra tudo e todos: "Todos os diretores do Cinema Novo me traíram". Na platéia, chorando ou segurando o choro, encontravam-se todos os diretores do Cinema Novo. Atrás, a poucas metros, o Glauber morto, com uma serenidade no rosto jamais vista. Não havia dúvida: era tudo um filme de Glauber Rocha. Aquela confusão de ficção e realidade não podia existir de outra maneira.
Com a morte de Glauber, o Brasil perde o maior agitador cultural depois de Oswald de Andrade e possivelmente um gênio. Há um ano, quando seria mais fácil falar mal dele, houve um jantar na casa de Maria Clara Mariani, filha do banqueiro Clemente Mariani, em homenagem a Violeta Arraes, irmã do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes. Glauber não compareceu, mas foi servido como tema na mesa em que estavam Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gustavo Dahl, Hélio Pellegrino, Arnaldo Jabor. Discutiu-se, e na sobremesa saboreou-se um amplo e irrestrito acordo: se existia algum gênio no Brasil, ele era Glauber Rocha. "Ele é", proclamou Dahl, "maior que Villa-Lobos, maior que Portinari, só comparável ao Aleijadinho". Jabor completou: "Ele nos resgata a todos". Pellegrino surpreendeu: "Ele é um provocador. É um parteiro da verdade". Caetano apoiou. "Ele está certo. Quem tem que ser moderado é político. Até para que nós, artistas, possamos ser radicais". E no entanto, todos daquela mesa, como de resto de muitas outras onde se sentam intelectuais ou artistas, já tinham sido criticados, denunciados ou acusados publicamente por Glauber.
Já em fins da década de 50, quando Glauber ainda não tinha nenhum filme importante – seu primeiro longa-metragem, "Barravento", é de 1962 – e quando o Cinema Novo dava os primeiros passos, seu criador, Nelson Pereira dos Santos, dizia que o movimento na verdade não existia. "O Cinema Novo só existe quando o Glauber está no Rio." Daí até a morte, muitas coisas na cultura brasileira só existiram quando Glauber estava por perto. Com um filme como "Deus e o diabo na terra do sol", que está sempre entre os dez melhores de todos os tempos, numa seleção feita pelo Museu de Arte Moderna de Nova York, outro como "Terra em transe", que tem treze prêmios no estrangeiro, e um carisma que transformou em seus fãs monstros sagrados como Buñuel, Godard, Pasolini, Rosselini, Bertollucci, Orson Welles ou Fritz Lang, Glauber foi até a morte o nosso artista mais importante - e o mais irritante.
"Mantenho essa espécie de chama para não aceitar o conformismo como lei", justificava-se. E admitia que não queria que a razão interviesse. "É uma forma de liberar Deus e o Diabo ao mesmo tempo. Solto os meus demônios interiores para cima do mundo. Não quero que eles habitem em mim". Se essa língua solta ou – para usar o seu psicanalês – essa "desrepressão das pulsões interiores" pôde, no plano da arte, criar obras-primas, no plano da convivência política atraiu para ele mais inimigos à esquerda do que à direita.
Graças ao mais famoso de seus pronunciamentos – ou prenunciamento -, Glauber acrescentou à fama de louca a de profeta. Na área da cultura foi o primeiro a enxergar a luz no fim do túnel, como se dizia na época. Em 1974, ainda na Europa, mandou para mim, na revista "Visão", uma entrevista apostando na abertura do general Geisel, apoiando os militares e classificando o general Golbery de "gênio da raça", ao lado de Darcy Ribeiro. Quando recebi a carta-entrevista, relutei em publicá-la. Achei que Glauber estava realmente louco e ia ser linchado, politicamente. Foi Cacá Diegues quem me convenceu da publicação, contra a opinião dos que, muitos, achavam, para variar, que não era a hora.
As reações a essa declaração correram o mundo através de moções e manifestos de repúdio distribuídos em congressos e festivais internacionais. Em várias línguas, Glauber foi acusado de ter aderido ao sistema e ter-se vendido ao governo. Houve até quem anunciasse o preço: "O Jaguar", queixava-se Glauber, "chegou a publicar no 'Pasquim' que eu tinha recebido 6 milhões de cruzeiros do Ney Braga (então ministro da Educação) para filmar passeatas para a polícia". Darcy Ribeiro acha que, da mesma maneira que a esquerda brasileira foi incapaz de compreender a obra de Gilberto Freyre – "dez vezes mais importante do que a de Euclides da Cunha" – não teve sensibilidade para perceber que Glauber nunca foi um cínico. "Ele não tinha pele, só carne exposta."
Um dos exemplos dessa capacidade de sofrer fisicamente os males do país ocorreu quando morreu o ministro Petrônio Portella. Vendo na morte do articulador da abertura uma metáfora do fim da distensão, Glauber adoeceu. "Civicamente deprimido", como alegou, internou-se numa casa de repouso em Itatiaia durante duas semanas.
Apesar de dizer que seus filmes eram sempre de esquerda – "A esquerda sou eu", costumava gritar – suas relações com os comunistas oscilavam muito. O primeiro prêmio que recebeu, por "Barravento", foi da Checoslováquia, e um dos maiores elogios, por "Deus e o Diabo", foi de Che Guevara, que classificou o filme de "tão importante para a América Latina quanto o 'Dom Quixote' é para a Espanha". Em compensação, em 1964, esse mesmo filme, candidato mais forte ao grande prêmio do Festival de Cannes, perdeu para o saltitante "Guarda-chuva de Cherburgo". A escolha foi decidida pelo presidente do júri, um soviético que ficou chocado com a violência do filme, "muito subversivo".
Quatro anos depois, "Terra em transe" obteria um prêmio em Cannes, mas provocaria grande reação na esquerda carioca. O filme escapou das mãos da polícia, que tentou apreendê-lo, mas não das ferozes patrulhas culturais da época. Fernando Gabeira, em debate público, chegou a sugerir que o filme, por ser "fascista", fosse queimado, pois um personagem dizia que tinha "fome de absoluto". Glauber não tinha queixas de Gabeira por isso. Mas acusava o ex-guerrilheiro de, quando estava em Cuba, tê-lo denunciado ao governo de Fidel como maconheiro e de, em seguida, tê-lo convidado para uma expedição suicida ao Brasil.
"Chegamos a Havana às 3 horas da tarde", contava Glauber, "e às 7 da noite Marcos Medeiros e eu recebíamos no hotel a informação, trazida por um agente cubano, de que Gabeira, cujo codinome era Inácio e o apelido Gabería, tinha-nos entregado como maconheiros". Em seguida, e sem saber do vazamento da informação, Gabeira teria marcado um encontro para propor que Glauber voltasse ao Brasil para assaltar um banco. O cineasta levou um susto: "Essa não é a minha e, além do mais, eu seria morto". Glauber recordava que custou a compreender – até que Gabeira disse, com todas as letras: "É isso aí. A revolução precisa do cineasta Glauber Rocha morto".
Mas atenção. Como costumava advertir Darcy Ribeiro, lembrando o protestantismo de Glauber: "Ele é a Bíblia. Fala por profecia e por parábola. Não vamos interpretá-lo ao pé da letra". Paulo Emílio Salles Gomes, o mais respeitado teórico do Cinema Novo, não teve dúvidas em garantir: "Glauber Rocha é profeta alado. Profeta não tem obrigação de acertar, sua função é profetizar". Glauber não fez outra coisa. A pelo menos duas pessoas – a Paulo César Saraceni em 1961 e a Paula mais recentemente – ele avisou que morreria aos 42 anos de idade. Orlando Senna, um de seus grandes amigos, acha que "essa premonição era tão real que ele se preparou para isso: seu último livro é um testamento". Aliás, a mesma impressão teve Mário Carneiro, o diretor de fotografia de "Di". Quem conta é sua amiga Vivi Nabuco: "Há quatro meses, quando acabou de ler o livro, Mário me disse chorando: Glauber vai morrer".
São intermináveis as histórias de premonição em Glauber. Entretanto a declaração pela qual foi chamado de profeta não era uma premonição. Era do conhecimento de alguns dirigentes cubanos, se não do próprio Fidel Castro. E todos, inclusive o ex-guerrilheiro Régis Debray, teriam concordado com a sua análise que considerava irreversível a abertura política iniciada por Geisel. "Evitei contato pessoal com Fidel", dizia ele, "porque não queria assumir compromissos políticos, mas enviei-lhe um relatório em que explicava a complexidade do quadro brasileiro e o papel que estava reservado a Geisel. Acho que esse relatório contribuiu inclusive para a desmobilização guerrilheira".
Glauber nessa época custava 950 dólares ao governo cubano, que o convidara para realizar um documentário. Hospedado na suíte 1925 do Hotel Habana Libre, com regalias diplomáticas, o cineasta tinha à sua disposição uma grande biblioteca sobre o Brasil. Ali ele encontrou o livro "Geopolítica do Brasil", do general Golbery. "No começo não gostei", me contou ele, "mas logo depois percebi que havia uma questão lingüística: o que ali figurava como anticomunista não era uma crítica ao socialismo, mas ao modelo soviético. E mais: existia ali dentro um projeto de Brasil terceiro-mundista. Era uma carta de navegação para o futuro". Segundo Glauber, os cubanos a princípio ficaram surpresos, mas acabaram convencidos, o mesmo ocorrendo com Arraes e João Goulart. "Por isso", surpreendia-se, "é que não entendi a reação. Quando dei aquela declaração, achei que estava declarando o óbvio".
Quase sempre ampliadas por hipérboles, as imagens de Glauber costumavam ser encobertas por um humor que, quando levado a sério, produzia curiosos curtos-circuitos na comunicação. Antes de embarcar para Veneza, no ano passado, em cujo festival apresentaria "A idade da Terra", estava empenhado numa campanha de Constituinte com Figueiredo, "mas contanto que Figueiredo seja coroado imperador". Seu projeto político previa, além do mais, que a solução para o país só viria quando Golbery e Darcy, os dois "gênios da raça" da entrevista a "Visão", se juntassem: "Eles são a cara e a coroa do mesmo país. Falta ao Darcy a visão militar e ao Golbery a visão antropológica. Além do mais, os dois nomes terminam em y".
Uma piada, mas também uma crença. Glauber não brincava com coincidências. Em 1974, durante o movimento dos capitães portugueses, viajou 50 quilômetros à noite para consultar um vidente. Queria saber se o que estava acontecendo lá não poderia acontecer no Brasil. Mais recentemente, visitou, em Brasília, outra vidente, Tia Neiva, e os dois chegaram à conclusão de que Figueiredo estava montando pouco, daí a crise. "O cavalo de Figueiredo é diferente do Incitatus de Calígula, do Bucéfalo de Alexandre e do famoso cavalo branco de Napoleão", explicava Glauber. "Só ele é capaz de dar o salto tríplice que salvará o Brasil: o salto da saúde, da educação e do trabalho. Se ele der esse salto tríplice, será coroado imperador."
O maior cineasta brasileiro gostava mesmo era de política. Ele esperava fazer 50 anos (havia momentos em que acreditava poder chegar a essa idade) para se dedicar inteiramente à atividade político-partidária. "Se eu quisesse ganhar dinheiro, eu ia ser empresário ou me dedicaria inteiramente à indústria de comunicação", dizia. "Mas eu não quero ter as doenças da burguesia: senilidade sexual e câncer." Às vezes se lamentava por não ter sido lembrado: "É incrível como ninguém me descobriu para a política". Se vivo, ele se surpreenderia mais ao ver que políticos como Golbery, por quem tanto apanhou, não se lembraram de telegrafar lamentando a sua morte.
"A política e a poesia", disse um personagem, "são demais para um só homem". Ainda bem. Fica o poeta. Como ele mesmo costumava dizer, "vão se esquecer do Lênin, mas não do Maiakovski". Exatamente. Da mesma maneira como um dia, talvez, vão lembrar-se de Golbery como uma metáfora, ou melhor, como uma hipérbole do maior cineasta brasileiro – esse, sim, um gênio da raça.
Hoje
Hoje decidi sair de casa:
desmanchei o telhado
devolvi as telhas ao barro
em cacos
e poeira
repus o madeirame em toras
de replantadas árvores.
Derrubei as paredes expondo o ridículo
das portas e janelas. Quebrei os vidros
e amassei o alumínio.
No espaço obtido desfiz o sonho
da segurança. A rua incorporada
multiplicou a decisão.
Fora da casa permaneço
dentro
na ilusão da vida correlata.
(Pedro Du Bois, inédito)
meu blog:
http://www.globoonliners.com.br/icox.php?mdl=pagina&op=listar&usuario=5812
Não se perca de mim, não desapareça
NÃO SE PERCA DE MIM, NÃO DESAPAREÇA
Te quero às pressas, mas com luz forte e quente iluminando o espetáculo. Ver é bom, a dança a dois e às claras é bem melhor que o baile e suas máscaras, suas mesas reservadas, seus pais zelosos com as filhas em flor. Nada de joguinhos de sedução mal resolvidos, a vida é curta pra ficar dando a entender. Insinuação tem hora, e a hora é de saciedade. Reparar e curtir os defeitinhos do corpo revelados de manso, isso sim pode ser, mulher gosta dessas coisas. Mas só se for depois do crescei e multiplicai-vos. Saiamos do clube assim, jogando a roupa fora, afoitos para a luta corporal. Não temos retoque, somos tais e quais e isso é benção, a única maquiagem é um discreto contorno de lápis deixando seus olhos mais lindos pro mundo. Como se precisasse.
E tudo seria se você houvesse, mas você não havia. Não havia você nem baile a dois, só aquela horda de suados se acotovelando lá embaixo. Tão longe do ilusório onde você mandava e desmandava, tomada de empréstimo dos seres imaginários. Eu não só te dava forma mas compunha teu futuro. Acontecia de te fazer mãe de um monte de crianças minhas, como se a vida conjugal fosse o destino inescapável, sepultando a carne na rotina dos carnês. Casal de meia idade na matinê da província, levando os meninos de pirata e colombina, você trocando receita com a comadre Rose. Que tacanho.
O bloco dos monges sacanas, cordão berrando as marchinhas, em punho os lenços de lança. Você entra no banheiro das damas com uma amiga, quem sabe a futura comadre Rose. Então me enxerguei compadre do marido dela, que nem tenho idéia de quem poderá ser. Esgano com a serpentina essa possibilidade. Mais um trago de cerveja no gargalo.
Pode ser que você volte do banheiro, a maquiagem retocada e resolvida a me sufocar com um beijo e me oxigenar de vida, dando corda a esse improvável filme B de nós dois na minha cabeça. Como também pode ser que no caminho aqui pra arquibancada já tenha flertado com outro, e nesse outro projetado seus melhores e próximos anos, me deixando aqui até que surja uma odalisca que ninguém quis, implorando o calor que era pra você.
Há de sentar-se ao meu lado, o tule da fantasia roçando meu braço esquerdo. E perguntará por que eu tomo cerveja no gargalo, se existe copo pra isso.
Um frevo emendou na marchinha e me trouxe de volta, um pouco mais convicto de que tem mesmo alguém na supervisão lá em cima, ainda que manipulando a esmo as cordas dos marionetes, encontrando e desencontrando gente do jeito que der na telha.
Não digo que seja um deus, mas alguém acima da raça dos suados que se acotovelam. E que a uma hora dessas pode muito bem estar tomando cerveja no gargalo e dando nós nos fios que nos governam.
O DEBATE ENTRE OS CANDIDATOS A PREFEITO DE JUIZ DE FORA (TVE)
Laerte Braga
O mérito de qualquer debate é que não existe o teleprompter. Ou seja, aquele aparelho que se usa para ler o texto que se quer dizer e que se diz segundo as conveniências ditadas por pesquisas e maquiadas por marqueteiros. Vai daí que a candidata Margarida Salomão gagueja, muda de assunto, tem plano para tudo, mas não explica, se enrola como se enrolou na questão do aterro sanitário, já que falou apenas o que o eleitor quer ouvir, mas não diz como vai fazer, enfim, o candidato, todos, ao vivo e sem maquiagem. Muito pior, não fala o que de fato vai fazer. Esse é o problema.
Custódio Matos é um primor de cinismo e mentira. Primeiro exigiu direito de resposta a uma afirmação de Tarcísio Delgado sobre não ter pago décimo terceiro salário e salário de dezembro aos servidores públicos municipais no mês de dezembro de 1996. Disse que nos seus 48 meses de governo pagou sempre no último dia útil de cada mês. No direito de resposta disse que a lei dá o direito de pagar até o quinto dia útil de cada mês e que dezembro foi pago antes do quinto dia útil de janeiro de 1997, mas não explicou que o prefeito era outro e dinheiro não existia, teve que ser arranjado às pressas.
É típico de tucano, são amorais, não têm compromisso com nada. Quando fala
Ou ele mesmo, quando fala em educação sem ter feito uma única sala de aula nos seus quatro anos de governo?
Seria interessante que nesses debates a cada afirmação de cada candidato sobre determinado tema fosse mostrado o que fez quando no exercício de qualquer atividade pública. Custódio e Margarida iam ter que esconder embaixo da mesa. Falam A mas a verdade é B.
A ex-reitora falou em licitações para isso e aquilo, só que na Universidade ignorou leis sobre licitações, contratou indevidamente serviços, pagou a mais, teve as contas ressalvadas em várias irregularidades pelo Tribunal de Contas da União, enfim, se as licitações dela forem as que fez na Universidade a cidade está lascada.
Sai tudo pelo dobro do preço.
Impressiona a cara de pau do candidato tucano falando sobre Aécio. Putz! Mudaram o conceito de estadista e eu não sabia. Ainda em educação, os servidores do governo estadual, do qual ele foi secretário, terminaram agora uma greve em que mostraram ao povo de toda Minas que recebem salário de fome, não têm aumento, as escolas não recebem materiais adequados, enfim, o caos no setor, na saúde e ele lá chamando Aécio de estadista. Leva o troféu. Com certeza que leva. Pior, falou em valorização dos profissionais da educação. Isso é deboche e desrespeito aos trabalhadores da educação.
Ele deve achar que valorização é privatização, terceirização, é sociedade com Josemar, é contratação de firmas de tucanos para a saúde, deve ser, só pode.
O cara é um malabarista. E tudo com cara de inocente, de pobre coitado, de sofredor disposto ao “sacrifício” pelo povo. A cidade merece respeito.
A ex-reitora nem tem como explicar. Como escrevi, sem o teleprompter não sabe direito o que vai falar, aí gagueja, o marqueteiro não está perto, ou se está não pode interferir, retocar as palavras, moldar o produto e o resultado é que resolve tudo sem dizer como, mas resolve. Tem programa para tudo, agora o como fazer não explica. Deve ser milagrosa ou mágica.
Juiz de Fora tem que tomar cuidado, do contrário termina dia 5 de outubro com um novo Bejani, só que dessa vez com PhD, pois tanto um como a outra são doutores e pelo visto em tudo.
O Rato que Ruge
Laerte Braga
O grande dilema da mídia brasileira é ter que noticiar a morte do “deus” mercado como infalível e onipotente e a vitória do presidente do Equador, um país de pequenas dimensões territoriais na América do Sul, aprovando um projeto de constituição que transforma o Estado em principal agente institucional, econômico e de políticas sociais de transformações e mudanças em direção oposta ao “deus” morto.
O modelo neoliberal foi rejeitado na Venezuela, na Bolívia, no Equador, no Paraguai, no Uruguai e a vitória do presidente Rafael Corrêa no referendo de domingo tem um significado muito maior do que se possa imaginar e por isso faço alusão às dimensões territoriais do país.
Acontece no exato momento que os supremos sacerdotes do capitalismo neoliberal resolvem estatizar bancos, companhias de crédito e seguradoras, para evitar que os “fundamentos” do modelo explodam. Foi o ministro das Finanças da chamada “zona do euro”, Jean Claud Juncker, que chamou o modelo de “jogar cassino”, vale dizer, especular derrubando cotações dos bancos “uns atrás dos outros”.
Mesmo nos momentos de crise o sistema financeiro continua sobrevivendo na fraude.
“O que é um assalto a um banco diante de um banco?” Velha, surrada e repetida frase de Lenine. Sempiterna.
É um equívoco achar que vamos passar ao largo da crise. O governo Lula segurou com mais propriedade os “fundamentos” do “deus” mercado, adotou políticas sociais compensatórias com viés populista, mas o Banco Central do Brasil (em tese), sob a batuta do norte-americano Henry Meireles, revelou que o brasileiro vive os mais altos níveis de endividamento da história. As dívidas cresceram mais que os salários e os riscos de inadimplência são maiores agora que antes, quando o cassino fluía normalmente em sua artificialidade do modelo globalizado.
O crédito no País avançou 31,8% nos últimos doze meses, bateu recordes absolutos e chegou a 1,11 trilhão de reais. Foi recorde também na comparação com o PIB (Produto Interno Bruto). Um crescimento que saltou de 24% por cento em 2003, para 38% em 2008 e deve chegar a 40% no final do ano.
Toda essa linguagem típica dos especialistas sempre prontos a analisar a catástrofe terminando com o clássico “não há motivos para preocupação”, mostra a falência do modelo entre nós e a falácia da distribuição de renda mais eqüitativa no atual governo. PIB, crescimento de crédito são medidas capitalistas, neoliberais e refletem a morte do mercado absoluto.
Breve a distribuição de dívidas. Com um detalhe, o crédito cresce mais que a economia, ou seja, a produção de bens e riquezas. Logo...
O modelo aqui tem a chancela tucana de Fernando Henrique Vende (FHV). Vendeu todo o patrimônio público do País, comprometeu fundos de pensões de empresas estatais (lesando servidores) e anunciou o país do futuro naquela conversa fiada da primeira campanha, em 1994, os cinco dedos.
O que os países latino-americanos num espectro maior estão decidindo pela vontade popular é o oposto desse modelo. Não foi por outro motivo que observadores da própria Comunidade Européia divulgaram nota oficial em que atestam a “importância do referendo no Equador”.
O ser humano que nos Estados Unidos começa a viver em barracas (mais de 200 mil já perderam suas casas) e acampamentos na ordem divina de Bush, vira anônimo de si próprio, de seus valores intrínsecos se deixa transformar em robô de uma miragem da ilha do tesouro.
O capitalismo tem em si a capacidade de se regenerar na barbárie. Na estupidez da guerra do Iraque, do Afeganistão, nos golpes de estado contra governos populares e produtos da vontade popular, como tenta agora na Bolívia. Jipes de senhores de terras, bancos e empresas desfilam por Santa Cruz da
Não é o Estado mínimo. É o Estado privatizado. É diferente.
Um pequeno país, territorialmente, dá uma extraordinária lição de vitalidade e força na luta popular. Na busca de sua real identidade. A vitória do sim e conseqüente triunfo do governo Corrêa é a reafirmação que chega de neoliberalismo. Chega de tucanos e DEMemocratas, pragas que existem em todo o mundo e se fundamentam nos cassinos da exploração da classe trabalhadora.
Os equatorianos disseram sim à construção de uma identidade latina.
Aqui Miriam Leitão anda em polvorosa tentando explicar que a catedral não ruiu é apenas um abalo, um furacão, mas que tudo voltará ao lugar.
Volta não. O modelo está podre em tudo e por tudo. Só é preciso agora enterrá-lo como fizeram os equatorianos. E isso não passa pelo mundo de gilmar mendes. Nem de Daniel Dantas.
Passa pela percepção que as grandes tacadas criaram uma baita sinuca de bico. As pequenas também.
A lição do Equador lembra um filme sobre um pequeno país que ataca os Estados Unidos e ganha a guerra. Os equatorianos não invadiram país algum, pelo contrário, foram invadidos pelo narcoterrorismo colombiano. Mas ganharam a guerra da independência real.
O nome do filme produzido em 1959 é “The Mouse That Roared”, ou o rato que ruge”.
Notas sobre como parar o Bailout
Notes on how to stop the bailout
Here is an email that I received this morning from Larry McGuire regarding the proposed bailout of the Wall Street "banksters" and what we can do to stop it. It's a good example of the kind of activism that I think America and Americans need more of.Notes on how to stop the bailout:
1) Though there is talk to limit executive pay for CEO's whose companies
have accumulated toxic debt and want your tax dollars to buy that debt,
remember that for years these same executives have been paid millions a year
to package and sell and buy these debt products, and there is no plan to
make them pay back the money they made (stole). Also, just google any of
the names of the executives removed recently after the bailout of AIG, Fanny
Mae, etc. or the bankruptcies of Lehman Bros. etc., or the failure of
Washington Mutual. ALL those executives left with millions of dollars of
severance pay. If you are fired for doing a lousy job, do YOU expect to be
paid millions?
2) The best way to understand 'toxic debt' is to visualize it as a product
built to be sold, a financial widget. The banks created these products
(generally called 'collateralized debt obligations', CDO's) by bundling
together the MORTGAGE DEBT of ordinary people. So they created a faulty
product and sold it to people around the world, making millions in the
process, and kept some of this product themselves, and now the product is
worthless, nobody wants to buy it. Do you think if YOU made a faulty
product, a widget of some kind, which nobody wanted to buy, that the
government should step in and buy YOUR faulty product? Or do you think that
if you BOUGHT a faulty product (because you were greedy and wanted a high
profit margin by selling it on down the line), which you subsequently
realized was faulty and could not sell, that the goverment should BUY that
product from you?
3) Note the bipartisan support for giving away your tax dollars to
millionaire bankers. Note that the third party presidential candidates
(Ralph Nader, Independent candidate; Bob Barr, Libertarian; Cynthia
McKinney, Green;) and former presidential candidates such as Republican
Senator Ron Paul and Democratic Senator Dennis Kucinich are all AGANIST the
bailout. As many of us have been saying for years, there is no fundamental
difference between the Democrats and the Republicans at the leadership
level, BECAUSE THEY RECEIVE CAMPAIGN FUNDS FROM THE SAME RICH PEOPLE AND
CORPORATIONS. The bailout plan shows this clearly.
4) Note that they have already watered down the proposal, because they are
AFRAID of public opinion and AFRAID the voters will punish anyone who votes
for the bailout. If you want to STOP the bailout you must let your
representative know that you will NOT vote for anyone who supports the
bailout. You also need to spread the word to help build resistance. They
want to rush it through because they KNOW resistance is building very
quickly. Don't let the politicians and bankers get away with stealing your
money and your children's money (because the cost will escalate and must be
paid for years).
Various opinions criticising the bailout plan, and actions of resistance,
can be found at the following websites:
http://www.votenobailout.org/
http://housingpanic.blogspot.com/
http://www.freshaircleanpolitics.net/
www.counterpunch.org
http://www.informationclearinghouse.info/
http://www.lp.org/
http://www.gp.org/index.php
http://www.votenader.org/index.html
Um Curso On Line
A crítica deve ser vista como homenagem. Não é possível dominar a recepção dos textos que produzimos. Muita gente já foi estudada e não gostou. Cito dois nomes. Roberto Drummond fez uma prova de vestibular sobre um livro dele próprio e não acertou nada. Adélia Prado disse que uma pessoa ligou para ele dizendo: "Adélia, estou te ligando porque você cai". "Como assim, cai?" "Cai no vestibular". Ah!
http://escritaesociedade.wordpress.com/
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
O Musical do Bailout, na New Yorker: humor sobre a crise
Fragments from Bailout! The Musical
A wallet is on a desk. A DOLLAR BILL pokes his head out.
DOLLAR BILL:
Let me introduce myself
I’m a dollar bill
Once I was the source
Of unlimited goodwill
People all around the world
Thought I was fantastic
The planet ran on paper
Before it ran on plastic
But now trust in me
Has been badly eroded
Thanks to lousy credit
I’ve been overloaded
Next to him, a CREDIT CARD stirs.
CREDIT CARD:
I couldn’t help but overhear
And I have to say I’m shocked
Why the hell would you blame me
And not blame common stocks?
Wasn’t it the market
That fell down on the job
By appealing to the basest
Instincts of the mob?
A STOCK CERTIFICATE rises off the desk nearby and unfolds.
STOCK CERTIFICATE:
Do you really think
That this bad feeling and rancor
Ever would have happened
If not for the bankers?
They’re the ones who led us
Into rank overextension
The way that they have acted
Is beyond my comprehension
The DOLLAR BILL, the CREDIT CARD, and the STOCK CERTIFICATE squabble. The DOLLAR BILL raises his voice. The STOCK CERTIFICATE threatens the CREDIT CARD. Finally, a nearby CHECKBOOK speaks up.
CHECKBOOK:
All of you, stop. Will you, please?
I don’t want to see a fight
The truth is that you all are wrong
And also that you all are right
This fix we’re in, you see
Is unimaginably complex
Monies are all intertwined
Y regresses onto x
Lehman, Merrill, A.I.G.
No one knows a thing, you see
Let’s all relax. Let’s take a rest
The coolest heads can think the best
I have a film I want to show
O.K.?
DOLLAR BILL:
O.K.
CREDIT CARD:
O.K.
STOCK CERTIFICATE:
Let’s go
The CHECKBOOK pulls down a movie screen from the ceiling and, with the CREDIT CARD’s help, starts a projector. An image of Treasury Secretary HENRY PAULSON appears onscreen.
DOLLAR BILL:
Who’s the old guy?
He looks smart
CREDIT CARD:
Shh…the movie’s
About to start
HENRY PAULSON speaks.
HENRY PAULSON:
Come now, travel with me
Back to 2001
Remember the big boom?
That was an awful lot of fun
Alan Greenspan warned
About the bursting bubble
He lowered all the interest rates
To try to forestall trouble
That led in turn to a big run
On purchases of real estate
Offset falling stock prices
With property? It all seemed great
But then the subprime borrowers
Started to default
And our proud economy
Began to grind to a halt
The DOLLAR BILL snores.
CREDIT CARD:
What the hell?
The dollar’s snoring
DOLLAR:
Sorry, guys
This movie’s boring
JOHN MCCAIN appears onscreen.
CHECKBOOK:
It’s going to get exciting quick
That guy with white hair is a maverick
Onscreen, JOHN MCCAIN speaks.
JOHN MCCAIN:
I’m suspending my campaign
To focus on finance
This is a pressing, dire
Unprecedented circumstance
My friends, I want to tell you
I’ll work until the crisis ends
Nothing is more important
I hope you understand, my friends
The first debate must wait
The economy is failing
And sadly that will mean
Delaying Biden-Palin
BARACK OBAMA objects to the postponement.
BARACK OBAMA:
What? You’re kidding
You wouldn’t dare
I’m going down to Mississippi
I’ll expect to see you there
DOLLAR BILL:
I don’t get it at all
My friends? Mississippi?
This movie is weird,
It’s disjointed and trippy
The CHECKBOOK stops the projector.
STOCK CERTIFICATE:
Come on, man. Don’t stop the show
Dollar can’t shut up, you know
CHECKBOOK:
I won’t restart the projector
It’s off for the time being
I want to know that Dollar
Understand the things he’s seeing
DOLLAR BILL:
I understand—I’m sure I do
A financier once dropped a shoe
The second one was due for dropping
But in the meantime, he kept hopping
CHECKBOOK:
I have to say that I’m not sure
I understand your metaphor
CREDIT CARD:
This is insane
Let me explain
The CREDIT CARD turns to the DOLLAR BILL and speaks in a soft voice, trying not to lose his temper.
CREDIT CARD:
Ben Bernanke
Met a bank he
Didn’t like
Then another
And another
He called Mike
Bloomberg, and Bob Dole
Buffett, Nunn, and Volcker
Bernanke and Paulson then
Set up some very high-stakes poker
They bet that they could patch
The holes in the dike
With half a trillion dollars
And perhaps a small tax hike
They thought that now
Was the time to strike
Ben Bernanke
Met a bank he
Didn’t like
DOLLAR BILL:
O.K., O.K.
Let’s watch some more
I promise you
That I won’t snore
The CHECKBOOK restarts the movie. In it, President GEORGE W. BUSH is presiding over an emergency meeting.
GEORGE W. BUSH:
Let me start by saying
That I don’t understand
A single thing about
The Invisible Hand
Or rates, or banks, or credit
Or mortgages or loans
But I know where my big desk is
And how to use the phones
And that is why I’ve called you
Here this afternoon
We need to fix this problem
And we need to fix it soon
A panic now is creeping
Over city, state, and town
If money isn’t loosened up
This sucker could go down
The group turns to WARREN BUFFET for advice, since he is massively rich.
WARREN BUFFET:
This economic Pearl Harbor
Has cooled off investors’ ardor
Everything must be adjusted
We need some help or we’ll be busted
A $700 billion bailout is proposed. REPUBLICAN CONGRESSIONAL LEADERSHIP is displeased.
REPUBLICAN CONGRESSIONAL LEADERSHIP:
We remain staunchly defiant
Government can’t get too giant
Seven hundred billion is an awful lot to spend
When we don’t even know how deep the cracks extend
The Presidential candidates weigh in on the political implications of the crisis.
JOHN MCCAIN:
Party lines are unimportant
We need a united front
BARACK OBAMA:
So why’d you try to sink the debate?
It felt to some like a self-serving stunt
SARAH PALIN:
Look! It’s Russia, over there
Have I mentioned that I hunt?
A compromise is reached. HENRY PAULSON and BEN BERNANKE announce it.
HENRY PAULSON:
Our commitment to financial health
Will soon restore the nation’s wealth
BEN BERNANKE:
It should recover fairly briskly
If not you’ll find me in the whiskey
The film ends.
DOLLAR BILL:
Where’s the rest?
I want to see how it turns out
CHECKBOOK:
Well, it isn’t over yet
We’re in a time of fear and doubt
A major economic funk
DOLLAR BILL:
I have to say, that movie stunk
The DOLLAR BILL, the CREDIT CARD, the STOCK CERTIFICATE, and the CHECKBOOK decide to play cards instead. The DOLLAR BILL, surprisingly, wins most of the hands.
BUSH GOVERNA EM TERCEIRA DIMENSÃO. MAS SEM O ÓCULOS
Laerte Braga
Quando agentes do serviço secreto dos EUA deram a Bush a notícia que o World Trade Center havia sido atingido e o país estava “sob ataque de forças terroristas”, o presidente estava falando a crianças sobre suas experiências em seu tempo de estudante e com um livro às mãos.
O livro estava de cabeça para baixo.
O documentário “Fahrenheit – 11 de setembro” do cineasta Michel Moore mostra George Walker Bush paralisado e sem ter a menor idéia do que fazer e só dez minutos depois foi retirado do local pelos agentes que lá estavam, ainda sem esboçar a menor reação. Todas as providências possíveis de serem tomadas no caso já haviam sido postas em prática pelo vice-presidente Dick Chaney.
A primeira providência real de Bush foi tomada por seu pai também George e ex-presidente, em acordo com Chaney, de retirar familiares de bin Laden do território norte-americano antes de fechar os aeroportos. Foi o único vôo a decolar de aeroportos dos EUA. Os bin Laden são sócios da famíia Bush e Chaney é executivo de empresas do conglomerado a que a família Bush pertence.
Bush foi eleito numa fraude que o mundo inteiro tomou conhecimento. Perdeu nos votos do eleitorado, o voto popular e “ganhou” no chamado Colégio Eleitoral (cada estado dos EUA tem um peso proporcional ao número de eleitores), exatamente no estado da Flórida, governado por seu irmão Jeb Bush e num processo que se arrastou até a Suprema Corte. Lá ganhou por um voto, já que a maioria dos ministros era de origem republicana.
A reeleição gerou suspeitas que a fraude, o mesmo sistema usado na Flórida, se repetiu no estado de Ohio, mas aí a realidade política era diversa. O presidente tinha a seu favor a propaganda “antiterrorista” e o clima de comoção no país por conta da guerra do Iraque.
A decisão de invadir o Afeganistão e o Iraque, ambas, foram tomadas em cima de mentira. Contrariaram decisões das Nações Unidas e se revelaram prática da política imperialista dos EUA. Ao longo desses oito anos Bush cuidou de expandir o império em função dos interesses dos grupos que representa, o que Eisenhower chamou de “complexo industrial e militar”, os que gerem e determinam, ao lado dos bancos, para onde vai a biruta ianque.
Em intervenção recente no Senado, na Comissão de Assuntos Estratégicos, Hilary Clinton calou os republicanos ao questionar a presença de soldados e instrutores dos EUA na Geórgia, o que provocou uma reação russa fulminante e colocou a Europa debaixo de sérias ameaças, inclusive a de corte do gás fornecido pelos russos.
A chanceler da Alemanha não quer nem ouvir e nem conversar com Bush pois atribui a crise que atinge a Comunidade à irresponsabilidade do presidente norte-americano. A crise é dele, ele que se vire, foi mais ou menos o que disse a jornalistas.
Os Estados Unidos estão falidos. Quebrados. Bush governa como se estivesse num filme de terceira dimensão sem os óculos adequados.
Pelo menos treze bancos já foram à falência, mais de 200 mil pessoas perderam suas casas, a bolsa está com rombos cada vez maiores, o presidente não sabe para que lado vai, não tem a menor idéia de nada. Quebrou os negócios da família em tempos passados, agora quebrou o país (mas a família está salva). Os índices de desemprego começam a escalada vertiginosa que é típica do capitalismo. Fundos de pensões falidos não conseguirão honrar seus compromissos nessa conversa fiada de privatização (Lula quer privatizar por aqui algumas coisas) e Bush quer repartir a conta de mais de um trilhão de dólares, a curto prazo, repita-se, a curto prazo, com o resto do mundo.
Tem o médio e o longo prazos ainda. A real extensão do desastre provocado por George Walker Bush não é passível de previsão.
O dólar acabou como afirma o professor e economista Carlos Lessa. E Bush vai querer que esse dólar, agora ouro de tolos, seja pago por países como o Brasil, no equilibrismo do governo Lula que nem é e nem deixa de ser. Era previsível deste Breton Woods, tempos de Nixon.
Homer Simpson, o simpático e genial idiota da série Os Simpsons, típico cidadão norte-americano que acredita no McDonalds, num dos episódios recentes, ao ser informado sobre os donos do mundo, pergunta: “quem, os chineses?”
E nem é bom que George Walker Bush, a essa altura imerso em montanhas de cerveja e pretzel, seu esquema para crises, nem coloque o óculos para ver o filme como deve ser visto, do contrário vai se apavorar quando perceber que Wall Street está desmoronando e John Wayne não existe mais.
Por aqui é bom tomar cuidado. É nesses momentos que gente como Bush e o que ele representa costuma criar armas químicas e biológicas inexistentes e terroristas que ninguém sabe onde estão, para justificar golpes de estado (Bolívia, Venezuela, Equador, Paraguai) e mostrar-se ao mundo como campeão da democracia.
Se você pensa que o trem descarrilou só por lá, espere até a conta chegar nessa conversa fiada de privatização e globalização. E não adianta bater na porta de FHV (Fernando Henrique Vende), o principal responsável por isso por nossas bandas, pois ele não atende.
Bem fazia Churchill que enchia a cara, mas de uísque escocês, fumava charutos cubanos e dava em cima das secretárias, das garçonetes, das copeiras, das faxineiras, das condessas, duquesas, etc, de quebra chamava o almirantado de um “um bando de idiotas”, mas se agüentava e carregou a Grã Bretanha nas costas.
Ou, justiça seja feita, Stalin que ante a perplexidade de Kruschov quando da invasão alemã e depois de três ou quatro dias de porres seguidos, mandou o ucraniano calçar-lhe as botas e disparou: “bando de covardes, nem para aproveitar a chance e dar um golpe, me matar. Calce minhas botas que eu vou ganhar a guerra”.
E ganharam. Churchill e Stalin. Hitler era vegetariano.